Opositores de Landim assinam carta contra SAF no Flamengo

05/06/2024, 14:24
Atualizado: 07/06/2024
Landim Flamengo reeleição

Ainda sem lançar uma candidatura para as eleições para a sucessão de Rodolfo Landim em dezembro, a oposição do Flamengo se articula em torno de uma plataforma comum: a resistência à transformaçao do Flamengo em SAF (Sociedade Anônima de Futebol).

Nesta quarta (5), três conselheiros lançaram uma carta com o título “O Flamengo não tem dono e nunca terá! Ao invés de SAF, mais associados”. O manifesto é uma reação às notícias de que Landim aproveitou a viagem à Europa para a final da Champions League para buscar investidores para uma possível SAF que ajudaria a construir o estádio próprio do Flamengo.

 Landim se reuniu com empresa alemã por estádio do Flamengo

A carta é assinada por Walter Monteiro, candidato derrotado à Presidência do Flamengo em 2021, Gilberto de Oliveira Barros e Carlos de Oliveira Ferrão. O Mundo Bola apurou que Ferrão é um possível nome de candidatura da oposição tendo justamente a oposição à SAF como principal bandeira.

Por enquanto, três nomes já se lançaram na disputa eleitoral, todos integrantes da gestão Landim. Oficialmente, o presidente diz que não escolheu candidato e só o fará após a conclusão do programa de governo. Nos bastidores, porém, o nome da sua preferência é o vice-presidente jurídico e geral Rodrigo Dunshee de Abranches.

Também se lançaram pré-candidatos o presidente do Conselho de Administração, Luiz Eduardo Baptista (Bap) e o ex-vice-presidente de Consulados e Embaixadas Mauricio Gomes de Mattos. Embora tenha feito parte da gestão até o mês passado, Mattos conversa com sócios para tentar se viabilizar como candidato da oposição. Já Bap ainda sonha com o apoio de Landim, mas concorrerá como candidato independente caso o presidente decida apoiar Dunshee.

Oposição rejeita argumentos de Landim

Embora tenha prometido que não vai apresentar uma proposta para transformar o clube em SAF até o fim do seu mandato, Landim segue articulando a transformação do clube em paralelo às conversas com a Caixa Econômica Federal e a prefeitura para o terreno do Gasômetro. O presidente defende que vendendo uma parcela minoritária do controle do Flamengo é possível financiar a construção do estádio sem endividar o clube.

A carta dos três conselheiros de oposição, publicada pelo jornal “O Dia” fimar que os argumentos de Landim, de que é possível manter o controle do clube vendendo apenas uma parte da SAF não passam de falácia, e que ele estaria utilizando a possível construção de um estádio para justificar a mudança.

“De tempos em tempos, a Nação Rubro-Negra é ameaçada por insinuações de que seu atual presidente deseja transferir o futebol do Flamengo para uma SAF. Valendo-se de um argumento falacioso – qual seja, que nessa futura SAF o Clube de Regatas do Flamengo seria o seu acionista controlador e com isso ‘nada mudaria’ – e, ao mesmo tempo, acenando com supostas vantagens ligadas à construção de um estádio próprio, Landim retoma o assunto, na esperança de derrubar quem ainda se opõe à transferência dos seus sonhos”, diz trecho.

Walter Monteiro: SAF no Flamengo: Landim prega para desatentos

Trio alerta para centralização de poder e fim da democracia

Na continuidade, os conselheiros do Flamengo clamam pela manutenção da democracia no clube, como sempre aconteceu.

“Com todos os seus percalços e óbvias necessidades de melhoria, especialmente no que diz respeito à superação do amadorismo, há quase 130 anos o Clube de Regatas do Flamengo tem o seu destino nas mãos de quem a ele se associa. Há mais de 40 anos seus dirigentes são escolhidos por votação direta a cada 3 anos e qualquer sócio proprietário pode integrar seu Conselho Deliberativo, órgão a quem o estatuto delega várias decisões cruciais”, escrevem.

Eles alertam que em modelo de SAF, aconteceria exatamente o contrário. Poucas pessoas participariam das decisões importantes do futebol em um poder centralizado.

“Já em uma SAF as decisões passariam para a esfera de um Conselho formado por poucas pessoas (em geral 5 ou 7 membros). O poder político dos associados do Flamengo se limitaria a escolher esses apaniguados, que constituiriam uma governança totalmente apartada do clube”, explica a carta, antes de continuar:

“O Flamengo é poderoso e invejado porque é plural, democrático, acolhedor. Quem deseja uma SAF sonha com um Flamengo monolítico, concentrador, elitizado, aberto apenas a quem só sabe dizer amém ao patriarca”, avisam os conselheiros.

Ferrão e Barros entendem que se deve buscar investidores apenas para construção estádio

Temendo que o argumento da construção do estádio permita que um grupo domine o Flamengo, os conselheiros dizem que os investidores devem aparecer apenas para parcerias pontuais que ajudem o clube a realizar o sonho da casa própria, mas sem a necessidade de se vender.

“Todos sonhamos com um estádio próprio e para isso podemos – ou melhor, devemos – buscar parceiros, investidores, acionistas de uma sociedade com esse objeto específico, mas de modo algum iremos renunciar à soberania de construir nosso futuro coletivamente, que é a razão do sucesso de nossa vitoriosa jornada desde 1895”, lembra a carta.

Eles também se referem à tentativa como um ‘sequestro da alma’ e enxergam a oposição como resistência.

“Em 2024 os associados do Flamengo estarão diante da escolha mais importante de sua centenária história: de um lado, há os que sorrateiramente agem para tomar o Flamengo para si e passar a decidir o nosso destino a portas fechadas; do outro, há os que resistem ao sequestro da nossa alma e que sugerem o caminho inverso: quanto mais associados, melhor”, escrevem, antes de encerrar:

“O Flamengo não é do Leblon, o Flamengo é do Brasil. O Flamengo não é de poucos, o Flamengo é de milhões”. O Mundo Bola teve acesso ao documento:

Carta dos Conselheiros do Flamengo contra SAF

Eleições no Flamengo em dezembro

As eleições no Flamengo acontecem em dezembro, mas as candidaturas devem ser inscritas em agosto. O eleito comandará o Flamengo entre janeiro de 2025 e dezembro de 2027, com direito a uma reeleição.

Sem poder voltar a se candidatar, Landim vem tentando uma série de manobras para continuar no poder. No ano passado, uma emenda para estender o mandato do presidente para 4 anos foi derrotada. A transformação em SAF seria uma possibilidade de Landim continuar no poder, agora como dirigente remunerado.

Entrevista com o relator da Lei das SAF’s


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