O novo técnico do Flamengo irá estrear à beira do campo nesta quinta-feira (19), às 19h (horário de Brasília), diante do Cruzeiro no Mineirão. No clima da estreia de Tite, relembre como jogavam os melhores times que ele treinou.
Tite tem longa história no mundo do futebol, foi jogador e teve que encerrar sua carreira prematuramente devido uma série de lesões. Entretanto isso não o tirou do mundo futebolístico, um ano após sua aposentadoria o técnico gaúcho iniciou sua trajetória.
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Em meados de 1990, iniciou treinando o Guarany de Garibaldi. Treinou ainda diversos times gaúchos como o Veranópolis, ganhando a segunda divisão gaúcha em 1993, o 1º titulo de sua carreira. Posteriormente assumiu o Ypiranga e depois o Juventude.
Primeiro grande sucesso de Tite
Foi no Caxias onde o treinador conseguiu seu primeiro grande destaque, com uma incrível campanha que levou o clube ao título do Campeonato Gaúcho de 2000. Até aí Tite era um treinador com quase dez anos de carreira e com trabalhos em vários clubes do interior gaúcho.
Na final da competição o Caxias humilhou o Grêmio, de Ronaldinho Gaúcho, Anderson Polga e Zinho, na primeira partida da decisão. O time de Tite goleou por 3 a 0 no jogo ida, no Estádio Centenário. Os gols foram de Gil Baiano, Ivair e Márcio Hahn.
A tática do Caxias campeão gaúcho de 2000
O Caxias de Tite era marcado por ser um time muito ofensivo, o time jogava em um 4-4-2, de forma um pouco torta com um atacante de lado e um centralizado. Naquela final Tite entrou em campo com a seguinte escalação: Gilmar; Jairo Santos, Paulo Turra, Émerson, Sandro Neves; Titi, Ivair, Gil Baiano, Mauricio; Adão e Jajá.
Tite utilizava Jajá como este atacante de lado, para atacar o espaço com muita velocidade, e Jairo Santos também pela direita para apoiar. O volante Titi saia com qualidade de passe, Gil Baiano e Mauricio eram os meias mais adiantados que criavam oportunidades. Os três gols do time de Tite saíram pelo lado direito, em jogadas de Jairo Santos e Jajá.
Fato curioso é que o primeiro gol foi marcado por um jogador com receio de cabecear, Tite ao descobrir levou Gil Baiano para treinar as jogadas aéreas e perder o medo originado de um trauma. A estratégia deu certo e foi de cabeça que o Caxias abriu o placar.
Em entrevista, Tite explicou como parou o craque Ronaldinho: “Onde Ronaldinho pudesse se movimentar, mesmo que ele tivesse trocas ou caísse pela esquerda, nós fazíamos uma marcação curta, de encurtar o espaço, de fazer o enfrentamento de tirar a velocidade dele. Quem estivesse próximo, dobrava a marcação. Fazíamos o que eu chamo de marcação sanduíche”.
No jogo de volta, no Olímpico, o Caxias ergueu a taça após segurar o empate em 0 a 0, consolidando o trabalho de Tite, e iniciando de vez sua carreira como treinador.
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Grêmio e primeiro nacional de Tite
No ano seguinte que venceu com o Caxias, foi contratado pelo Grêmio. Em sua passagem no tricolor gaúcho Tite venceu o Campeonato gaúcho de 2001, e a Copa do Brasil batendo o Corinthians na final, time no qual posteriormente venceu o mundial e se tornou ídolo.
Adenor utilizou um 3-5-2 no Grêmio campeão em cima do Corinthians, de Vanderlei Luxemburgo. A escalação tinha: Danrlei; Marinho, Mauro Galvão e Ânderson Polga; Ânderson Lima, Eduardo Costa, Tinga, Zinho e Roger; Warley e Luis Mário. A conquista colocou o gaúcho de Caxias do Sul, definitivamente, na vitrine de técnicos do futebol nacional.
Buscando acertar a defesa, Tite passou a utilizar um 3-5-2, esquema que caracterizou a equipe durante toda a temporada. O bom funcionamento do Grêmio, em seu novo esquema, partiu de reposicionamentos realizados pelo técnico.
