Por que se reclama tanto dos torcedores do Flamengo que vão ao Maracanã hoje em dia?

Atualizado: 23/04/2025, 17:11
Arrascaeta cobra escanteio com arquibancada do maracanã vazia.

Faixa colunista Rico Monteiro

Ao longo dos meus próximos textos, destacarei alguns pontos que acho que são determinantes para a mudança do comportamento do torcedor do Flamengo no Maracanã.

O primeiro deles, é a precificação do ingresso.

Sobre a precificação dos ingressos | Coluna da Marion Kaplan

 

Pra começar deixo aqui um registro pessoal. Estive no Maracanã para assistir Flamengo x Independiente na final da Supercopa dos Campeões de 1995 e o valor da Geral foi de R$ 2,00 e cadeira comum e arquibancada R$ 10,00.

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Uma conta simples pelo site do Banco Central mostra que este valor de R$ 2,00 (dois reais) corrigido atingiria a quantia de quase R$ 30,00 (trinta reais).

Em 1995, o salário-mínimo era de R$ 100,00 (cem reais). Logo, um ingresso de Geral custava 2% do salário-mínimo e a arquibancada comum custava 10% do salário-mínimo.

Alguns desavisados ou espertinhos, irão dizer que hoje o ingresso que custa R$ 150,00 também custa cerca de 10% do salário-mínimo.

Não, não custa.

Por três razões que não se pode ignorar.

  1. Não existe nenhum setor no estádio que custe 2% do salário-mínimo;
  2. O poder de compra do brasileiro piorou absurdamente;
  3.  Aquele jogo era uma final. 

Estabelecidas as premissas, parece suficientemente claro que o perfil do torcedor que vai ao estádio mudou.

É óbvio que avanços foram importantes, como a melhoria dos acessos, banheiros em melhores condições de uso e principalmente o aumento substancial de crianças e mulheres no estádio.

 

Dia de jogo do Flamengo no antigo Maracanã com Geral
Dia de jogo do Flamengo no antigo Maracanã com Geral. Foto: Reprodução / Autor desconhecido

 

Ocorre que, apesar da grande inclusão de uma parte de pessoas que era segregada no formato antigo, outra parte acabou sendo afastada do estádio, e são aqueles que não possuem condições financeiras de pagar um ingresso tão caro.

Adeus à Geral: há 20 anos, o Maracanã mudava para sempre

E isso se deve a fatores sociais e econômicos (achatamento salarial e menor poder de compra), mas também a políticas elitistas do clube, que possui o programa de Sócio-Torcedor mais caro do Brasil, que, apesar das mudanças recentes, concede ao sócio nenhum benefício, a não ser pagar “mais barato” pelo ingresso.

Isso faz com que pessoas menos afortunadas até possam tentar ter um plano de sócio de torcedor, mas que conseguirão com muita dificuldade comprar ingresso.

O Flamengo recentemente reformulou o Nação, e o plano mais barato para quem é do Rio de Janeiro e pretende ir ao Maracanã custa R$ 61,00 mensais, sendo que tem direito a 60% sobre o valor da inteira.

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O valor para o próximo jogo do Campeonato Brasileiro – Flamengo x Corinthians custa R$ 100,00 a Norte, logo esse sócio-torcedor teria que pagar R$ 40,00.

Pois bem, se considerarmos esse preço inteiro para todos os jogos feitos em casa, e partirmos da premissa de quatro jogos em casa por mês, o torcedor que deseja ir ao estádio gastaria R$ 221,00  ou pouco mais de 14% do salário-mínimo.

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Voltando a 1995, pra ir aos mesmos quatro jogos o mesmo pagaria pouco menos de R$ 120,00 (cento e vinte reais) em valores corrigidos, sem a necessidade de ser sócio torcedor, o que daria pouco menos de 8% do salário-mínimo.

Veja que é uma diferença considerável para uma população que já sofre com a falta de crédito.

Estava claro que isso em algum momento iria se refletir na arquibancada.

E aqui não há nenhum juízo de valor sobre as pessoas com maior poder aquisitivo torcer menos ou serem menos rubro negras que os que estão no estádio.

A questão é que esta mudança trouxe efeitos nefastos, conforme irei explorar na minha próxima coluna. Até lá!