Pra quem queria emoção era melhor ter ido no cruzeiro do Roberto Carlos
Se o idoso vascaíno que foi na delegacia registrar um “boletim de ocorrência preventivo” sobre o jogo desta quarta à noite tivesse prestado queixa não por medo da arbitragem mas sim por medo de um ataque de tédio, provavelmente iria ganhar a causa na justiça.
Porque o Flamengo x Vasco de hoje, mais ou menos como o Flamengo x Vasco do outro domingo, foi um duelo entre uma equipe que não queria muito jogar e uma equipe que até queria, mas tinha um certo nível de dificuldade para conseguir.
Do lado cruzmaltino o que se viu foi novamente um time ciente das suas limitações e que tentava compensar desvantagem técnica com dedicação tática. Se não tinha tanto ataque o Vasco iria tentar impedir o ataque adversário, se não tinha tanta criação o Vasco iria impedir que o adversário criasse, se não conseguia chegar na cara do gol o Vasco iria sair chutando de praticamente qualquer lugar e confiar que o goleiro Hugo iria apenas entubar a bola – o que está longe de ser um tática absurda se você conhece o goleiro Hugo.
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Já da parte do Flamengo, a escalação com o retorno de Andreas, Bruno Henrique e Felipe Luís trouxe vantagens na saída de bola, mais velocidade nas pontas e categoria no meio, mas gerou uma certa perda de marcação e uma evidente desorganização no ataque, com um Flamengo que dominava a partida mas não conseguia necessariamente traduzir isso em mais do que posse de bola, erros esquisitos de passe no meio de campo e mais jogadas onde Andreas Pereira parecia estar visivelmente mais concentrado no impacto da guerra da Ucrânia em relação ao valor dos combustíveis do que na partida.
Mas se o Vasco não queria fazer gol e o Flamengo não conseguia fazer gol, coube ao gol praticamente se fazer sozinho. Após uma jogada bisonha em que um defensor vascaíno tentou a cabeçada mas viu a bola bater em cheio na sua mão, Gabigol, sem a possibilidade de passar Vitinho na sua frente na fila dos cobradores, acabou tendo que converter o pênalti e deixar o Flamengo na frente do placar. E se você achava que esse gol marcaria um momento de inflexão na partida, geraria uma mudança de postura do rubro-negro, colocaria fogo na equipe da Gávea…bem, você estava errado, realmente.
Porque mesmo com o gol no fim da etapa inicial e mesmo com a proposta mais ofensiva do Vasco no segundo tempo, o que se viu foi um Flamengo que parecia desinteressado da partida, sem muita vontade de fazer o segundo gol e que obviamente não acredita na pena de morte, já que praticamente não fez menção de matar a partida.
Nem as entradas de João Gomes e Rodinei, para aumentar a intensidade da partida, ou de Marinho e Pedro, para ampliar o poder de fogo, conseguiram causar alguma mudança no cenário, que parecia consistir num Vasco chutando de qualquer lugar contra um Flamengo que até conseguia se impor na partida e perder algumas chances, mas ainda vivia de lampejos.
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O resultado final, ainda que justo diante do que foi apresentado em campo, mais uma vez fica bem aquém da diferença de qualidade técnica e de investimento financeiro das duas equipes, mostrando que o rubro-negro ainda apresenta muitas dificuldades para superar um sistema defensivo minimamente organizado, como pareceu ser o do Vasco da Gama.
Cabe a Paulo Sousa, até a partida de domingo, entender o que vem faltando, principalmente no setor ofensivo, para que o Flamengo consiga praticar na prática um futebol à altura da sua qualidade no papel. Porque obviamente nenhum time tem a obrigação de emocionar em todos os jogos, mas colocar o torcedor pra dormir também é um pouco de vandalismo demais.