João Luis Jr: Quando tudo falha, ao menos a base resolve

09/06/2023, 10:44
Crias da base do Flamengo, Wesley, Matheus França e Matheus Gonçalves comemoram gol de estreia do lateral

E daí que você tem um Flamengo vindo de dois bons jogos. Um clássico contra o Fluminense, onde a inspiração falhou mas a raça venceu, com um ataque não tão fértil mas uma defesa perfeita, e outro clássico, diante do Vasco, onde a defesa nem teve que se destacar porque o ataque precisou de apenas 45 minutos para decidir a partida. 

Qual a sua expectativa então, ainda mais se tratando de um jogo decisivo para a equipe na Libertadores da América? Um Flamengo que desse mais um passo nesse processo de evolução? Uma equipe que avançasse rumo a ainda mais solidez defensiva? Um Rubro-Negro que repetisse o mesmo desempenho ofensivo? Ou melhor ainda, um Flamengo que aprendesse as lições das duas partidas anteriores e aliasse uma defesa sólida com um ataque ousado e eficiente?

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Bem, se era isso que você achava que iria acontecer, só nos resta, repetindo as palavras de um sábio motorista de van, te dizer “achou errado, otário”.

Porque o que se viu na noite dessa quinta-feira (8) foi, num certo grau, uma verdadeira terapia coletiva de regressão, em que, sem precisar de hipnose, música relaxante ou mentalização, o Flamengo pareceu ignorar absolutamente tudo que parecia ter acontecido de evolução nas partidas anteriores  e retornar aos níveis de esportivos de 5 ou 6 partidas atrás.

O Flamengo não criava. A posse de bola estava lá, o talento era latente, com Arrasca e Everton, mas as chances apenas não apareciam, com muito toque de bola e pouca armação, isso sem contar os momentos em que a equipe do Racing apenas mandava na partida e você se perguntava quem realmente tinha o mando de campo.

E o Flamengo não marcava tão bem assim. Com uma defesa especializada em deixar espaços e diversos momentos de desconcentração injustificáveis, o Flamengo conseguiu sofrer um gol do Racing numa jogada que causava até a sensação de que os argentinos tinham um jogador a mais em campo, dado o nível de solidão com  que convivia o jogar responsável pelo chute.

Mas o Flamengo tem a base. E por mais que às vezes se duvide, por mais que se critique, por mais que se questione, é inegável que a base, quando você precisa, aparece.

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Primeiro com Wesley, um garoto de 19 anos que entrou nessa verdadeira fogueira de Schrödinger que é a lateral-direita do Flamengo (por um lado a pressão é imensa, mas por outro lado o referencial recente é muito baixo) e não apenas atuou de maneira sólida como ainda deixou seu gol.

Victor Hugo, cria da base do Flamengo comemora gol
Foto: Wagner Meier/Getty Images

E depois com Victor Hugo, que entrou num time que parecia legalmente proibido de chutar a gol e, dando aquele que talvez tenha sido nosso primeiro chute decente no segundo tempo, decidiu a partida.

Uma partida irregular, uma partida confusa, uma partida que não representou, de maneira alguma, a evolução que o time parecia estar vivendo nos últimos jogos. Mas uma partida que significou um passo importante para a classificação na Libertadores, uma partida onde saímos com os três pontos.

E ainda que exista muito a melhorar. Seja no ataque, seja na defesa, ou na capacidade de coordenar ataque e defesa. Ao menos fica, além dos três pontos, o lembrete de que é em casa que o Flamengo faz craques. E são exatamente esses garotos que acabam nos salvando quando mais precisamos. Mas seria bem melhor, talvez, não precisar tanto.