O Flamengo teve grandes jogadores formados em sua Base, principalmente na Era de Ouro do futebol Rubro-Negro, mas desde a década de 90 poucos jogadores revelados pelo Flamengo atuaram de forma consistente no clube e menos ainda saíram do clube com o status de joia ou revelação.
Parte do fracasso da Base se deve a estrutura precária, outra parte a péssimos profissionais que até pouco tempo controlavam a formação de jogadores, mas tudo isso age de modo a dificultar o surgimento de grandes jogadores, mas não impede, apenas tornam as joias ainda mais raras e dignas de atenção na transição para o profissional, onde aí sim temos o grande abismo que enterra as chances de revelar bons jogadores.
A transição é um momento delicado onde o jovem precisa se adaptar a jogar entre profissionais que estão há anos na categoria, portanto mais experientes, e muitas vezes são bem mais fortes fisicamente. Além disso, garotos de 16 a 20 anos ainda estão formando seu caráter, construindo uma projeção do que querem alcançar em sua vida como adultos - basta vocês, leitores, tentarem se lembrar do que faziam ou no que pensavam quando tinham essa idade, que tipo de responsabilidade sustinham -. Agora acrescente a esse momento delicado da vida de qualquer pessoa muito mais dinheiro que um jovem normal possui e uma cultura baseada em idolatria com uma extensa base de fãs.
Obviamente o momento de transição tem tudo pra dar errado, precisando assim vir de cima o suporte para fazer dar certo. Para começar a diretoria e comissão técnica precisam ter um planejamento para a transição dos jovens, não podem deixá-lo muito tempo sem jogar, pois perde-se o ritmo de jogo fundamental para qualquer um, ao mesmo tempo não se pode jogar um jovem já como titular, de modo que o ideal é que haja intervalos onde o jovem fique no profissional e outro momento de retorno à Base. Além disso, a comissão técnica e a diretoria precisam blindar esse jogador, tanto para reduzir as más influências, a idolatria exagerada, como para protegê-lo de cobranças excessivas.
Outra parte fundamental para o bom crescimento de um jogador está ligada à torcida. Nenhum jovem de 18 anos pode ser alvo de idolatria desmedida, não é admissível que qualquer jogador suba para o Profissional com a torcida esperando que arrebente, que faça jogos excepcionais em sequência, mesmo porque nem gênios como Neymar, totalmente acima da média, conseguem subir jogando bem todo jogo, oscilações são esperadas, pois é absolutamente normal para alguém que está formando sua força mental e desenvolvendo seu corpo para a prática esportiva profissional.
Vejam Neymar, que subiu aos 16 anos e não foi titular todo jogo, não jogou bem todo jogo, não fez gol todo jogo, ganhou fama de cai-cai e ainda foi chamado de Monstro. E tudo isso tendo um pai com uma visão de futebol e formação diferenciada, com assessoria de mídia e etc, sendo um gênio da bola, portanto como esperar que um jogador normal tenha desempenho impecável?
O Gabriel, do Santos também, apelidado de Gabigol, surgiu com a mídia o chamando de novo Neymar, cheio de oba-oba, mas a diretoria soube blindar e dar tempo. Oscilou e muito, passou por uma fase horrorosa, mas a torcida segurou a corneta, deu tempo ao garoto, que se tornou um dos melhores do campeonato, o melhor do Santos ao lado do Lucas Lima.
E o Flamengo? Nesses últimos anos o Flamengo poderia ter revelado uma boa safra de jogadores, mas fez tudo errado, estragou uma leva, comprometeu outra, e tudo com a cumplicidade da torcida, verdadeira máquina de “matar” promessas. E nem mesmo os “dirigentes diferenciados” souberam fazer um trabalho decente e ter pulso firme para proteger, cobrar e, principalmente, auxiliar na formação de jovens.
A torcida do Flamengo, marcada pelo Flamengo da década de 80, espera que todo jogador que jogue do meio pra frente marque gol todo jogo, dê assistências toda hora e nunca erre um passe. Está no Flamengo tem que decidir como se fosse um jogador pronto, experiente, não é admissível perder um jogo. Se for zagueiro não pode falhar, a defesa não pode sofrer gol, independente da zaga estar protegida ou do sistema de defesa ser bom ou não.
