Usando o Campeonato Carioca para o que o Campeonato Carioca serve

01/02/2024, 16:05
Gabigol beija o ecudo na camisa do Flamengo após marcar gol e dar fim ao jejum de 16 jogos

Pra um time com a qualidade, o orçamento e as ambições do Flamengo, a maior parte dos jogos do Estadual opera mais ou menos como se um lutador profissional de MMA saísse na mão com um bêbado na frente de um boteco no Largo do Machado. 

Perdeu? É uma vergonha, já que bem, você estava diante de um adversário imensamente menos preparado, que veio de condições adversas e de quem se esperava que você desse conta com imensa facilidade. Ganhou?

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Não fez mais do que a sua obrigação, exatamente pelos mesmos motivos. Isso sem contar até mesmo a questão de por que você está gastando tempo e recurso brigando com esse bêbado, já que você tem um calendário de brigas bem apertado e desgastante durante o resto do ano.

Diante disso a sensação é de que o Flamengo ao menos parece estar sabendo administrar de maneira razoável o que é o Campeonato Carioca, esse torneio de baixo nível técnico, muitas surpresas esquisitas e onde, como a federação parou de oferecer valores em dinheiro, o verdadeiro prêmio são as porradas de zagueiro de time pequeno que tomamos pelo caminho.

Porque a vitória de ontem por 2×0 sobre o Sampaio Correa – não o do Maranhão, o de Saquarema, ainda que o jogo tenha sido realizado em Belém, no Pará, pois o Carioca é o torneio mais nacional de todos – ainda que não vá empolgar ninguém, segue com mais um sinal do bom começo de trabalho de Tite à frente do Flamengo.

Gabigol comemora fim de jejum de gol com Wesley e Léo Pereira em jogo contra o Sampaio Corrêa, pelo Campeonato Carioca
Foto: Marcelo Cortes / Flamengo

Primeiro porque o gaúcho vem tentando, seja na pré-temporada nos Estados Unidos, seja nos jogos do time principal pelo Carioca, testar opções e dar rodagem aos variados atletas do elenco.

De La Cruz parece bem em sua adaptação, Allan tenta encontrar espaço no time, algum lateral-direito precisa urgentemente jogar algo que lembre futebol e recuperar Gabigol é uma das missões mais importantes desse começo de temporada, por mais que os torcedores com memória de Dory de Procurando Nemo prefiram tratar como dispensável um homem que já decidiu duas Libertadores.

Depois porque fica claro que, apesar de entender o torneio como laboratório e pré-temporada estendida, Tite tem a plena consciência de que, se é o Flamengo, e se é um campeonato, ele precisa ganhar.

Não porque o Carioca seja um grande torneio, não porque é prioridade, mas porque não apenas ajuda a aumentar a confiança pro resto do ano como também chega a ser um tanto quanto constrangedor termos sido vice nas duas últimas temporadas e ficaria mais feio ainda se acontecesse numa terceira.

Ou seja, ainda que não exista razão alguma para se empolgar após uma vitória tranquila diante da equipe de Gabriel Pernão, é possível sim sentir, ao contrário do que aconteceu na temporada passada, que o Flamengo tem algum tipo de plano, algum tipo de projeto, que na figura de Tite nós finalmente temos alguém, fora de campo, que sabe o que está fazendo.

Porque em termos de diretoria, como ficou claro no vídeo de Marcos Braz correndo atrás de um torcedor que protestava no shopping, seguimos sendo comandados por alguns dos mais incompetentes, amadores e desequilibrados cidadãos que o Rio de Janeiro tem a oferecer. Que nessa temporada, ao contrário da outra, isso não acabe transpirando pra dentro de campo.