Saudações, Rubro-negros!
De acordo com o filósofo e matemático francês Renés Descartes (1596-1650), “se você for uma pessoa que busca realmente a verdade, é necessário que ao menos uma vez na vida duvide de todas as coisas, da maneira mais profunda possível.”. Tal pensamento poderia -- e, acima de tudo, deveria -- ser aplicado ao momento político que atravessamos, mas também serve para nortear nossas visões a respeito da atual fase que atravessa o nosso Flamengo, haja vista que nós rubro-negros somos, por natureza, empolgados e eufóricos, por conseguinte mais inclinados a supervalorizar resultados e atuações ao mesmo tempo em que ignoramos fatos diversos, os quais, caso levados em consideração, nos fariam perceber que é absoluta a necessidade de manter os pés bem fincados ao chão.
Em primeira análise, há de se destacar que o Flamengo de fato apresentou um melhor futebol nas partidas contra Corinthians e Fluminense do que vinha apresentando até então, em que pese a ruindade de ambos os adversários. Os jogadores têm-se mostrado mais móveis e dinâmicos em campo, e a consequência maior disso é que as tentativas realizadas por eles têm sido menos previsíveis do que estavam sendo com o Barbieri ainda no comando. Essa maior mobilidade pode ser explicada tanto pelo “desengessamento” dos chamados pontinhas -- Vitinho, em especial, teve atuações dignas de nota tanto contra o Corinthians como no Fla x Flu -- quanto pela retomada de carreira vivida pelo Willian Arão e pelo posicionamento do Paquetá, agora mais adiantado e menos sobrecarregado quando o time não tem a bola, cumprindo a função de dar mais celeridade à armação das jogadas pelo meio do campo, algo que o Diego, apesar de sua inquestionável entrega, há muito não consegue cumprir com eficácia.
O comportamento mais aceso, elétrico e ambicioso do time é outro ponto a ser sublinhado. O Flamengo antes acomodado, letárgico e por vezes até preguiçoso, que marcava um gol e se retraía, como fazem, aliás, quase todos os times brasileiros, parece ter recuperado o desejo de marcar gols, de não apenas enfiar a faca no bucho do inimigo, mas também de torcê-la, como vínhamos desejando e pedindo havia já bastante tempo. Tal postura por certo tem a ver com as mudanças promovidas por Dorival no sistema tático, na melhor compactação entre as linhas, mas também está ligada de maneira significativa a um trabalho psicológico mais bem feito, pois é nítido que os jogadores agora estão mais fortes no que diz respeito ao seu aspecto emocional do que demonstravam estar antes da chegada do novo técnico e das duas semanas cheias que teve para trabalhar.
Tudo isto posto, é preciso salientar que não há da parte deste humilde autor qualquer intenção de pautar como devem se comportar os irmãos rubro-negros diante das mais recentes apresentações do nosso Flamengo. Entretanto, retomando aqui o pensamento de Descartes, é fundamental que pratiquemos o saudável exercício da dúvida, em especial por meio da revisitação a um passado nada distante, cujas consequências servem para que possamos olhar de forma mais objetiva e crítica o presente momento. Ao agir dessa maneira não iremos de forma alguma renegar nossa natureza flamenga, mas apenas dar a ela contornos mais realistas, mais lúcidos, e assim evitar a depressão que, não raro, sucede a euforia.
SRN.
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Fabiano Torres, o Tatu, é nascido e criado em Paracambi, onde deu os primeiros passos rumo ao rubronegrismo que o acompanha desde então. É professor de idiomas há mais de 25 anos e já esteve à frente de vários projetos de futebol na Internet, TV e rádio, como a série de documentários Energia das Torcidas, de 2010, o Canal dos Fominhas e o programa Torcedor Esporte Clube, na Rádio UOL. Também escreve no blog Happy Hour da Depressão.
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