Comparam o Vinicius Jr. com Adryan e outros, mas eu nunca vi nada remotamente parecido em mais de duas décadas vendo Fla na Copinha
— Rodrigo Rötzsch (@rodrigorotzsch) 11 de janeiro de 2017
Peço perdão por começar esse texto com o pecado da autocitação, mas ele é necessário para estabelecer uma premissa. Considero Vinicius Júnior incomparável com qualquer um dos "projetos de craque" que surgiram na Gávea nas últimas duas décadas, período no qual acompanho de mais perto o futebol. Nenhum deles foi tão dominante nas categorias de base como Vinicius. Vinicius é, hoje e desde os seus primeiros passos na base, o melhor jogador brasileiro de sua geração. Ninguém discute isso.
Para quem não conhece, porém, um pequeno currículo: melhor jogador da seleção brasileira campeã do Sul-Americano sub-15 em 2015. Líder de um Flamengo que conquistou um inédito Campeonato Brasileiro sub-15. Mais de 80 jogos de invencibilidade no Flamengo por mais de 3 anos. Uma temporada inteira de invencibilidade no sub-17 no ano passado. Rapidamente se tornou o principal jogador do sub-20 do Flamengo em apenas dois meses de categoria, sendo o grande destaque na última Copinha. E é atualmente o artilheiro do Sul-Americano sub-17, com cinco gols.
Uma quantidade tão absurda de talento não será detida por questões extracampo. A tradicional preocupação de não incensar demais o jogador para que ele não ache que está com a vida ganha antes mesmo de estrear no profissional e se perca no meio do caminho me parece despropositada neste caso. Vinicius Júnior será um grande jogador de futebol que brilhará nos principais clubes europeus. É questão de quando, e não de se. Para quem duvida, uma pequena amostra do repertório que ele vem exibindo no Sul-Americano sub-17. Uma rápida pesquisa no Twitter ou no YouTube revelará muito mais.
#Flamengo 16-year old sensation #ViniciusJunior stole the show once again, in the game vs Venezuela.
Destined to greatness, what a talent. pic.twitter.com/7El1JJQalt
— Seleção Brasileira (@BrazilStat) 11 de março de 2017
#Flamengo sensation 16-year old #ViniciusJunior highlights vs Ecuador: 2 goals and 1 assist.
The next Brazilian legend? RTs, appreciated. pic.twitter.com/rkdJDkCy7o
— Seleção Brasileira (@BrazilStat) 14 de março de 2017
Equação financeira
Isso posto, como o Flamengo pode garantir extrair o máximo desse talento - e não digo apenas com a quantia que receberá de um dos grandes europeus quando ele deixar o Ninho, mas com retorno dentro de campo, com gols, jogadas de craque e títulos? E não apenas nas categorias de base? A atual multa de 30 milhões de euros, um trocado para os grandes clubes europeus, não será obstáculo quando alguém realmente quiser levar o jogador embora -- o que legalmente só poderia acontecer quando ele completar 18 anos, mas há sempre um jeitinho.
Minha tese: devemos justamente contrariar todo nosso instinto de preservação e jogar Vinicius Júnior nas alturas. Tratá-lo como o craque que ele ainda não é, mas fatalmente será. Começar a consumir Vinicius Júnior diariamente e cobrar a mídia para que nos dê doses diárias de Vinicius Júnior. Fazer que os anunciantes percebam o produto que é Vinicius Júnior. Em resumo, contribuir para que Vinicius Júnior se torne, também fora de campo, o novo Neymar.
Se Neymar estendeu sua permanência no Brasil o suficiente para fazer o Santos quebrar um jejum de quase 50 anos sem Libertadores foi porque conseguiu, jogando no Brasil, ter salário e projeção de jogador europeu, com ajuda das dezenas de contratos de publicidade que fechou por seu status de ídolo. Isso jogando em um clube de pequena torcida se comparado à nação rubro-negra.
Com uma nação de 40 milhões de torcedores seguindo cada passo seu, Vinicius tem um potencial de gerar ainda mais receita e acordos caso consiga apresentar um desempenho semelhante ao de Neymar. E o Flamengo tem que ter a visão de fazer como o Santos e ceder ao jogador a maior parte dos lucros obtidos a partir do seu direito de imagem.
Com o potencial financeiro muito superior ao Santos, o Flamengo tem possibilidade de pagar um salário europeu a Vinicius. Mas é irreal imaginar que, no mundo atual, isso baste para manter um craque jogando aqui a carreira inteira, ou até os 30 anos, como Zico ou Júnior. Vinicius pode até ser rubro-negro de coração, mas os garotos de hoje não sonham, como Zico um dia sonhou, em se tornarem ídolos e campeões pelo Flamengo. Isso é apenas um degrau no caminho que eles imaginam e que desemboca no Barcelona ou no Real Madrid.
Nesse caso, o Flamengo deve fazer diferente do Santos, que acabou levando uma pernada de Neymar e seu pai, que fecharam contrato com o Barcelona disfarçando o preço da venda em vários itens fictícios, deixando o Santos a ver navios. Como o Flamengo pode se precaver de algo parecido?
A imprensa europeia revela que grandes clubes já monitoraram e demonstraram interesse em Vinicius Júnior, sendo os principais deles Barcelona e Manchester United. Aceitando a realidade de que não pode competir com esse canto da sereia, o Flamengo deveria negociar com os grandes interessados, com anuência de Vinicius Júnior e seus representantes, uma venda a prazo. Prioridade na venda garantida com a cláusula de que Vinicius só deixará o Flamengo quando completar 21 anos, como tinha Neymar em 2013. E o preço do pagamento final flutuando de acordo com metas obtidas ao longo da duração do contrato de pré-venda - gols marcados, títulos, convocações para a seleção. Um modelo excepcional para um jogador excepcional.
Nesses quatro anos e meio, Vinicius ainda poderá dar muito retorno dentro de campo. Para começo de conversa, deveria começar a ser integrado ao elenco profissional desde já. Não inscrevê-lo no Carioca parece ter sido um erro, pois seria a oportunidade ideal para que ele fosse usado imediatamente. Mas como não adianta chorar sobre o leite derramado, que ele comece a treinar com os profissionais e vá jogando pelo sub-20 até o início do Campeonato Brasileiro.
Para quem ainda assim tem medo de que tudo dê errado e que o Flamengo desperdice um enorme talento, fico com as palavras de um certo atacante da seleção sub-17 quando tinha apenas 14 anos:
-- O medo é uma ilusão.
Rodrigo Rötzsch é jornalista e coeditor do MRN. Siga-o no Twitter: @rodrigorotzsch.
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