A triste e deprimente verdade é que a torcida do Flamengo espera que todo jogador suba pronto, sem oscilações, seja craque – não basta ser bom, ser útil para compor, tem que ser um Neymar – e nunca erre. Todos os jogadores que chegam, apostas ou não, podem errar e fazer o que for, mas jogador formado no Flamengo não, deste é exigida perfeição.
Cansamos de ver a torcida rotular jogadores como sem sangue por que não o veem correr como malucos o tempo todo ou dar carrinho de 5 em 5 minutos. O engraçado é que Alan Patrick pode não marcar e só jogar com a bola no pé, também não precisa correr. Já outros podem passar o jogo todo correndo e não acertar um cruzamento, errar 80% das finalizações, produzir algo perto de zero e ainda assim são considerados ídolos porque dão carrinho na lateral e batem no peito. Jogadores estes que inclusive vivem em festa, bebendo e não mostram comprometimento algum com o time, quando estão perdendo não chamam a responsabilidade, não têm poder algum de reação. Mas esses jogadores não foram formados no Flamengo então tudo bem, pode ser.
Exemplos de perseguição inclemente e injustificada existem aos montes, mas irei pegar três casos atuais e sem qualquer coerência para mostrar como a torcida não faz qualquer sentido e como os dirigentes não se esforçam para proteger e melhorar os jovens jogadores, matando qualquer promessa que realmente possa render.
Luiz Antônio
O jogador subiu sob o comando de Luxemburgo em 2011 e fez ótimas partidas, se destacando num meio campo que tinha Ronaldinho Gaúcho e Thiago Neves. Porém as lesões nos ombros o prejudicaram muito e acabaram fazendo com que o jogador passasse por cirurgias e perdesse espaço. O tempo na reserva foi bem aproveitado para que o jogador evoluísse fisicamente, ganhando massa muscular que o ajudaram a melhorar de desempenho.
Em 2013 Luiz Antônio conseguiu conquistar seu espaço, se tornar titular atuando como um 2° lateral direito e foi importantíssimo na conquista da Copa do Brasil e na reta final do Brasileiro. O sucesso fez o olho do empresário crescer e tornou o 2014 um desastre com processos e tumulto na vida pessoal do jogador. O Flamengo deu uma 2ª chance a Luiz Antônio e ele mudou, fez por onde, trocando de empresário, se afastando das más influências, até se tornou mais sereno ao alcançar a paternidade, enfim, se dedicou a apagar o 2014 desastroso.
Em 2015 Luiz Antônio sob desconfiança começa a atuar bem desde o torneio amistoso, sempre entrando e fazendo o time crescer, dando dinâmica, sendo um dos poucos a subir, aparecendo de trás, e arriscar bons chutes de fora da área. Inclusive se dispôs a mudar de posição e se tornar titular, treinou na posição enquanto Pará não tinha reserva e nunca ganhou chance, mesmo se dedicando nos treinos, aprimorando a bola parada (fez até gol durante o ano), jogando bem nas poucas oportunidades que teve durante o ano.
O que a torcida fez? Primeiro pegou no pé do jogador dizendo que ele era de vidro, depois pressionando para que fosse o “novo Elias”, em 2014 o apelidaram de Processinho e em 2015 já vaiavam antes de ele entrar em campo. Um garoto que atuou mal apenas 1 ano desde que subiu para o profissional, tendo muito mais momentos positivos que negativos, que errou e não só reconheceu como mudou sua atitude e não ganhou uma mísera chance da torcida.
Não dá pra entender quem critica e não dá chance a Luiz Antônio após 2014 e fica batendo palma pro sem sangue do Alan Patrick.
Samir
O melhor zagueiro do elenco desde que subiu para o Profissional. Um dos raros canhotos da zaga a passar pelo clube nos últimos anos, jogador alto, rápido e com boa habilidade com a bola no pé, que não costuma sair no chutão e erra muito menos passes que seus companheiros, sem em nenhum dos anos ter um jogador experiente e de qualidade que pudesse ajudá-lo a crescer. Teve de fato muitos problemas físicos e de lesão, mas vários jogadores do Flamengo passaram pela mesma coisa no período, o clube não conseguia prevenir lesão e nem recuperar bem os jogadores, tanto que agora está trazendo a Exos.
