Brasileirão do Flamengo à vista? Entre o inverno sem fim e o sonho de uma noite de verão

24/01/2021, 19:52
flamengo athetico

Se ganharmos este Brasileirão, será o acaso, apenas o acaso. Rogério Ceni, ainda, revela apenas a soma de todos os nossos medos


Blog Ficou Marcado na História | Daniel Girotti – Twitter: @danielgiotti

O inverno está chegando. Foi o que pensamos com a saída do Mister. O inverno chegou graças às seguidas derrotas de Domènec.


Um time que fazia gols, mas levava gol. Um time que deixou de fazer gol, um gol sequer, e passou a levar goleadas.

Domè fez sua parte para transformar o Flamengo em terra arrasada, com uma incapacidade crônica de armar defesa. Verdade que houve também o efeito devastador da COVID. Boa parte do elenco foi pega, justo quando começaram as goleadas contra o Flamengo do técnico catalão.

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Ceni chegou, entre esperançosa atitude de uns e a carregada suspeita de muitos. Não demorou muito para o medo vencer a esperança. Não só por eliminações e derrotas.

Empate contra o Fortaleza, derrota contra o Fluminense que ia mal, uma sucessão de fiascos mais ou menos ressentes, com pontos escoando pelo ralo.

Só que São Paulo se mostrou o time sem chegada de sempre, Palmeiras foi cuidando de outros campeonatos e o Grêmio de Renato, com seu eterno amor por copas, fizeram a esperança renascer, mas não uma esperança verde, algo meio amarelado, como se o passado de chegada do Flamengo desse alento.

Atualmente, Ceni vestiu a carapuça de teimoso, no eufemismo de que “não se influencia pelas redes sociais, pela opinião alheia sobre o trabalho’, resolve que Arão é zagueiro, que Vitinho pode ocupar uma lateral-direita, que Pedro e GabiGol não podem jogar juntos.

Acaso acha que encontrou a verdade na escalação do Flamengo? Está perdido.

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O ataque, que ressurgiu durante o jogo contra o Goiás, um time que só inspirava temor por estarmos numa fase de baixo patamar, num tempo contra o Palmeiras, quando a esperança pareceu vencer o medo, não foi eficiente de novo contra o Athletico Paranaense.

Tivemos uma imprevisível noite de sonho de verão e, então, os problemas de antes: organização ofensiva coletiva que não funciona, jogadores estáticos, que não vão para cima atrás de alguma chance de gol, não se movimentam, nenhuma troca de bola rápida, e, com a defesa fechada, ficam rodando a bola sem objetividade.

Arame liso clássico, despertando nossos instintos mais primitivos. Jogadores estão mal individualmente, mas até que ponto a falta de organização tática não influi?

Claro que influi, e nos resta apenas a esperança amarelada, lembrando que ser flamenguista prepara qualquer um para o melhor do cinema, cheio de surpresas e alguns pontos-de-virada.

Por ora, é como se vivêssemos todos os sentimentos humanos em um grau maior: êxtase, esperança, sonho, medo, delírio, raiva e, claro, ah claro, o amor.

Depois de um drama em muitos atos, estamos há sete rodadas do fim do Brasileirão.

Depois da verdadeira milonga sobre a permanência de Jesus, que se foi, estamos há sete rodadas do fim.

São sete jogos finais, sete oportunidades de sete noites de verão talvez mudarem a lógica do inverno que tarda em não acabar.

Se ganharmos este Brasileirão, será o acaso, apenas o acaso. Rogério Ceni, ainda, revela apenas a soma de todos os nossos medos: time jogando feio, talentos individuais perdidos, uma desorganização tática do Flamengo antes de Jesus.

À falta de nosso timoneiro português, o Brasileirão à terra vista é um grito engasgado na garganta.

Daniel Girotti escreveu o livro “19 81: Ficou Marcado na História”, com Allan Titonelli. Compre aqui: https://amzn.to/3nQSneB


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Allan Titonelli
Autor

Allan Titonelli é rubro-negro, amante do futebol, gosta de jogar uma pelada, assistir partidas, resenhas esportivas ou debater com os amigos sobre “o velho e violento esporte bretão”. Escreveu, ao lado de Daniel Giotti, o livro “19 81 – Ficou Marcado n...