O que 2017 nos ensina sobre ser gente

19/12/2017, 18:02

Saudações, Rubro-Negros!

Sim, 2017 já é página virada. E embora eu entenda o sentimento de frustração que se abateu sobre todos, não podemos sequer pensar em rotular o ano atual como tendo sido um completo desastre, ou que terminou deixando para trás uma terra arrasada. Alto lá, que passou-se bem longe disso! Só dizem isso os de memória fraca, ou os oportunistas, ou os que ainda não eram nascidos ou tinham idade suficiente para se lembrarem do que foi quase toda a primeira década do século XXI para nós; de como quase sempre foram sofridas, vergonhosas e irrelevantes nossas campanhas em praticamente todos os campeonatos brasileiros disputados a partir de 2003, quando o certame passou a ser jogado dentro da regra dos pontos corridos. Nossa briga quase sempre era da metade da tabela para baixo e, não raro, ainda tínhamos que lutar bravamente para fugir de rebaixamentos, sendo que algumas foram as vezes em que esse fantasma nos assombrou até a rodada derradeira. Por tudo isso, camaradas, vos digo que 2017 não foi esse horror todo que alguns tentam desenhar, contudo esteve distante de ser bom.

É preciso antes de mais nada entender o comportamento humano para melhor compreender como a maioria de nós reage às expectativas que não se concretizam. Lidar com frustrações talvez seja a maior de todas as dificuldades do bicho homo sapiens. Por que elas, as frustrações, são sentidas nas mesmas áreas do nosso cérebro que comandam nossas atitudes em relação a coisas como a vaidade e o ego. É por isso, por exemplo, que normalmente sofremos muito mais quando a pessoa com quem estamos termina o relacionamento do que quando somos nós a tomar essa decisão. Às vezes nem estamos mais felizes naquela relação, às vezes até estamos pensando seriamente em terminá-la, só que aí a outra parte se adianta e faz o que você ainda cogitava fazer. Pronto! O ego e a vaidade são feridos de morte.

Fatores externos funcionam como gatilhos, mas é dentro de nós que o bicho pega. Reações químicas, substâncias que são produzidas pelo nosso organismo e que em quantidades maiores ou menores do que aquilo de que de fato cada um de nós necessita nos fazem reagir de formas totalmente diferentes a situações nas quais, em condições normais, reagiríamos de maneira muito mais madura, ponderada, racional. Porém somos só humanos sendo humanos; gente sendo gente. Em algum momento de nossas vidas todos iremos cair nessa armadilha, muitos de nós até mais de uma vez.

Toda essa baboseira serve para explicar e até justificar o gosto amargo que vários confrades, em especial os mais novos e menos experimentados nas coisas de Flamengo, sentimos na garganta, porém de nada serve para explicar, muito menos justificar, aquilo que se passou no Maracanã no último dia 13 de dezembro, este sim o dia mais macabro de 2017 para todo rubro-negro que sabe que jamais participaria ou respaldaria aquela aberração promovida por pessoas de fato desajustadas, sociopatas, que tanto estavam ali como poderiam estar atacando pessoas em qualquer outra parte do mundo. Para rubro-negros como eu e minha filha de 14 anos, a quem desde já agradeço pela maturidade e tranquilidade demonstradas em todos os diversos momentos delicados pelos quais passamos naquela quarta-feira que deveria ser de festa, de celebração de título, de comemoração de aniversário do Mundial de 81, do Tetra de 87 e dos 42 anos de minha irmã do meio, nascida exatamente um ano e dois dias depois de mim, o dia vai ficar marcado como tendo sido aquele em que decidimos parar de ir ao estádio, ou pelo menos nesses jogos de maior apelo. Um dia de uma lembrança muito triste e que nada tem a ver com futebol, o que é para mim ainda mais duro de aceitar.
Para 2018 e todos os anos após ele peço apenas que o nome do Flamengo não seja nunca mais manchado por esses indivíduos, que os que tentarem sejam impedidos a tempo e punidos sempre que suas atitudes implicarem em quebra da lei e da ordem, mas que seja por um Estado atuante, sério, de moral firme e competência comprovada para exercer o papel que deveria e é pago para exercer. Só que aí vamos entrar numa outra seara desta discussão, e ela vai ter que ficar para uma próxima vez, porque senão este texto não acaba hoje.

Feliz 2018 a todos os reais e leais rubro-negros.

PS: Tem que zarpar a barca, sim.

SRN
 


Fabiano Torres, o Tatu, é nascido e criado em Paracambi, onde deu os primeiros passos rumo ao rubronegrismo que o acompanha desde então. É professor de idiomas há mais de 25 anos e já esteve à frente de vários projetos de futebol na Internet, TV e rádio, como a série de documentários Energia das Torcidas, de 2010, o Canal dos Fominhas e o programa Torcedor Esporte Clube, na Rádio UOL.
 

Imagem destacada no post e redes sociais: Gilvan de Souza / Flamengo.


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