Ninguém vai dizer que a partida de hoje, uma relativamente tranquila vitória por 3×0 sobre a fragilizada e possivelmente mal conceituada pelo MEC chileno Universidad Católica, foi um show de futebol, uma exibição de gala ou um exemplo de tudo que existe de melhor na equipe rubro-negra.
Hugo segue atuando com a estabilidade emocional de um caminhoneiro que não dorme há 67 horas, encheu a boca de rebite e foi parado na blitz por sua ex-esposa, policial militar, pra quem ele deve 18 meses de pensão de dois filhos. Gabigol mais uma vez perdeu gols que nem o ministro Gilmar Mendes num parecer de 90 páginas conseguiria justificar. Paulo Sousa segue deixando claro que Rodinei pra ele é como droga para aquele seu primo adolescente: se deixarem perto dele, ele vai usar.
Mas pela primeira vez em alguns jogos, foi possível ver um Flamengo que, ainda que não brilhante, teve mais pontos positivos que negativos, mais acertos do que erros, mais motivos para fazer sorrir do que para chorar enquanto você se pergunta se sua vida e sua pressão arterial seriam diferentes caso seu pai naquele dia tivesse assistido uma reprise de Pesca & Cia e não um jogo do Flamengo.
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A zaga, com Pablo e Rodrigo Caio funcionou. O nosso xerife que havia abandonado os gramados para realizar uma faculdade de medicina com especialização em “paciente” pode ter encontrado no colosso selvagem de tranças uma dupla capaz de permitir que o torcedor rubro-negro fique um pouco menos desesperado quando a bola passa do meio de campo.
Ayrton Lucas, que havia chegado com a condição física daquele amigo que no solteiros contra casados pede pra jogar “perto da churrasqueira”, parece ter encontrado seu ritmo e pode tomar conta do lado esquerdo, assim como Matheuzinho, a despeito de falhas pontuais e alguns momentos de confusão mental, é visivelmente o único titular possível para a direita.
Somando a isso um bom jogo de Everton Ribeiro, que quando joga bem torna o mundo mais bonito, o IDH brasileiro mais alto e as chances de paz no Oriente Médio maiores, uma bela noite de Willian Arão com direito a mais uma bola na rede e o golaço de Pedro, que após vários jogos se destacando mais pela chance de sair do clube do que de fazer a bola entrar decidiu deixar sua marca da maneira mais absurda e humilhante possível, você tem um Flamengo que, ainda que longe de perfeito, já parece bem melhor do que todas as versões que vimos nas últimas semanas.
Resta agora saber o que vem depois. Foi isso um passo no caminho para um Flamengo que finalmente vai se encontrar sob o comando de Paulo Sousa, um pacto entre treinador e elenco para que o grupo saia da crise e finalmente se mostre capaz de buscar alguma coisa nessa temporada?
Ou foi isso um lapso, um espasmo, um estertor de um time que, na rodada que vem, vai voltar a ser exatamente o mesmo deserto de ideias que vinha sendo, servindo apenas para atrasar um pouco um processo já irreversível de fritura do técnico e de temporada jogada fora?
Seja qual for a resposta, o fato é que com essa vitória Paulo Sousa, que estava tão perto da demissão que a distância precisaria ser medida no VAR, ganhou ao menos mais uma semana de sobrevida para mostrar que seu Flamengo pode evoluir. Que o português saiba usar, porque aparentemente o que não falta são outros portugueses de olho na vaga dele.