Em dia de goleada, o silêncio da torcida foi o mais marcante no Maracanã
Ir ao Maracanã sempre foi uma forma de lazer, pelo menos para a minha família. Quando pisei no estádio pela primeira vez, com mais ou menos quatro anos, vi que aquele lugar seria para relaxar, independente do resultado em campo. Não que derrotas, eliminações e empates doloridos não me deixem chateada, pelo contrário, mas estar no meio de pessoas que compartilham do mesmo sentimento que eu e cantar para o Flamengo já me deixa em estado de euforia.
Quando saí de casa hoje não imaginava o quanto seria diferente esse dia. Já tinha lido algo sobre um protesto da torcida, mas não dei muita atenção para ser sincera. Como todos iriam para o Maracanã e ninguém cantaria durante 45 minutos? Pra mim parecia um desafio, mas foi isso que aconteceu.
Pela primeira vez pude ouvir o som do rádio do homem que ficava distante de mim; pela primeira vez conseguia ouvir a mulher várias cadeiras abaixo xingando qualquer jogada que deu errado; pela primeira vez senti como se estivesse sozinha no Maracanã, sim, sozinha. E tudo aquilo era muito estranho. Pensei que apenas eu estivesse inteiramente perturbada com o momento, mas olhei para a minha mãe e ela parecia tão ou mais incomodada que eu. Para ela, que já viu muita coisa nessa vida de torcedora, aquela situação também era novidade.
Avistei um pouco mais acima um homem jogar cerveja no outro porque ele resolveu cantar alguma música, o mesmo motivo que causou uma confusão do outro lado e vaias a todos aqueles que ousassem se animar nos primeiros quarenta e cinco minutos. Que me desculpem aqueles que acham correto, mas pra mim o sentido de todo aquele silêncio se perdeu.
Em contraste a isso tudo estava minha prima de seis anos, Júlia, que provavelmente era uma das pessoas mais animadas daquele lugar. Para ela não importava se o “Bonde da Stella” tinha voltado, se o estádio não estava tão cheio assim. Era tudo sobre a emoção de estar ali e gritar pelo time que sua família a ensinou a gostar. Toda essa confusão deixou de ser o principal quando ela virou e disse que o coração bateu mais forte na hora do gol. Isso sim é Flamengo.
Podemos e devemos protestar pelo nível tão baixo apresentado nesse campeonato e principalmente nas últimas rodadas, mas nunca esquecer que jogadores passam, mas o Flamengo fica. A união que aconteceu no segundo tempo deveria fazer parte de todos os jogos, não só desse. Eu não canto para jogador x ou y, canto porque quero ver o meu time ganhar, quero voltar a viver os momentos de glória e sentir aquela felicidade das vitórias. Eu canto para o Flamengo e sempre vai ser assim. “Eu juro que no pior momento vou te apoiar até o final”.
Luiza Sá faz parte da equipe MRN Informação e também participa do blog coletivo Cultura Rubro Negra, da plataforma MRN Blogs. Twitter: @luizasaribeiro
Luiza Sá é estudante de jornalismo e cresceu nas arquibancadas do Maracanã ao lado de sua família. É a redatora de basquete do MRN e apaixonada pelo esporte da bola laranja.