Post de Dodien contra Bandeira saiu de academia onde Dunshee estava
Os advogados do ex-presidente do Flamengo Eduardo Bandeira de Mello apresentaram na última sexta (19) à Justiça os indícios mais fortes até aqui de que o responsável pelo perfil fake Roberto Dodien, que ofendeu Bandeira e diversos outros opositores do Flamengo, é o vice-presidente e candidato à Presidência do Flamengo Rodrigo Dunshee de Abranches.
O MRN teve acesso à íntegra do processo de mais de 4.800 páginas que tramita desde maio do ano passado na Justiça Criminal do Rio de Janeiro, incluindo a petição protocolada pelos advogados de Bandeira e petições anteriores da defesa de Dunshee pedindo o encerramento das investigações.
➕Perfil fake atribuído a Dunshee ofendeu de Lula a Bap; veja tweets
Segundo informações oferecidas por empresas intimadas a prestar informações sobre a origem dos tweets, ficou demonstrado que tweets ofensivos de Dodien contra Bandeira, postados em 12 de maio de 2023, vieram da academia KS, em Ipanema.
A academia confirmou que Dunshee está matriculado na unidade e estava no local no momento da postagem.
A KS também confirmou que Dunshee já era cliente da academia em junho de 2021, quando o perfil Roberto Dodien foi criado, embora não disponha mais dos registros que comprovem se ele estava na academia no momento da criação da conta.
Com base nessas novas informações, os advogados de Bandeira pediram à juíza responsável pelo processo por calúnia, injúria e difamação que tramita na 42ª Vara Criminal que volte a intimar o X Brasil (antigo Twitter) para que forneça os dados de cadastro da conta de Roberto Dodien e também o registro de todos os acessos realizados entre 1º de abril e 13 de maio de 2023, quando a conta foi deletada.
Indícios anteriores de que Dunshee é Roberto Dodien
Esse é o terceiro e mais forte indício até aqui ligando Dunshee à conta de Roberto Dodien. Primeiro, as suspeitas haviam surgido pelo fato de a conta de Dodien ter postado, em questão de minutos, um post idêntico ao que Dunshee havia acabado de apagar em resposta a um comentário do ex-candidato a presidente do Flamengo Ricardo Hinrichsen.
A reportagem do MRN citando essas suspeitas inclusive foi usada como base pelos advogados de Bandeira para solicitar que Dunshee fosse ouvido no processo.
O segundo indício veio após a TIM revelar que várias postagens da conta de Dodien vieram da Rua da Assembleia, onde funciona o escritório de advocacia onde Dunshee trabalha.
Apesar dos indícios, Dunshee, que foi intimado a depor no processo na condição de testemunha, apresentou uma petição à Justiça pedindo o encerramento da investigação e se alegando vítima de perseguição política por sua candidatura à presidência do Flamengo.
“O aparato de persecução criminal está sendo indevidamente utilizado no caso vertente para satisfazer propósitos que nenhuma relação guardam com a apuração de fatos penalmente relevantes, inclusive com a divulgação reiterada ilícita do conteúdo da presente investigação para atingir a sua honra e reputação, em esforço espúrio para tentar influenciar em processo político interno do Clube de Regatas do Flamengo, no qual será candidato do grupo da situação”, escreveram os advogados de Dunshee.
Segundo eles, “a presente investigação já perdura por 13 meses, única e exclusivamente em virtude da insistência do sr. Eduardo Carvalho Bandeira de Mello, refletida em provocações que têm tomado tempo, recursos e energia do aparato estatal de persecução penal, resultando, até o momento, na expedição de 12 ofícios para plataformas de redes sociais e empresas de telefonia, bem como na colheita de um depoimento, sem que nada passe sequer perto de comprovar a sua irresponsável afirmação de que “eu não me surpreenderia se for o Rodrigo Dunshee”. Isso se explica pela simples e óbvia razão de que o ora peticionário nada tem a ver com os fatos noticiados”.
Dunshee insinua que adversários em eleição do Flamengo estão por trás de perfil
Os advogados se queixam de Dunshee ter sido intimado a depor no mesmo dia em que lançou oficialmente sua candidatura à presidência do Flamengo. O argumento é rebatido pelos advogados de Bandeira.
“O Inquérito teve início no mês 5 de 2023, há mais de um ano e, como se sabe, às vezes a oitiva de testemunhas demora a ser realizada. Ao que tudo indica, a intimação do Sr. Rodrigo Dunshee para falar como testemunha se deu no momento em que era anunciado como candidato à presidência do CLUBE DE REGATAS DO FLAMENGO, por pura coincidência. Se o Sr. Rodrigo Dunshee possui provas do contrário, que as apresente”, afirma.
Dunshee, por sua vez, insinua que os verdadeiros autores do perfil de Dodien podem ser pessoas ligadas à oposição que querem boicotar sua candidatura.
“Na referida manifestação à autoridade policial, o ora peticionário registrou que “em nada se surpreenderia com a eventual descoberta futura de que seus adversários políticos estão por trás do perfil dito falso objeto da controvérsia, já que, na qualidade de Vice-Presidente Geral eleito e reeleito e de Vice-Presidente Jurídico do Clube de Regatas do Flamengo, o seu nome sabidamente já era cogitado como opção para suceder o atual mandatário Luiz Rodolfo Landim Machado, tendo ele confirmado há pouco
publicamente sua pretensão neste sentido. O processo eleitoral de 2024 envolve o comando de uma Instituição que hoje fatura mais de um bilhão e 300 milhões de reais por ano e serve de exemplo de sucesso de gestão, boa governança e de admiráveis feitos no desporto, contando com mais de 45 milhões de apoiadores apaixonados no Brasil e no mundo. Por isso, não é difícil imaginar a magnitude dos interesses que estão em jogo quando o assunto é sucessão presidencial em 2024 no Clube de Regatas do Flamengo, muitos dos quais forjados sem limites éticos e de respeito às leis por pessoas munidas de capital financeiro e político para alcançar aquele posto e alijar concorrentes custe o que custar”, afirmam.
No momento, não existe inquérito interno no Flamengo contra Dunshee que possa influir na sua capacidade de disputar a eleição. Entretanto, entre as precondições para a disputa está a idoneidade moral dos candidatos, que será tema de avaliação, em outubro, pela Comissão Eleitoral, formada exclusivamente por nomes indicados por Luiz Eduardo Baptista (Bap), adversário de Dunshee na eleição e um dos ofendidos pelo perfil de Roberto Dodien.