Pula uma casa e entra no 3: uma análise do Flamengo de Jorge Jesus após espanto de Everton Silva

13/07/2020, 19:15
jorge jesus analise flamengo

Frases como “Pula uma casa” e “Entra no 3” são ditas pelos atletas do Fla em campo – nomenclaturas incomuns no cotidiano do futebol nacional

Blog Observatório Rubro-Negro | Caio Alves – Twitter: @CaioAlves

O Flamengo vem sendo, desde a chegada de Jorge Jesus, referência nas análises. Para além dos resultados, a equipe encanta pelo desempenho. Mas um jogador do Boavista revelou uma característica intrigante sobre os métodos do treinador. A conexão entre a “Zona 14” e o português.

No dia 1º de julho, o Flamengo venceu o Boavista pelo placar de 2×0. Pela discrepância entre as equipes, o resultado foi tímido, ao contrário do desempenho. O grupo de Jorge Jesus mostrou mais do mesmo: destaques individuais, disciplina tática e um entrosamento descomunal.

Um dia depois da partida, surge um áudio de Everton Silva, jogador do Boavista, publicado inicialmente pelo jornalista Venê Casagrande. Nele, o atleta, que curiosamente passou pelo Flamengo, em 2009, endeusou o adversário e contou detalhes jamais revelados anteriormente.

Veja também: Com novas ideias táticas, Jorge Jesus apresenta um Flamengo ainda mais forte em 2020

Frases como “Pula uma casa” e “Entra no 3” foram ditas pelos atletas do Flamengo e reproduzidas pelo jogador do Boavista. Além dos elogios, causou intriga os termos utilizados pelos rubro-negros, sobretudo por se tratar de nomenclaturas incomuns no cotidiano do futebol nacional.

Não tenho conhecimento sobre todos os métodos de treinamento, mas esses termos não são ferramentas novas para Jesus. Pode parecer proposital, para confundir o rival, e talvez até seja, mas a verdade é que tais nomenclaturas são comumente ouvidas em Portugal e em toda a Europa.

O “Zona 14” tem esse nome porque, ao dividir os setores, o 14º quadrado sempre será o de frente para o gol, sendo, assim, o mais privilegiado. É estatisticamente comprovado que gols e passes-chave surgem em maior quantidade e melhor qualidade nessa região do campo.

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Especialistas analisam o assunto desde 1998, mas a Universidade John Moore, de Liverpool, acentuou os estudos. A França, na Eurocopa de 2000, foi observada, e concluíram que 81,3% das assistências foram dadas na zona. Ademais, 80% das bolas recuperadas na região eram rematadas.

Jogadores como Steven Gerrard, Zinédine Zidane, Andrés Iniesta e Xavi Hernández eram homens que estavam sempre presentes na zona 14, além do ótimo aproveitamento, respectivamente. Os times de Pep Guardiola são treinados para habitar a frente da área justamente por este motivo.

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Em 2016, quando ainda treinava o México, o técnico Juan Carlos Osorio, ex-São Paulo e atualmente no Atlético Nacional, disse: “Quando falamos da zona 14, é importante ter um jogador nela. Muitos preferem ter um segundo-atacante, nós preferimos ter um meio-campista de chegada”.

Nos últimos anos, a “Zona 14” passou a ser chamada de “Zona Messi”. O motivo é simples e costumamos ver semanalmente: é comum ver o argentino marcar gols ou dar passes cortando para o meio. Absolutamente ninguém é mais fatal que ele. Ocorre algo parecido com De Bruyne e Neymar.

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Mesmo sem explicitar, muitos técnicos, até mesmo no Brasil, como André Jardine, Fernando Diniz e Roger Machado, conhecem a Zona 14. No caso de Jesus, a palavra “setor”, que estamos acostumados, foi substituída por “casa”, seja para confundir ou proporcionar melhor entendimento.

Jornalistas e analistas de Portugal, que conhecem ainda mais o trabalho de Jorge Jesus, me disseram que é algo natural e já praticado pelo técnico do Flamengo. De qualquer forma, é sempre positivo que debates sobre o jogo em si surjam. Desta vez, causado pelo próprio adversário.


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Notícia e opinião de qualidade sobre o Flamengo desde janeiro de 2015