João Luis Jr: 'Por que Waldemar?' Sobre o Flamengo que já foi, o que é, e aquele que ainda pode ser
Uma das coisas mágicas da experiência de ser torcedor é que ela é, ao mesmo tempo, profundamente coletiva e absolutamente individual. Profundamente coletiva porque somos milhões acompanhando os mesmos jogos, torcendo pelo mesmo time, vivendo as mesmas experiências.
E absolutamente individual porque essas experiências coletivas são filtradas pela percepção, vivência e até mesmo perfil psicológico de cada um de nós.
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Então, ainda que exista apenas um Flamengo, para o qual todos nós torcemos, a experiência de ser flamenguista pode variar imensamente de pessoa para pessoa. De acordo com a sua idade, o local onde nasceu, até mesmo a maneira como o futebol faz parte da sua vida.
Quem acompanhou a geração de ouro de Zico viveu um time diferente de quem cresceu com um Flamengo que lutava para não cair. Da mesma maneira que a geração que se apaixonou pelo futebol acompanhando Gabigol e Arrascaeta não tem os traumas de quem estava vivo para ver Walter Minhoca apresentado como solução.
A experiência de cada geração
E assistindo os episódios do documentário “Por que Waldemar?”, me lembrei de como é diferente a experiência da geração rubro-negra da qual faço parte. Um pessoal que hoje tem entre 35 e 40 anos, e que teve a oportunidade de acompanhar um Flamengo em fases absolutamente distintas.
Porque nascemos tarde demais para ver a geração de 81 no auge, mas ainda pegamos os momentos finais de alguns dos seus integrantes. Eu, por exemplo, deixei de ser “criança com camisa do Flamengo” e me tornei rubro-negro no exato instante em que vi Junior fazendo aquele gol de falta em 92.
Não que não tenhamos tido alegrias nesse meio tempo, claro. Éramos os jovens que comemoram o gol do Pet. Que estavam na faculdade vendo Hernane Brocador. E que puderam acompanhar com cerveja na mão o retorno triunfal do Imperador em 2009.
Mas somos também a geração que viu o Flamengo em seu pior estado, em sua fase mais sucateada, sofrida. Vimos presidente picareta depois de presidente picareta fazer com que o clube de maior torcida do Brasil se visse sem dinheiro para pagar conta de luz, atrasando seis meses de salário para jogador e trazendo jogador porque ele era “primo do Messi”.
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Toda experiência rubro-negra é válida e só maluco se acha no direito de se dizer mais flamenguista que o outro. Mas quem nasceu nos anos 80 talvez tenha uma perspectiva única, que é essa de ver o Flamengo no seu pior, tentando reencontrar os caminhos para voltar à sua grandeza.
“Por que Waldemar?” para se lembrar
Então se você viveu essa época e não tem medo de recordar, ou é um jovem que cresceu com um Flamengo já campeão, “Por que Waldemar” é um bom lembrete. De como o Flamengo hoje é fruto de muito trabalho e muitas mudanças.
E também um alerta. Sobre como, por mais vencedor e saudável que um clube possa ser, ele precisa apenas ser colocado nas mãos de gente irresponsável e picareta para ir parar, mais rápido do que a gente imagina, de novo, no fundo do poço.