Além da presença de Polga na defesa, o lateral Roger passou a atuar como o zagueiro pela esquerda. Com liberdade para carregar a bola e se lançar pelo lado.
Inegavelmente o título se deu pela qualidade na linha de defesa armada por Tite, mas o ataque também tem mérito na conquista, para além de marcar gols os atacantes pressionavam a defesa, e junto aos alas que permaneciam próximos encaixotava o adversário.
Tinga, antes mais próximo do ataque, foi colocado no meio de campo, ao lado de Eduardo Costa e Zinho, que apesar de já ter seus 34 anos na época foi o artilheiro do Grêmio no ano, com 23 gols. O meia do utilizava de sua experiência e técnica para se sobressair diante dos adversários.
O título do Grêmio saiu após um placar agregado de 5-3, empate de 2 a 2 no Olímpico e 3 a 1 no Morumbi. No mesmo ano o Grêmio teve bom desempenho no Brasileirão, mas parou nas quartas de final.
Passagens de menor destaque e primeira pelo Corinthians
Em 2003, após péssimo momento, Tite deixou o Grêmio. Posteriormente o treinador assumiu o São Caetano ficando pouco mais de 6 meses, sua demissão foi um baque, mas Tite leva os créditos por ter montado o time que viria a ser campeão paulista em 2004, com Muricy Ramalho, além da classificação para a libertadores.
Poucos meses após sair do São Caetano, assumiu o Corinthians pela primeira vez, salvando o time do rebaixamento. Mas, no ano seguinte, pediu demissão após conflitos com Kia Joorabchian, que não acreditava que Tite fosse o técnico ideal e tentou interferir na maneira de comandar e escalar a equipe.
Em 2006, Tite tem mais uma pequena passagem, dessa vez pelo Atlético Mineiro, que trocaria de técnico mais duas vezes após Adenor e terminaria rebaixado.
Após quase um ano sem treinar time nenhum, Tite assume o Palmeiras, pegando o time na zona do rebaixamento, utilizando o período da Copa de 2006 para impor a sua filosofia no time, que melhorou significativamente.
Entretanto, após derrota para o Santa Cruz, em setembro, foi alvo de críticas do diretor de futebol Salvador Hugo Palaia, que o mandou “calar a boca”. O que levou o técnico a pedir demissão horas depois do episódio.
No fim de 2007, foi contratado pelo Al Ain, dos Emirados Árabes, mas após seis meses foi demitido por não concordar com o pedido dos dirigentes para relacionar um jogador da seleção do país.
Internacional de Tite e seu primeiro título continental
Em 12 de junho de 2008, o Internacional anunciou a contratação de Tite. Contratação que foi contestada por grande parte da torcida colorada, devido ao sucesso dele no arquirrival Grêmio.
Com os resultados e as boas atuações, principalmente na Copa Sul-Americana, o treinador começou a ganhar a confiança dos dirigentes. Para a torcida, uma das maiores provas veio com a goleada de 4 a 1 sobre o Grêmio e queda do rival da liderança do Brasileirão daquele ano.
Tite venceu a Sul-Americana de 2008, além do Gauchão e a Copa Suruga em 2009.
Tática do campeão da Sul-Americana de 2008
No Inter Tite utilizou o 4-4-2, que tinha um time bem forte defensivamente, mas um meio-campo de muita movimentação, contando ainda com a habilidade do camisa 10, D’Alessandro, que sabia criar espaços e sempre tirava um coelho da cartola.
A linha defensiva era formada por Bolivar, Indio, Alvaro e Kleber, com um fato curioso nas quartas da Sul-Americana. Após vitória de 2 a 0 na ida, Tite propôs uma mudança tática. Transformou Bolívar em lateral-direito. “O Boca era um time que usava muito a bola aérea. Jogamos com quatro zagueiros, o que na Europa se usa muito hoje. Ele ter essa visão já em 2008 é algo marcante. Foi uma demonstração de personalidade”, destacou Bolívar em entrevista.
Com um meio-campo postado com um tradicional losango, e o volante Sandro saindo em velocidade na transição. Além dele, Guiñazu e Magrão ajudavam a dar combatividade pelo meio. No ataque, muita velocidade com Taison ou Alex e Nilmar.
