Após assistir a vitória do Flamengo sobre o Boavista por 4×0 ontem (20), parei para escutar a última edição do excelente podcast dos grandes rubro-negros Ruan Lucas e Leno Lopes, Fé Na Mulambada. Em dado momento, Leno comentou sobre um vídeo do canal Arquivo Flamengo relembrando toda a campanha do clube em 2005.
Alegando a “tortura” que foi assistir a recapitulação da temporada que quase culminou num rebaixamento, Leno criticou os torcedores que perseguem jogadores do elenco atual. No contexto da gravação, um debate absolutamente estapafúrdio havia surgido na rede social X sobre uma suposta falta de carisma do atacante Pedro. Ele havia acabado de fazer três gols contra o Bangu.
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Na noite de ontem, Pedro saiu vaiado de campo após perder vários gols e um pênalti. A vaia deu lugar ao sonoro aplauso quando Gabigol entrou em seu lugar. Ouvir as palavras de Ruan e Leno logo depois de tal episódio patético mostrou como parte de nossa torcida não sabe apreciar a presença de dois ídolos no elenco.
Jogando contra o time
Primeiramente, é importante deixar claro: Pedro pode e deve ser criticado quando devidamente. Perdeu (não sozinho) uma grande quantidade de gols e evitou sair antes da cobrança do pênalti para poder cobrar. Entretanto, o que torna tudo isso prejudicial é que, desde 2020, foi construído sobre Pedro e Gabigol uma “disputa” por hegemonia no clube, representada através da titularidade do ataque.
Essa “disputa” inegavelmente foi alimentada por jornalistas, torcedores e até indiretamente pela diretoria, através de casos como o processo de fritura de Gabigol e a péssima gestão após o caso de agressão com o ex-auxiliar de Sampaoli.
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Uso disputa entre aspas porque, entre os jogadores, isso nunca parece ter existido dessa forma. Obviamente há um duelo pela titularidade (algo normal e saudável), porém com um clima de muito respeito e que, no contexto de 2022, funcionou muito bem com os dois juntos.
Porém, isso não impede cenas como a de ontem, em que a torcida vaiou sonoramente um jogador que tem 8 gols em 8 jogos na temporada. Fora as credenciais de ídolo e rei da América em 2022. O episódio foi seguido por péssimas declarações nas redes sociais sobre o futebol do jogador. O próprio atacante alegou não se abalar com as vaias e negou qualquer rivalidade com Gabigol:
A pressão no Flamengo sempre existiu. Não só no Flamengo. Eu sempre tive pressão na minha carreira. Não me abala, me dá mais força para querer dar o meu melhor a cada jogo. Em relação ao Gabi, a gente sempre se deu muito bem. Conquistamos grandes coisas juntos. Criaram essa “rivalidade”, mas a gente sempre se deu muito bem dentro e fora de campo. É o Flamengo que ganha com isso. Tem que estar cada um no seu melhor nível para ajudar o Flamengo
Pedro
Quem sai prejudicado nisso? O Flamengo, que vê sua torcida basicamente jogando contra ao vaiar o artilheiro do time até aqui. Vaia essa que inclusive não poupou nem o técnico Tite antes do jogo.
O perfil da torcida
Há anos percebemos a maneira tóxica como alguns torcedores do Flamengo vêm criticando o time em redes sociais. Contudo, isso não é exclusivo do Flamengo e nem no meio do futebol. Porém, no caso do Rubro-Negro, é preocupante como a exigência constante por um nível semelhante a de 2019 faz com que vários torcedores não se satisfaçam com equipes vitoriosas pós-2019.
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Por exemplo, todo mundo conhece alguém que não comemorou o título brasileiro de 2020 ou que desmerece o trabalho de Dorival em 2022. Certamente precisamos perceber o caminho que parte da nossa torcida está rumando nas redes sociais e como isso está transparecendo na arquibancada. Seja como for, isso nada ajuda o time, apenas atrapalha.
Dessa forma, é importante o que foi o Flamengo de 2005, 2010, 2014 e por aí vai, antes de atacarmos de maneira desproporcional os jogadores da atual geração. Afinal, um pouco de memória não faz mal a ninguém.