O sorteio da Taça Libertadores da América de 2017 definiu que o primeiro adversário do Flamengo será o argentino San Lorenzo. O MRN faz um raio-X do clube que de 2013 para cá ficou conhecido como "time do Papa".
Histórico
O San Lorenzo é tradicionalmente conhecido como um dos "cinco grandes" do futebol argentino. Segundo as pesquisas, é dono da quarta maior torcida do país, com cerca de 5% das preferências - atrás de Boca, River e Independiente. Em sua história, o time tem 12 títulos argentinos, mas apenas três deles vieram neste século: em 2001, 2007 e 2013. O grande orgulho dos torcedores do Ciclón, como é conhecido o clube, é ser o único grande argentino que tem vantagem no histórico de confrontos contra o Boca: são 74 vitórias do San Lorenzo contra 64 do adversário.
Durante muito tempo, porém, os rivais do San Lorenzo tiravam sarro com o clube por ser o único grande argentino a não ter uma taça da Libertadores. As iniciais CASLA, de Club Atlético San Lorenzo de Almagro, eram usadas de forma jocosa pelos rivais como sigla para Club Argentino sin Libertadores de América. Essa história mudou em 2014 - curiosamente a primeira Libertadores disputada pelo clube desde que o seu célebre torcedor Jorge Mario Bergoglio se tornasse no ano anterior o Papa Francisco, o primeiro argentino a ocupar o cargo. O time comandado por Edgardo Bauza, atual técnico da seleção argentina, derrotou na final o pequeno Nacional, do Paraguai.
Depois do título, porém, o San Lorenzo retomou a rotina de fracassos na Libertadores, não passando da fase de grupos nas duas últimas edições. Veja o retrospecto completo do San Lorenzo na principal competição continental:
A temporada
Em 2016, o Campeonato Argentino teve uma fórmula diferente no primeiro semestre para promover uma readequação do calendário argentino ao europeu. Assim, 30 equipes foram divididas em dois grupos de 15, com as primeira equipes de cada grupo avançando à final. O San Lorenzo foi o primeiro colocado no grupo A, garantindo a vaga na decisão contra o Lanús. O resultado do confronto decisivo, porém, não podia ser pior. O San Lorenzo foi atropelado pelo pequeno time da Grande Buenos Aires, que conquistou o segundo título argentino de sua história com uma goleada por 4x0. O vice-campeonato, porém, classificou o San Lorenzo para a disputa da sua quarta Libertadores consecutiva - um feito inédito na história do clube.
Na Libertadores, porém, o desempenho foi pífio. O San Lorenzo não ganhou nenhum dos seis jogos contra Toluca, Grêmio e LDU. Foram quatro empates, incluindo três igualdades em 1x1 em casa, e duas derrotas fora para LDU e Toluca. O resultado: terceiro lugar e eliminação na primeira fase pelo segundo ano consecutivo.
Na Sul-Americana - até este ano times argentinos podiam jogar as duas competições na mesma temporada - o desempenho foi melhor. O San Lorenzo eliminou o Banfield no confronto local, depois passou pelo venezuelano La Guaira e nas quartas superou o Palestino, do Chile, que havia desclassificado o Flamengo na fase anterior. Na semifinal, porém, o San Lorenzo não conseguiu passar pela Chapecoense, empatando em casa por 1x1 e fora por 0x0, com a defesa fantástica de Danilo no último lance. Depois da tragédia com o voo da Chapecoense em Medellín, o zagueiro Marcos Angeleri expôs remorso por ter desperdiçado o lance: "São coisas do destino que muitas vezes não entendemos. Gostaria de poder voltar atrás e mudar o que aconteceu".
No atual Campeonato Argentino, ainda em andamento, o San Lorenzo é atualmente o terceiro colocado, com 28 pontos em 14 jogos, três atrás do líder Boca. É a melhor campanha entre os times argentinos que jogam a próxima Libertadores, já que, além do Boca, o atual vice-líder Newell`s Old Boys também não estará na competição sul-americana. Apesar de o torneio só terminar em maio, os clubes terão férias normalmente nesta época do ano, e a competição só recomeça em 5 de fevereiro.
