Parecia um sonho, mas era a realidade de um Flamengo que quer ser campeão
Eu entendo se você também precisou se beliscar pra ter certeza. 4×0, fora de casa, numa semifinal de Libertadores, contra um adversário argentino? Domínio total e absoluto das ações, com uma vantagem ampla e que poderia ser maior ainda? Léo Pereira fazendo partida irretocável e dando assistência pra gol? Rodinei metendo caneta e ganhando todas pelo lado direito? É absolutamente normal ter tido medo de que tudo fosse um sonho e num dado momento você iria acordar na frente da televisão, durante uma coletiva do Paulo Sousa, em que ele estaria explicando por que decidiu improvisar o Vitinho na zaga.
Mas não, foi tudo real. Foi real cada jogada brilhante do Éverton Ribeiro, cada roubada de bola indecente de João Gomes, cada passe preciso de Felipe Luís, que juntos resultaram numa atuação maiúscula que permitiu que o Flamengo, mesmo atuando fora de casa, mesmo diante de um adversário tradicional do continente, realizasse uma goleada histórica e garantisse uma vantagem significativa que deixa muito bem encaminhada a classificação para uma possível final da Libertadores.
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Uma partida que não vai ser histórica apenas pelo resultado, apenas pela vitória, apenas pelo que ela pode significar para os planos rubro-negros de atingir sua terceira final de Libertadores em 4 anos – sendo que antes havíamos atingido apenas uma em basicamente todos os outros anos somados desde o Big Bang – mas também pela qualidade do futebol praticado por uma equipe do Flamengo que no decorrer de 2022 se transformou praticamente da água mais barrenta e suspeita em garrafa plástica de lacre violado vendida por ambulante que deixou escapar que tem poço em casa para o mais fino vinho divulgado por Galvão Bueno em seu Instagram.
Temos uma defesa que meses atrás era caótica, problemática e atormentada por falhas e lesões e hoje se tornou mais sólida que uma rocha, com um Santos tão frio que vem sozinho tentando reverter todos os efeitos do aquecimento global, um Rodinei que tomou o comprimido do filme “Sem Limites” e liberou 100% da sua capacidade cerebral, um David Luiz que finalmente descobriu como dar alegria para seu povo, um Felipe Luís que joga futebol com a classe de um enxadrista e um Léo Pereira que obviamente só pode ter sido assassinado por Dorival Junior e substituído pelo holandês Virgil Van Dijk usando uma máscara de látex como nos filmes da franquia Missão Impossível.
No meio temos um Arrascaeta que numa noite ruim, gripado e atuando com uma pedra de 15 quilos em cada perna ainda é melhor que 95% dos meias em atividade no continente, um Éverton Ribeiro tão genial na armação quanto voluntarioso na hora de marcar, um João Gomes que atua na volância com a mesma intensidade com que adolescentes se apaixonam e pessoas sem vida pessoal discutem na internet, e claro, Thiago Maia, mais um dos jogadores Dorival parece ter conseguido retirar do mundo das drogas e do passe errado e devolver para o seio da família e do bote certeiro.
Somando a isso um Pedro cada vez mais decisivo e um Gabigol que parece decidido a dar duas assistências pra Pedro a cada gol perdido de maneira absurda – e como perde gols de maneira absurda – e você tem um time que em poucos meses conseguiu sair da total apatia e desespero para uma situação em que tem boas chances de estar nas finais da Libertadores e da Copa do Brasil, além seguir na disputa pelo título brasileiro. Se hoje ainda parece um sonho, é porque realmente houve uma época em que seria difícil acreditar.
Mas se é pra sonhar, que a gente sonhe mais alto. Que esse Flamengo que hoje deu show contra o Vélez na Argentina possa seguir evoluindo, possa continuar encantando, possa continuar vencendo e conquiste tudo que pode conquistar esse ano. Porque se noites como a de hoje forem um sonho, com toda certeza a nação rubro-negra não faz a menor questão de acordar.