O que a Amazon pode dar ao Flamengo — além do dinheiro de patrocínio

07/06/2020, 05:03
amazon flamengo

Além do valor, o Flamengo pode explorar outras oportunidades que o patrocínio milionário da Amazon pode trazer

Por Felipe Ribbe – da FRV Sports Inovação e Novas Tecnologias, para o blog Flamengo S/A

A negociação de patrocínio entre Flamengo e Amazon ficou ainda mais em evidência após o final do acordo com o banco BS2. O que tem dominado as discussões, no entanto, são os valores envolvidos, a exposição que a empresa americana teria na camisa e até a possibilidade da compra dos direitos de transmissão dos jogos do futebol profissional, quando o contrato com a Globo se encerrar em 2024. Neste artigo vou além e exploro outras oportunidades que um eventual acordo com a Amazon pode trazer ao Flamengo.

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Conteúdo audiovisual

Começando pelo audiovisual, uma opção óbvia é o licenciamento de conteúdos exclusivos para veiculação no Prime Video. Produções com os bastidores do dia a dia têm sido feitas com vários clubes de diferentes esportes pelo mundo. Inclusive, chegou a ser noticiado que a Amazon teria comprado os direitos para um documentário sobre o Flamengo no Mundial de Clubes, mas até agora nada foi lançado.

Porém, as produções não precisam se limitar a bastidores. Clube e empresa podem muito bem pensar em diversos outros formatos, seguindo o exemplo do que o Barcelona tem feito. O Barça está produzindo uma série de ficção voltada ao público infanto-juvenil passada na La Masia (o CT das categorias de base) e uma série de animação para crianças de 5 a 9 anos de idade com roteiro de Tab Murphy, que já foi indicado ao Oscar.

Por que o Flamengo não pode ter algo nessa linha também? Recentemente, o clube lançou o Flamiguinhos, canal no Youtube para o público infantil, uma iniciativa muito bacana. O Flamiguinhos poderia ganhar uma nova roupagem, com produções mais longas e mais bem elaboradas, por exemplo.

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Ainda na área audiovisual, a Amazon poderia ajudar na criação e administração de uma plataforma de OTT do Flamengo, uma versão turbinada da FlaTV, com conteúdos especiais e jogos ao vivo do time feminino, da base e de diferentes esportes. Esse OTT seria pago e mais uma fonte de receita para o clube, além de ser uma ótima maneira de se obter ainda mais dados dos torcedores. Essa é uma tendência no mundo e o Barcelona, mais uma vez, é referência, pois lançou um OTT próprio no início de junho.

Dados

Já que escrevi sobre dados, talvez essa seja o maior potencial da parceria. Dizem que dados são o petróleo do Século XXI. Então ter acesso a milhões de torcedores e saber mais sobre eles tem um valor muito acima de qualquer quantia que a Amazon possa pagar ao Flamengo. A partir deste conhecimento, a empresa pode transformar esses torcedores em consumidores de todos os produtos e serviços que oferece.

E o clube, por sua vez, também pode (e deve) capitalizar bastante em cima disto, pois, como a Amazon sabe como ninguém trabalhar com estes dados, haveria informações suficientes para aumentar, por exemplo, a venda de produtos oficiais existentes e/ou criar novos produtos de acordo com a demanda.

Claro que as duas partes teriam que trabalhar juntas para desenvolver estes dados, como bem falou o especialista em marketing esportivo Bruno Maia, em uma live com o jornalista Mauro Cézar Pereira: não adianta só chegar e achar que os dados dos torcedores estarão lá, prontos para serem minerados, ou que os torcedores vão por conta própria alimentar essa base. Até porque, apesar de não ter certeza, acho improvável que o Flamengo já faça uma gestão de dados dos seus torcedores. Uma empresa com essa expertise poderia muito bem auxiliar o clube a chegar no estado da arte nesta área e ajudar a criar diversas novas linhas de receita.

amazon centro de distribuição brasil
Centro de Distribuição da Amazon no Brasil. Foto: Divulgação

E-Commerce

Apesar da atuação em dezenas de setores, o core business da Amazon segue sendo o comércio online. E em 2019 o Brasil entrou de vez no radar da companhia, que inaugurou um centro de distribuição enorme em São Paulo e fechou parceria com diversas empresas de logística.