Elenco
O San Lorenzo é atualmente treinado pelo uruguaio Diego Aguirre, que recentemente teve passagens pelo comando do Internacional, a quem levou à semifinal da Libertadores em 2015, e do Atlético-MG. O goleiro Sebastián Torrico, e os meias Juan Mercier, Leandro Romagnoli e Néstor Ortigoza - todos com mais de 32 anos - são os remanescentes do time titular da conquista da Libertadores, em 2014. O meia Fernando Belluschi, que chegou ainda em 2014 para a disputa do Mundial, que o San Lorenzo perdeu para o Real Madrid, na vaga de Ignacio Piatti, destaque daquele time, mostrou ser homem de confiança de Bauza - apesar dos 33 anos completos em setembro, foi convocado pelo técnico da seleção argentina para os confrontosn contra Brasil e Colômbia, em novembro - Belluschi não era chamado para a seleção desde 2008.
Além dele, o paraguaio Ortigoza, o zagueiro chileno Paulo Díaz e o lateral uruguaio Mathias Corujo também são presenças constantes em suas seleções. O jogador mais talentoso, porém, talvez seja o meia Sebastián Blanco, que chegou a ter a possibilidade de contratação avaliada pelo Flamengo no meio do ano, antes da chegada de Diego. Na frente, os gols ficam a cargo do uruguaio Martín Cauteruccio, que marcou 17 vezes em 43 jogos no ano - marca similar a de Paolo Guerrero no Flamengo.
Estádio
O San Lorenzo manda suas partidas no Nuevo Gasómetro, estádio com capacidada para 48 mil pessoas inaugurado em 1993 e construído com dinheiro da torcida, que pagava um extra no período em que o time ficou sem estádio depois que foi forçado a vender o Gasómetro original para pagar dívidas na pior fase da história do clube, o início dos anos 1980, quando foi rebaixado pela única vez para a Segunda Divisão argentina. Em 2015, o clube conseguiu readquirir o terreno do supermercado Carrefour, e iniciou este ano a construção de um "novo velho" Gasômetro. O plano do clube é voltar a seu palco original em 2019.
Confrontos na história
Flamengo e San Lorenzo nunca se enfrentaram na Libertadores, mas têm no passado um duelo de amarga memória para o Mais Querido: a final da Copa Mercosul de 2001. O jogo decisivo, na realidade, foi realizado em janeiro de 2002, pois na data original a Argentina vivia a turbulenta semana em que teve três presidentes após a renúncia de Fernando de la Rúa. O primeiro jogo no Maracanã terminou em 0x0 e com a expulsão do atacante Edílson - que acabou deixando o clube após se desentender com o presidente Edmundo Santos Silva por conta do episódio. No jogo de volta, empate em 1x1 no tempo normal, mas como não havia critério de gol marcado fora de casa como desempate na decisão, o título foi definido nos pênaltis. O zagueiro Juan, atualmente de volta ao elenco, desperdiçou sua cobrança, assim como o lateral Cássio e o atacante Roma, e o Flamengo teve que se contentar com o vice-campeonato. Foi o primeiro título internacional do San Lorenzo, na última edição da competição vencida pelo Flamengo em 1999.
Na primeira fase, San Lorenzo e Flamengo tinham sido do mesmo grupo, e o Flamengo havia vencido os dois confrontos. Curiosamente, então, o Flamengo perdeu um título para o San Lorenzo apesar de nunca ter perdido uma partida oficial para o clube. Os clubes também já se enfrentaram em sete amistosos entre 1940 e 1969, com duas vitórias do Flamengo, três do San Lorenzo e dois empates.
Recentemente, o Flamengo sofreu outra "derrota" para o San Lorenzo, desta vez fora de campo, ou de quadra. O americano Jerome Meynsse, ídolo do basquete rubro-negro e fenômeno nas redes sociais, foi jogar no clube argentino.