Por Gerrinson. R. de Andrade (Twitter: @GerriRodrian) - Do Blog Orra, é Mengo!
Não é raiva do sistema, miséria, falta de vitamina C. É uma necessidade daquelas incrustadas no DNA, por milhões de anos o mamífero bípede se desenvolvendo na marra, na porrada. Hoje ainda está nas veias do bicho humano gritar grito de guerra, fazer de arma o que encontrar no chão, derrotar a tribo vizinha, escalpelar o inimigo, beber o sangue e tragar o espírito.
A civilidade faz sua parte para conter a ancestralidade, transformar o homem bélico em homem pacífico, mas em alguns momentos de relapso, o indivíduo experimenta um gosto de vida do Paleolítico Inferior, sai na porrada, sai mordendo e urrando.
Há mais de 4 décadas se discute a violência de torcedores, nenhuma solução surgiu e não deve surgir tão cedo. Assim, por falta de outra resolução, temos mais é que promover a virtualização de tudo, botar um grande chroma key por tudo o que é lado do campo e programar em animação uma torcida perfeita, sem palavrão, sem mulher feia, sem vaia para atrapalhar o time, todos uniformizados, sem bug, em 1080p, em 3d side by side.
Pode conectar com rede social, cada um com o seu avatar, chat ao vivo e, no lugar da obsoleta narração, uma voz feminina vem nos avisar do placar e do tempo. Se alguém quiser ouvir comentário de algum avatar que faça comentários, que libere o áudio. E na versão plus, vem com plugin pra escolher os tipos de torcida, com vuvuzela, caxirola ou Charanga.
Todo mundo vê pela TV, no PC, no celular. No estádio-estúdio, somente a comissão e os jogadores, árbitros, seguranças, médicos, fiscais, técnicos, pessoal da maquiagem, figurinos, o backstage da produção.
Os pessimistas diriam que os valentes voltariam para a briga, noutro momento. Mas isso é outro problema, para outra solução. Ao menos, o espetáculo da partida, aquilo que tanto nos importa, estaria relativamente preservado. Ninguém mais botaria nos ombros dos times essa culpa por deslocar pra rua tantos sujeitos primitivos.
Orra, é Mengo!
Paulista de Osasco, nascido em 1974, casado. Formado em Letras na USP, dramaturgo, profissional da área multimídia e servidor público federal. Rubro-negro desde 1980.