Tite faturou a Sul-Americana após vencer a ida por 1 a 0 e entrou para a história na noite de 3 de dezembro de 2008, no Beira-Rio, o Estudiantes venceu no tempo normal, mas o gol de Nilmar, na prorrogação, garantiu o título que faltava para os colorados se denominarem “Campeões de Tudo”, sendo o único clube com essa alcunha até o São Paulo vencer a Copa do Brasil deste ano, sobre o Fla.
Saiu do Inter após maus resultados, sendo a última vez que foi demitido em sua carreira.
O Corinthians de Tite e a conquista do Mundial
Em 31 de agosto de 2010, Tite assume o Al-Wahda, dos Emirados Árabes. Mas com a demissão do técnico Adílson Batista, do Corinthians, Tite acertou o seu contrato com o clube paulista em 15 de outubro de 2010. Comandou o clube dos Emirados Árabes em cinco partidas e partiu para sua segunda passagem no Corinthians.
Finalmente, o último clube que Tite treinou antes de assumir a seleção brasileira em 15 de junho de 2016.
Em 2012, Tite armava o Corinthians em um 4-4-2 na fase ofensiva e se destacou pela forte intensidade com e sem bola. A equipe não fazia muita questão de manter a posse e tentava acelerar sempre que roubava a bola do adversário, principalmente com Emerson Sheik e Jorge Henrique, que atuavam abertos pelos lado do campo.
A equipe montada por Tite era muito eficiente em interceptar passes. Com isso, a equipe conseguia machucar muito os adversários. Apesar do foco ser a intensidade na marcação e saídas rápidas, o time não entregava a bola ao adversário.
O título do Brasileiro com o Corinthians em 2015 é o exemplo perfeito. A equipe somou 81 pontos ao venceu 24 jogos, empatar cinco e perder nove. Além disso, terminou a competição com saldo positivo de 40 gols: 71 marcados e 31 sofridos.
Apesar da média baixa de posse de bola, 51%, o Corinthians foi o terceiro time que mais trocou passes no torneio (431), teve a melhor média de finalizações certas por jogo (5,5) e terminou a competição com melhor índice de eficiência ao precisar de 6,3 chutes para marcar.
Tática de Tite na final do Mundial em 2012
Após vencer o Al-Ahly do Egito por 1 a 0, o Corinthians de Tite iria enfrentar o Chelsea campeão da Champions League.
Tite estudou as fragilidades do Chelsea para ser campeão, foi a campo com Cássio, Alessandro, Chicão, Paulo André e Fabio Santos; Ralf, Paulinho, Jorge Henrique, Danilo; Emerson Sheik e Paolo Guerrero. Inicialmente um 4-2-3-1, que passou a ser um 4-4-2 no decorrer do jogo.
“A fragilidade da equipe do Chelsea estava à frente de seus dois zagueiros, Cahill e David Luiz, e às costas de Lampard e Ramires. Ramires não é um jogador posicional. Ele é um jogador de mobilidade e condutor. O que é posicional? Ralf, Casemiro. O Chelsea não tinha esse jogador para fechar e preencher esse espaço central. Esse era o ponto vulnerável onde iríamos atacar a equipe do Chelsea. Era por dentro“, explicou o próprio Tite ao analisar a final.
Quando o Corinthians atacava, mantinha sua linha defensiva média para não gerar espaços de contra-ataque para o Chelsea. Uma defesa muito compactada com objetivo principal de não permitir com que as bolas entrassem pelo centro.
O gol sai após um lançamento do Chelsea, o Corinthians recupera a bola rapidamente em transição ofensiva, característica da equipe, e em cruzamento treinado por Tite, a bola chega em Paulinho, que passa para Danilo, que chuta gerando um rebote, para Guerrero que bem posicionado marcou o gol do título.
Em contrapartida, o técnico citou seu único erro, a entrada de Wallace, para formar uma linha de cinco e segurar o resultado. Porém a entrada de mais um zagueiro descoordenou os movimentos defensivos, e permitiu que Fernando Torres marcasse um gol que foi anulado pela arbitragem.