Não é professor Pardal: Paulo Sousa tenta reconstruir o Flamengo do zero e tem um motivo
Assim como nas rodadas anteriores, o técnico Paulo Sousa fez diversas alterações no Flamengo contra o Audax, pelo Campeonato Carioca. Mas desta vez, alguns poucos torcedores criticaram a decisão. Na coletiva de imprensa, após o jogo desta quinta (10), o português disse entender as reclamações, no entanto seguirá com suas ideias. O motivo é um só: o treinador quer reconstruir o Rubro-Negro do zero.
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Assim que desembarcou no Brasil, Paulo Sousa afirmou que tinha suas aspirações e queria comprometimento dos jogadores. Mas que apenas talento não era garantia de sucesso. Foi um cartão de visitas do que pretendia fazer nas semanas seguintes.
Ao contrário dos seus antecessores, o português não quer ficar à sombra do trabalho de Jorge Jesus. E ele sabe que para isso terá que reconstruir o Flamengo. Montar sua própria história.
É com essa mentalidade que Paulo Sousa passou a buscar não apenas novas estruturas táticas, como escalações. O torcedor rubro-negro, que estava acostumado a saber a equipe de cor, agora está diante de nova filosofia e time modificado a cada nova partida. Mas não por acaso.
Os últimos resquícios do trabalho de Jorge Jesus no Flamengo acabaram com Renato Gaúcho. O ex-treinador destruiu diversos processos que ainda seguiam, mesmo após dois outros técnicos, presentes na estrutura rubro-negra.
Agora, o Campeonato Carioca se tornou um laboratório de experiências e uma pré-temporada estendida.
As mudanças de Paulo Sousa no Flamengo
A mudança mais evidente neste Flamengo da temporada 2022 é na estrutura tática. Diferentemente do tradicional 4-4-2 ou 4-3-3 dos últimos anos, Paulo Sousa decidiu transformar a equipe em múltiplas formas. A primeira é com mais jogadores construtores na defesa. Por isso, Filipe Luís e Isla atuaram como zagueiros contra o Audax.
Sua ideia original era empurrar o adversário contra seu campo defensivo e, assim, ter o máximo de volume de jogo desde este setor. Não por acaso, muitas vezes o Flamengo atuou dentro do campo do Audax e seu setor de ataque. Entretanto, quando está sem a posse da bola, a equipe retorna à sua estrutura tradicional e um 4-4-2 recompõe o sistema.
No meio, Arrascaeta ganhou a companhia de jogadores que dão mais equilíbrio à sua liberdade: Matheuzinho, Andreas Pereira e Thiago Maia. Mas também, todos com futebol propositivo. Ou seja, de construção. E a intenção é potencializar o que o Flamengo tem de melhor no elenco: seu ataque.
Sem Bruno Henrique, Paulo Sousa vem buscando alternativas para quando este jogador retornar. Com Pedro e Gabigol atuando juntos, Lázaro completou o trio de ataque. Todos com características próximas. Exatamente como Paulo Sousa afirmou que pensava, durante sua apresentação, dia 10 de janeiro.
Só que diferentemente de outras épocas, Gabigol se tornou um jogador totalmente móvel. Com Pedro de referência, como centroavante, o artilheiro da Libertadores de 2019 circulou por todos os setores do ataque. Mas, na maioria das vezes, vindo de trás e sendo um inferno para a defesa do Audax.
Entre todos estes setores, uma coisa segue viva desde a época de Jorge Jesus: pressão sem a bola. Uma das mais importantes transformações neste novo Flamengo é a participação de todos os jogadores na recuperação da posse. Como o Douglas Fortunato explicou no Mundo Rubro Negro:
Paciência e respaldo da diretoria: as próximas etapas para Paulo Sousa
Este novo momento do Flamengo não é fácil. Muito menos rápido. Para ter sucesso e os resultados começarem a aparecer, torcedores e imprensa vão precisar esquecer o que existiu até aqui. Mas, principalmente, paciência. Paulo Sousa afirmou que precisaria de até sete jogos para estruturar suas ideias. Ele foi otimista, porque vai precisar de mais.
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As complexas mudanças dependem da participação dos jogadores e a repetição das ações. Portanto, que os atletas busquem repetir cada processo até chegar à sua perfeição. Ou pelo menos próximo dela. Neste meio tempo, problemas vão aparecer.
Derrotas vão acontecer. Como já aconteceu contra o Fluminense. E é aí que entrará a importante atuação da diretoria do Flamengo. Respaldo e confiança, como fizeram no inexistente trabalho de Renato Gaúcho e cujo legado foi terra arrasada.
É o Campeonato Carioca o local certo para o recomeço. Portanto, um torneio de testes. Ou preferem novamente sacrificar Libertadores e Brasileirão com discursos de técnicos superados e conquistar mais uma Taça Guanabara?
Se Paulo Sousa vai ser um técnico vencedor no Brasil, só o tempo dirá. Contudo, uma coisa é certa: não será com repercussão de alguns poucos torcedores imediatistas ou da imprensa escandalosa que o Flamengo vai mudar num passe de mágica. A reconstrução começou novamente, mas agora do zero.
Jornalista e Historiador, é apaixonado por futebol bem jogado. Já atuou na Rádio Roquette Pinto e como colunista no Goal.com. Siga no Twitter: @EuBrguedes