O Flamengo poderia hospedar sua loja virtual dentro da Amazon ou até deixar o controle das operações de e-commerce nas mãos da empresa, aproveitando-se da capilaridade da sua rede de distribuição em todo o mundo para venda de produtos oficiais. Pode-se falar que ter um intermediário diminui a margem nas vendas, mas se este intermediário ampliar consideravelmente seu mercado talvez valha a pena na conta final.

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Uma outra área é o licenciamento de novos produtos. Nos EUA, a Amazon tem mais de 300 marcas próprias, que produzem todo tipo de mercadoria e vendem na plataforma por um preço menor do que os concorrentes. Não sei se há intenção da empresa de ter marcas privadas no Brasil, pode ser que não faça parte dos planos, mas não deixa de ser uma possibilidade para a parceria com o Flamengo também.

Estatísticas para torcedores e comissões técnicas

A AWS é a maior plataforma de serviços de computação em nuvem do mundo. Há alguns anos trabalha com ligas importantes para capturar estatísticas e tirar delas informações relevantes sobre o que acontece nas partidas.

Em janeiro, a empresa fechou sua primeira parceria no futebol, com a Bundesliga, e tem usado inteligência artificial e machine learning para obter métricas como a probabilidade de sair gol nos próximos 15 minutos de um jogo, a chance de um gol ser marcado a partir de onde um chute foi dado, decifrar posicionamento tático dos times… Estas informações são disponibilizadas aos fãs enquanto assistem às transmissões e aos clubes durante e após as partidas.

A AWS poderia prestar este serviço ao Flamengo também, não só provendo aos torcedores estas informações sensacionais em tempo real durante os jogos (seja por um aplicativo, nas redes sociais ou na plataforma de OTT, que citei acima), mas também abastecendo as comissões técnicas do futebol e de outros esportes com dados que podem ajudar a melhorar o desempenho das equipes e dos jogadores.

AWS bundesliga
Exemplo do trabalho da AWS com a Bundesliga. Foto: Divulgação

Maracanã Inteligente

Por último, é possível pensar na Amazon ajudando a deixar o Maracanã inteligente. A empresa desenvolve muitas tecnologias que deixariam o estádio mais moderno e melhoraria de forma significativa a experiência dos torcedores. Desde 2018, a companhia opera a AmazonGo, uma loja que não possui atendentes; os clientes que têm conta na Amazon entram passando o smartphone numa espécie de catraca eletrônica e são reconhecidos pelo software; uma vez dentro, podem pegar o que quiser nas prateleiras, que um sistema de visão computacional e inteligência artificial reconhece os itens; depois basta sair da loja, que o valor é descontado automaticamente do cartão de crédito vinculado à conta.

Este ano, a Amazon passou a vender este sistema, o “Just Walk Out”, para terceiros. Nos EUA, muitos estádios e ginásios têm experimentado o uso deste tipo de tecnologia — chamada de contactless — para diminuir filas, o que estimula o consumo dos fãs. Isto poderia ser instalado em caráter experimental numa área com menos circulação no Maracanã e, em caso de sucesso, ser ampliado para todos os setores. A loja da Gávea é outro local que poderia adotá-la.

A Amazon também é muito forte em reconhecimento facial. Apesar do foco da empresa nesta área ser maior em segurança (que também se aplica a estádios), esta tecnologia tem sido testada nos EUA para substituir ingressos físicos e digitais em smartphones, o que não só diminuiria consideravelmente as filas de entrada, como eliminaria o problema com cambistas. Ter torcedores entrando no estádio desta maneira também possibilitaria que eles/elas comprassem produtos (cerveja, cachorro quente, camisa oficial…) usando a face, o que pode permitir até que eles/elas não se preocupem em levar carteira ao estádio. E, claro, todos estes serviços, se integrados, geram mais dados e mais dados geram mais chances de se fazer dinheiro. Ou seja, trata-se de um ciclo virtuoso de enorme potencial.

Enfim, estas são apenas algumas possibilidades que uma eventual parceria Flamengo e Amazon pode trazer, muito além do que direitos de transmissão. Não sei se as discussões estão neste nível ou se tratam simplesmente de exposição da marca em camisa. Espero que não, pois seria uma grande oportunidade desperdiçada por ambos.

*Créditos da imagem destacada no post e nas redes sociais: Autor anônimo, camisa do Flamengo com impressão da marca Flamengo – retirado de https://mantosdofutebol.com.br/2020/03/amazon-novo-patrocinador-master-flamengo/

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