
A histórica vitória do Flamengo sobre o Chelsea por 3X1 evidencia a imprevisibilidade do Futebol?
Sim e não. Sim, pois poucos ousariam prever que o Rubro-Negro colocaria os ingleses na roda de forma tão contundente. Afinal, eles gastaram o equivalente a 10 bilhões de reais neste elenco, considerado o mais caro da Europa, em termo de transferências, segundo relatório da UEFA. E não, em razão da imprevisibilidade do Futebol, que o torna tão empolgante e belo.
➕ Bruno Henrique deixa de lado provocações alemãs
Evidentemente, um clube que tem finanças saudáveis, investimentos certeiros, profissionalismo e uma boa estrutura, tem muito mais potencial para se destacar, vide os times vencedores dos últimos anos no Brasil. Mas o tamanho deste investimento não é tudo. E voltamos ao emblemático 3x1.
SPA/MF Nº 2.100 | Jogue com responsabilidade +18 | Conteúdo Comercial | Aplicam-se os Termos e Condições.Layout intuitivo
Está dicotomia entre ponderável e imponderável também permeia o estudo diacrônico das sociedades. Após mais de trinta anos estudando os movimentos sociais, vejo que em muitos aspectos a história se repete, por mais que haja uma evolução da humanidade.
A diferença é que hoje certos comportamentos, outrora considerados “normais”, chocam. Entretanto, eles não somente continuam presentes, como podem fazer parte de políticas públicas. E enfraquecer o Futebol como agente transformador.
Por isso, precisamos falar do Trump. Não tem como ignorar. Até porque não se trata apenas do Mundial de Clubes. Mas também do Mundial de 2026, onde a maioria dos jogos será nos Estados Unidos.
Um dos temas mais importantes da FIFA, o combate ao racismo, praticamente sumiu dos jogos, telões, faixas, propagandas. Ficou apenas a frase “o Futebol une o mundo”.
Não é coincidência. É alinhamento e/ou submissão ao governo Trump que assinou inúmeros decretos atingindo escolas e instituições públicas que ensinam matérias sobre o racismo estrutural.
Segundo o Presidente, a história americana não pode ser concebida como inerentemente racista, sexista ou opressora. Ele nomeia essa concepção da história de anti-americana, pois promove a divisão do país, quando na realidade são os brancos os grandes discriminados (políticas de diversidade criariam privilégios indevidos e a igualdade de oportunidades deveria ser baseada no mérito).
Leia também da mesma autora: Todo dia é Dia Internacional de Combate ao Racismo
Antiracismo, negro, diversidade, inclusão, equidade, acessibilidade, ativismo, crise climática, mulheres e feminismo, são alguns dos 200 termos que foram listados e “desencorajados” pelo governo Trump para os órgãos federais segundo o New York Times.
Resumindo, o governo Trump é negacionista. Portanto, não pode haver campanhas combatendo o racismo. Apenas a palavra discriminação é aceita, já que existe a convicção de que brancos são discriminados.
Eis a razão do sumiço das ações combatendo o racismo por parte da FIFA neste Mundial de Clubes.
Obviamente, a FIFA não tinha como prever anos atrás, quando os Estados Unidos (junto ao México e o Canadá) foram escolhidos para sediar o Mundial de 2026, que Trump seria o Presidente e que ele difundiria medidas negacionistas. Lembrando que o local do Mundial de Clubes foi escolhido justamente como pré-Mundial de 2026.
Mas, não podemos deixar de notar que a FIFA é reincidente.
Pois a Copa do Mundo de 2022 aconteceu no Catar. E ela sabia perfeitamente das violações dos direitos humanos do país, tantas vezes denunciados, quando o elegeu como sede.
Ou seja, não adianta tentar parecer bonita na fita, promovendo campanhas antiracistas, ou iniciativas focadas no futebol feminino, e sediar copas do mundo em países que invisibilizam violações contra negros e mulheres.
Da mesma forma que o governo Trump será visto nas próximas décadas como uma época sombria dos Estados Unidos, a FIFA precisa rever urgentemente suas formas de atuação. O dinheiro rege o mundo, sem dúvida. Mas não justifica tudo. E neste mundo cada vez mais conectado, nada passa desapercebido.
O Futebol é uma potência, um agente transformador. Capaz de conscientizar e unir. E da mesma forma que a sociedade tem repensado as relações sociais, a FIFA deveria refletir sobre seu papel.
O Mundo mudou. Mas a Federação Internacional continua pensando como em 2013 quando Jérôme Valcke, então secretário-geral, julgava que “menos democracia, às vezes, é melhor para se organizar uma Copa do Mundo"…