Por que Flamengo desistiu do Rafinha? Entenda os novos rumos do clube

21/03/2021, 19:22

MRN Informação | Bruno Guedes – A desistência oficial por parte do Flamengo na contratação do lateral direito Rafinha sinalizou a nova política de contratações do clube. Assim como adiantamos no começo de janeiro, o Rubro-Negro deixou de lado o forte investimento que vinha fazendo e adotou mais cautela nas negociações. O motivo principal é a saúde financeira, afetada pela pandemia e eliminações precoces em 2020.

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Na nota enviada à imprensa, a direção do Flamengo deixa explícito que um dos motivos para o não acerto com Rafinha passou pela incerteza econômica dos próximos meses. Portanto, o clube preferiu abrir mão de um investimento alto em favor dos atletas que já estão no elenco. Assim, retoma em parte, a política feita durante a gestão Bandeira de Mello, onde as contas equilibradas sempre foram foco.

As eliminações precoces nas Copas do Brasil e Libertadores afetaram não apenas esportivamente. Por conta da pandemia e comprometimento na compra do atacante Pedro, o Rubro-Negro não fará grandes investimentos no primeiro semestre de 2021. Sem a receita das bilheterias e uma inesperada queda de arrecadação nos torneios, o cuidado aumentou.

Deste modo, as chamadas “contratações por oportunidades” voltaram a ser prioridades. Isto é, atletas que se encaixem no orçamento do Flamengo e que não necessitem de grande engenharia financeira. Caso do recém-contratado Bruno Vianna. O zagueiro veio por empréstimo e teve o aval da comissão por já estar adaptado ao estilo europeu.

Estádios sem público e queda na arrecadação

Por conta da pandemia que nunca chega ao fim no Brasil, outra incerteza é sobre a volta do público aos estádios. Inviável neste momento, a bilheteria era uma das grandes fontes de receitas do Flamengo. O impacto dos portões fechados já foram sentidos na temporada de 2020.

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De acordo com documentos enviados à CBF e que o jornalista Daniel Lavieri do portal ‘UOL’ teve acesso, o Rubro-Negro foi o segundo mais prejudicado. Sem o público, Flamengo e Fluminense, responsáveis pela gestão do Maracanã, acumularam mais de R$ 5 milhões de prejuízo somado. Assim, o Mais Querido alcançou um déficit de R$ 2.447.223,64 com as despesas.

Contudo, estes números podem aumentar nas próximas semanas. Os cálculos são referentes até as últimas rodadas apenas do Brasileirão e em 2020. Portanto, um novo balanço ainda vai ser divulgado sobre o campeonato e suas 38 partidas. Exclui-se aqui, logo, outras competições, como Libertadores e Copa do Brasil. O que aumentou ainda mais o problema.

Além do prejuízo, as despesas não puderam ser cobertas com as receitas de bilheteria ou mesmo outras indiretas dessa condição. Como por exemplo, a venda de alimentos e bebidas na parte interna dos estádios.

O Flamengo, em seu orçamento aprovado no dia 15 de dezembro de 2020, tinha a expectativa de contar com 100% da capacidade dos estádios para abril. Assim, a intenção era colocar R$ 100 milhões para dentro dos cofres. Entretanto, esses números dificilmente vão se concretizar. A lenta vacinação e a falta de organização das esferas públicas no controle da pandemia impedem qualquer volta.

Vendas de atletas se tornou uma necessidade do Flamengo

Outra estratégia para sanar as incertezas financeiras e que é vista como mais acessível está a de venda de ativos. Ou seja, jogadores do elenco. O Flamengo já vem negociando alguns nomes pouco aproveitados no plantel e jovens.

De acordo com o orçamento aprovado para 2021, o Rubro-Negro pretende arrecadar cerca de R$ 168 milhões até o fim do ano com transferências de atletas. Este montante seria essencial para a saúde financeira e manutenção do elenco octacampeão. Apesar desta meta está sendo reavaliada como alta demais, há chances de ser alcançar mais de R$ 200 milhões nesta modalidade.

 O Vissel Kobe, do Japão, contratou o atacante atacante Lincoln por US$ 3 milhões (R$ 16 milhões) correspondentes aos 75% dos direitos do jogador. Outro jovem negociado em definitivo foi o atacante Yuri César. O jogador de 20 anos acertou com o Shabab Al Ahli, dos Emirados Árabes. O acordo é de 6 milhões de dólares (cerca de R$ 31 milhões).

O Flamengo arrecadou R$ 47 milhões com as duas vendas, além dos R$ 5 milhões pelo empréstimo de Natan junto ao Red Bull Bragantino. Contudo, caso ele atue por 20 partidas, o contrato prevê obrigação de compra no valor de R$ 22 milhões.

O zagueiro Thuler espera a abertura da janela europeia para ter seu acerto finalizado com o Montpellier, da França. O empréstimo até junho de 2022 seria de 200 mil euros (cerca de R$ 1,3 milhão), com os direitos econômicos fixados em 2,5 milhões de euros (aproximadamente R$ 16,7 milhões) para opção de compra.

Na última quarta-feira, 17, outra cria da base foi alvo de interesse europeu. De acordo com o jornalista Nicolò Schira, o Ajax, da Holanda, pode abrir negociações para contratar o goleiro Hugo Souza. Segundo ele, o clube estaria preparando uma oferta entre 20 e 25 milhões de euros (entre R$ 133 e R$ 167 milhões).

À espera do futuro, o Flamengo olha para seu passado e volta aos cuidados com o cofre. A organização financeira que levou o clube a dominar o futebol do Brasil é novamente a única certeza por enquanto no Brasil.


Bruno Guedes
Autor

Jornalista e Historiador, é apaixonado por futebol bem jogado. Já atuou na Rádio Roquette Pinto e como colunista no Goal.com. Siga no Twitter: @EuBrguedes