Pedro no Palmeiras: os limites da (ir)responsabilidade de “jornalistas” e assessores
Desde 2009, o Supremo Tribunal Federal determinou não ser mais preciso diploma de jornalista para exercer a profissão. Desde então, a mídia desportiva tem uma polêmica divisão entre “ex-jogadores” e “acadêmicos”, sendo que todos ocupam o papel de jornalismo.
Ou seja, todos precisam respeitar questões ética e conceitos básicos do jornalismo, como o respeito e a apuração dos fatos. É verdade que um preceito leva a outro, afinal publicar uma notícia sem apurar é um desrespeito ao consumidor e às pessoas envolvidas no fato. Muitas vezes, porém, alguns ex-jogadores recebem críticas por cometerem esse erro.
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Algo até em certo ponto compreensível, porque estes não passaram por uma faculdade para aprender todo código de ética e responsabilidade do jornalismo. Contudo, em 2022, temos novidades! Mesmo os chamados “acadêmicos” faltam com esses conceitos tão básicos.
Justamente, os formandos que passam três, quatro, cinco anos em faculdades para aprender a praticar um jornalismo responsável e honesto. Bom, pelo menos, dizem que passaram, né? Afinal, para colocar na descrição das redes sociais que é jornalista, presume-se que o sujeito estudou para isso.
Infelizmente, já temos jornalistas cegos de bairrismos e clubismos na grande mídia, quebrando assim com o jornalismo imparcial. Tudo bem, já estamos acostumados com isso. Mas, agora, jornalista — de formação, segundo a bio — compartilhar notícias falsas sem ao menos checar, porque a informação lhe convém? Bom, isso é novidade. É novo e irresponsável.
Entenda o que aconteceu
No começo dessa semana, uma imensa parte da imprensa demonstrou uma clara preocupação com a felicidade de Pedro, craque do Flamengo. Muitos jornalistas passaram a agir como empresários do atleta e questionaram qual seria o melhor plano de carreira do camisa 21 rubro-negro.
Certamente, devem ter feito o mesmo com Patrick de Paula. Ou devem ter sugerido que Telê Santana pensasse no Fluminense enquanto treinava o São Paulo, assim como fizeram quando Ceni estava no comando do Flamengo. Devem ter tratado Adriano como um jogador aposentado quando chegou ao Corinthians da maneira que fizeram quando o Imperador chegou ao Rubro-Negro dois anos antes.
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No entanto, não satisfeitos, alguns argumentam que Pedro no banco é um “desperdício de talento”. Não só para o Flamengo, mas também para a Seleção Brasileira. Pedro atuou 41 jogos na temporada de 2021. Contudo, a título de comparação, Gabigol esteve em 42 duelos no mesmo período.
Enquanto os nomes de Gabriel Jesus e Matheus Cunha — também reservas em Manchester City e Atlético de Madrid — foram convocados, jogando 25 e 27 confrontos na última temporada. Mas, para a imprensa, Pedro é quem precisa sair do Flamengo para o Palmeiras para ter mais espaço.
Pedro e seleção
‘Mas o Tite deixa de convocar o Pedro, porque ele é banco’. Diriam alguns jornalistas. Como se não bastassem os exemplos dos reservas convocados Gabriel Jesus e Matheus Cunha, eis as palavras de Tite:
“O Pedro joga muito e já foi convocado duas vezes para a seleção. Ele foi determinante no jogo contra a Venezuela, onde nós precisávamos fazer um ataque com seis jogadores e ele entrou. Eu gostaria de vê-lo jogar, mas não é determinante para chamar ou não”, disse o treinador ao canal SporTV.
“O Pedro é um jogador que ele tem uma característica muito difícil de encontrar no futebol brasileiro. Estou lembrando aqui do Fred e do Pedro, com essa característica de jogador de pivô, da bola aérea, inteligente para fazer tabela”, completou.
Ou seja, não, caros pseudos jornalistas, ser reserva não é um critério para deixar de convocar algum jogador. Pelo menos, para Tite.
Quando o clubismo ultrapassa a ética
De acordo com o Artigo 7º do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, “o compromisso fundamental do jornalista é com a verdade dos fatos, e seu trabalho se pauta pela precisa apuração dos acontecimentos e sua correta divulgação”.
Ou seja, todo jornalista deve no mínimo checar uma informação antes de publicá-la, independentemente da fonte. Até porque toda fonte tem interesses próprios e pode passar uma fake news aos jornalistas para se auto beneficiar. Algo básico que se aprende nos primeiros períodos de faculdade.
E assim separamos o bom e o mau jornalista. O primeiro confere os fatos com todas as partes envolvidas antes de dar a informação. O segundo publica sem fazer esse trabalho antes — por diversas razões, como preguiça, desonestidade com o público, mau-caratismo ou até interesse também.
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Na última sexta-feira, o mau jornalismo venceu. Diversos membros da imprensa — muitos da mídia setorizada e torcedora do Palmeiras — publicaram a informação de que Pedro havia se acertado com o Palmeiras e restava ao clube negociar com o Flamengo. A fonte seria a própria assessoria do Alviverde. Contudo, posteriormente, os próprios jornalistas desmentiram a notícia.
Parece loucura, né? Mas, tem uma explicação: quem, na verdade, revelou o acerto foi uma colaboradora terceirizada do Palmeiras que tem relação com influencers do clube. Agora sim, sem problemas!
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Imagina um jornalista postar uma notícia que envolve três partes — Flamengo, Pedro e Palmeiras — e ouvir somente uma delas. Ou imagina uma assessoria admitir que um time aliciou um jogador, sendo isso uma prática vedada pela Fifa. E até imagina uma assessoria mentir que um jogador de outro clube aceitou negociar mesmo com contrato em vigor. Seria um enorme absurdo…
De um lado, um terceirizado do clube mente para tumultuar o ambiente no rival. Do outro, quem recebe — e, em teoria, deveria checar a informação para honrar o diploma de jornalista que carrega — apenas replica a informação. Além disso, ainda se defende dizendo ser apenas um “mensageiro”. Ou seja, confirma a falta de apuração antes de publicar uma notícia.
E assim segue o modus operandi de alguns “jornalistas” irresponsáveis do Brasil. Infelizmente, a desonestidade e a mentira passaram a reinar em um setor que deveria defender a população e trazer a verdade em um país que já nasceu corrupto. O que nos resta é pedir e cobrar para jornalistas formados honrarem seus diplomas e o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros.