O que esperar quando se está se esperando?

30/12/2015, 00:03

 

Um grupo de amigos abastados resolveu se reunir para caçar em um País da África. Por questões práticas, eles contrataram todos os profissionais da região, incluindo um piloto com avião, recomendado como grande conhecedor do espaço aéreo do Continente, o que evitaria eventuais contratempos com as autoridades locais, ou com grupos de defesa dos animais.

A caçada foi muito bem sucedida, e eles conseguiram abater animais de grande porte, o que lhes asseguraria até mesmo um enorme retorno financeiro, mesmo que este nem fosse o principal objetivo da viagem.

Todavia, no momento do embarque, o piloto percebeu que a carga estava com peso bem acima da capacidade de transporte do avião, o que prontamente notificou aos ricos caçadores. A situação trouxe um descontentamento generalizado, e nenhum dos passageiros aceitou deixar um pedaço sequer de seus troféus. Afinal, a ostentação era o grande objetivo final. Caçar não é para qualquer um. Caçar grandes espécimes na África então...

Diante da relutância do piloto em levar os animais abatidos, eles resolveram cotizar e pagar a bagatela de um milhão de dólares adicionais ao piloto, que titubeou, mas acabou aceitando o suborno.

Após carregar completamente a aeronave, toda a tripulação e passageiros ocuparam os seus lugares e partiram para a concretização da aventura. O piloto levou o aeroplano até o ponto de partida e acelerou ao máximo, daí disparou ao longo de toda a pista, na busca da decolagem, decolou...e despencou!

O avião, apesar de cair sobre árvores, não resistiu e se partiu em pedaços, espalhando cargas e todos os homens pela floresta. O chefe da delegação dos caçadores, repleto de hematomas, na busca de sobreviventes, logo encontrou o piloto todo ensanguentado, e de pronto perguntou: "- O que aconteceu? Por que caímos?". O que o piloto lhe respondeu: "- No ano passado, outro grupo de ricos me fez exatamente a mesma oferta para levar o resultado da caçada, que também estava acima do peso suportado pela aeronave, e ela também caiu..!".

Moral da história: não podemos esperar resultados diferentes quando fazemos rigorosamente as mesmas coisas. O Flamengo do próximo ano não pode almejar conquistas persistindo em ações repetidas. E olha que eu considero que o maior objetivo para 2016 seja montar uma base e estrutura fortes para as temporadas subsequentes.

Acreditar que um grupo com histórico de baladas, empáfias e futebol duvidoso possam servir como grande expectativa para títulos. Há que se mudar, e para melhor, obviamente.

Não alimentarei ilusões, mas tampouco quero demonstrar desesperanças. Conforme já escrevi anteriormente, a conclusão do Centro de Treinamento é o grande gol de placa a ser feito. Contratações de valor elevado podem se transformar em decepções. O Santos sabe bem o que é isso. Vários garotos oriundos das categorias de base santista deram muito mais resultado que Leandro Damião, contratado a peso de ouro.

Para azar do Santos ele não é o Flamengo. Para nossa sorte, o Flamengo tem tudo para retomar o caminho perdido após 1992, e mirar no exemplo daquilo que vem dando certo, de maneira dispersa, nos outros grandes times brasileiros. E afirmo convictamente que inexiste um único clube no Brasil a ser copiado. Tudo de bom está fragmentado: Programa Sócio-Torcedor do Internacional; organização tática e técnica corintiana; Centros de Treinamento do São Paulo e Atlético Mineiro; categorias de base santista...

Temos a oportunidade histórica em construirmos um novo caminho, uma nova referência, e isso não se faz apenas com dinheiro. Um novo Flamengo forte, vencedor e sustentável se materializa com convergências. E esse modelo, ao contrário do que muitos dizem, já existiu e nos deu muitos filhos, Zico foi um deles.

E há uma coisa que espero mais do que grande contratações de impacto. Eu desejo que voltemos a revelar grandes jogadores. Para tanto, nossa base terá que formar mais que atletas. Necessitamos, principalmente, de homens comprometidos com a nossa história.

Eu começarei o ano diferente. Espero que os ares da deliciosa cidade de Ilhéus, terra abençoada por Jorge Amado, me façam um flamenguista melhor. Espero também que o Flamengo acredite que possa mudar, para ocupar definitivamente o topo da cadeia alimentar do futebol brasileiro e mundial.

Feliz Ano Rubro-Negro!

 

Fotografia: Elis Frigini

 

 


Ricardo Martins escreve no blog Mulambeiros, da plataforma MRN Blogs. Twitter: @Rick_Martins_BH

 
 

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Ricardo Martins
Autor

Administrador de Empresas, Flamenguista puro sangue, Consultor de Benefícios especializado em Previdência Privada e apaixonado pela vida!