Se Pedro não for pra Copa do Mundo, o Brasil não precisa ir também

24/07/2022, 14:10
Uma duplinha Flamengo tem que agradecer ter esta dupla do barulho aprontando todas

Não precisa ser um grande visionário, um profundo estudioso, um pós-doutorando em futebol pela escolinha da FIFA, pra perceber que a chegada de Dorival Junior transformou o Flamengo num nível menos visto durante chegadas de treinador em clube e mais comum quando princesas de contos de fadas beijam sapos ou personagens do universo Marvel tem contato com radiação.

Dorival organizou uma defesa que parecia incapaz de funcionar – ainda que aparentemente Ayrton Lucas não tenha aprendido que, se a bola vem acima dele, ele pode tentar usar o impulso do próprio corpo contra o chão como forma de se projetar pra cima, algo chamado “pular” – e fez funcionar um meio de campo talentoso mas que parecia realizar uma espécie de versão futebol das greves de fome de Gandhi, com longas greves de oportunidades criadas.

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Achavam que não ia dar pra jogar Gabigol e Pedro, agora tem Gabigol, Pedro, Cebolinha, se deixarem o Dorival coloca mais um
Foto: Gilvan de Souza/Flamengo

Mas entre todas as mudanças proporcionadas por Dorival e que surtiram efeitos positivos na equipe, poucas foram mais impressionantes do que, tal qual um adolescente do interior de Goiás que, usando uma luneta feita com os óculos da avó, descobre um novo planeta que nem a NASA encontrou, ter sido o nada badalado treinador de Araraquara que finalmente descobriu como fazer Pedro e Gabigol jogarem juntos.

Porque esse parecia sim ser um dos grandes mistérios do futebol brasileiro. Domenec Torrent não conseguiu, Rogério Ceni não realizou, Renato Gaúcho não foi capaz, Paulo Sousa estava ocupado demais brigando com Diego Alves para pensar nisso, e foi sendo criada a quase lenda urbana de que era impossível que Gabigol e Pedro ocupassem o mesmo campo a não ser em situações muito específicas, num contexto muito especial, e com todo um aparato de segurança, como se não fosse uma dupla de ataque e sim alguém jogando uma panela dentro de um microondas ligado e atirando dentro de um acelerador de partículas.

E Dorival Junior, com um módico de bom senso e uma dose de circunstância – impossível saber se teríamos essa dupla caso Bruno Henrique não tivesse se machucado – mostrou que não apenas é possível usar Gabigol e Pedro na mesma equipe como são dois atacantes que se complementam e potencializam, com o Queixada se tornando uma máquina de gols e o nosso trapper, ainda que desperdiçando oportunidades que causam um certo nível de apreensão, se mostrando um garçom cada vez mais qualificado, com menos protagonismo mas a dedicação de sempre.

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Foto: Gilvan de Souza/Flamengo

E numa partida como a de hoje, que foi marcada pela estreia de um muito disposto Vidal, mais uma bela atuação da dupla Arrascaeta e Everton Ribeiro, mas principalmente por mais dois gols de um brilhante Pedro, que já havia marcado outros na última rodada, fica evidente que Pedro não apenas se mostra uma solução certeira para o ataque rubro-negro como também uma convocação obrigatória que qualquer técnico da seleção brasileira com um mínimo de ambição de ganhar a Copa do Mundo teria que fazer.

Não que isso seja tão importante quanto o Flamengo, dado o fato de que a nação rubro-negra é bem maior que a população de certos países ou se mostre provável, pois Tite já se mostrou um cidadão com critérios bem questionáveis para convocações. Mas uma Copa seria não apenas uma recompensa justa para um atacante da qualidade de Pedro como também um reconhecimento do talento desse montador de cubos mágicos que parece ser o treinador Dorival Junior – que possivelmente conseguiria colocar no ataque da seleção Gabigol, Pedro, Neymar, Vini Jr e Paquetá, se deixassem.


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