Num rápido levantamento, podemos medir a importância do Samir ao ver que com ele em campo o time sofre menos gols. Nesses três anos a média de gols sofridos por jogo com Samir em campo é de 1,16 e sem ele de 1,33; só em 2015 a diferença chegou a ser de 1,2 para 1,5. Oras, se Samir tem números melhores que César Martins, por que foi preterido obrigando inclusive Wallace a atuar improvisado na esquerda?
(por jogo) | Samir | César Martins | |
Faltas | 0,89 | 0,8 | |
Desarmes | Certos | 2,16 | 1,76 |
Errados | 0,44 | 0,32 | |
Botes | Certos | 1,83 | 1,44 |
Errados | 0,39 | 0,53 | |
Passes
Longos |
Certos | 1,83 | 3,94 |
Errados | 3,84 | 5,75 | |
Passes
Curtos |
Certos | 33,02 | 33,32 |
Errados | 4,37 | 4,74 | |
Cruzamentos | Certos | 0,11 | 0,16 |
Errados | 0 | 0,11 |
A torcida estúpida e de memória seletiva prefere guardar 2 ou 3 escorregões de Samir na memória ao fato de que com ele o Flamengo sofria menos gols de cabeça, que com ele Wallace jogava pela direita e subia de produção a ponto de se tornar queridinho da torcida em 2014. É mais conveniente para a torcida opressora esquecer dos seguidos erros de César Martins que culminaram em gol, lembrando apenas de 2 ou 3 partidas levemente razoáveis que fez no Brasileiro.
Nixon
Um jogador que subiu discretamente com a torcida direcionando sua ira muito mais fortemente para outros como Adryan – talvez a maior promessa destruída pelo Flamengo, antes de tudo pela gestão criminosa de Patrícia Amorim, e depois pela torcida que foi da idolatria para a intolerância – e que foi conquistando espaço aos poucos, sempre como uma das últimas opções do ataque até alcançar algum espaço em 2014. Infelizmente, se machucou no início de 2015 e graças ao “competente” departamento médico do Flamengo não pôde atuar durante a temporada.
Como um jogador que atuou em 71 jogos, mas apenas 3149 minutos, o que dividindo por 90 minutos dá apenas 35 jogos completos e tem como profissional 14 gols e 11 assistências pode ser um fracasso? E nem é dizer que são gols de Estadual, porque destas “35 partidas”, 20 foram do Brasileiro onde marcou 8 gols e deu 6 assistências. Paulinho, endeusado pela torcida até poucos meses atrás, nesse mesmo período jogou o dobro e produziu a metade, inclusive cabendo o detalhe de que só 1 das assistências dadas não foi em 2013.
Paulinho | Nixon | ||
Jogos (min/90) | 71 | 35 | |
Gols | 15 | 14 | |
Assistências | 9 | 11 | |
Média | Gols | 0,21 | 0,40 |
Assistências | 0,12 | 0,31 |
A torcida, portanto, tem comprovadamente perseguido seus jovens jogadores, demonstrado não ter paciência, compreensão e nem qualquer senso de preservação de ativos do clube. Muitos vão dizer que isso nunca vai mudar, mas até pouco tempo acreditavam que a torcida queria jogador e só importava o resultado esportivo, porém nos últimos 3 anos a torcida se tornou mais paciente, abriu mão de cobrar resultados esportivos em troca da recuperação da saúde financeira do clube, aceitando até a postura excessivamente conservadora da diretoria. Se hoje o torcedor compreende que é preciso responsabilidade de gestão, que as CNDs são fundamentais, por que não acreditar que um dia sejam capazes de ver os jovens como patrimônio do clube, material bruto a ser lapidado no profissional?
E, se podemos dar um desconto pra torcida passional, não dá pra perdoar a falta de suporte da diretoria aos jovens jogadores. Falta acompanhamento psicológico, fisiológico, apoio da comissão técnica pra dar ritmo de jogo. Em compensação sobra frouxidão, vontade de “atender” os gritos nem sempre sábios da arquibancada, afinal quem possui analistas de desempenho são os dirigentes e não os torcedores cegos pelas emoções do momento, que muitas vezes ganham corpo baseadas em projeções e não avaliações.
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