“Nossa intensidade, principalmente mental, não foi ideal. Os principais protagonistas, como foi o caso do Arrascaeta, não estiveram em seu melhor nos primeiros 20 minutos. Muita precipitação e erros de passes simples. Agradeço aos recursos humanos que encontramos no Flamengo.
Nosso departamento médico, sua qualidade e disponibilidade. Não é só um trabalho no campo. Recuperar fisicamente e mentalmente. Existe também o cansaço mental pela complexidade do que pedimos”, disse Paulo Sousa ao fim do clássico contra o Vasco.
É usual que torcedores acreditem que toda solução para um time de futebol se resolva com mais vontade. Ninguém da arquibancada berra “queremos jogadas ensaiadas” ou “precisamos de mais triangulação”. Ao invés disso, o simples “queremos raça” que pode até significar mais vontade em seu significado original, mas hoje em dia é simplesmente sinônimo de insatisfação. Se a atuação não agrada seja por falta de velocidade, inversão de jogo ou até, convenhamos que acontece, vontade.
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No Flamengo eternamente incapaz de superar 2019, o melhor ano de um time de futebol do século, há quem acredite que o problema é simplesmente vontade. Falta ligar os jogadores no 220 e o time vai golear. Então tá.
Se a gente consegue concordar que Paulo Sousa merece seguir, a culpa recai sobre os jogadores, o que sou muito a favor. Mas talvez estejamos nivelando o debate por baixo ao simplesmente achar que falta vontade. Sou capaz de apostar que boa parte dos remanescentes de 2019 estão correndo e com uma intensidade próxima do ano mágico. Então o que falta?
No esporte, assim como na vida, depois que a gente conquista tudo tem dificuldade de repetir. Especialmente em um clube que se desacostumou a vencer. O Flamengo é um time que só venceu uma única Libertadores na era Zico e com esse elenco milionário ficou atrás de Corinthians e Palmeiras neste século em títulos. A República do Ninho, um país que engloba muito mais que boleiros e torcedores, cheira a acomodação. Não porque seja malvada ou despreze torcedores, mas porque foi formada assim em anos e anos.
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E a acomodação independe de você ter vontade ou não. Ela freia instintos, distrai mentes e traz desânimo. O Flabasquete talvez tenha vivido isso depois do Mundial, quando demorou até engatar uma nova sequência de conquistas em um esporte muito diferente do futebol.
O torcedor talvez tenha dificuldade de aceitar soluções de prazo longo, mas talvez sejam o que resta. O Flamengo ainda tem referências que simplesmente já não conseguem mais. São traídos pelo próprio subconsciente mesmo que queiram vencer. Jogadores que sabem que atingiram o melhor futebol de suas carreiras e agora é muito mais difícil de repetir, que dirá superá-lo. Não é falta de vontade ou displicência, mas está lá.
E se dá trabalho de reverter em clubes estruturados, imagine em um que nem psicólogo tem.
De um jeito ou de outro, uma das coisas mais importantes para reverter o processo é fazer os jogadores entenderem que o ciclo de trocar treinador para agradar acabou. O primeiro passo para criar uma cultura de competitividade é cobrar os resultados agora e sacrificar quem for por isso. Será viável?