Ary Barroso: o grande radialista do Flamengo

24/09/2015, 19:22

DIOGO ALMEIDA | Twitter @DidaZico

25 de SETEMBRO, DIA DO RÁDIO.

Não há dúvidas, Ary Barroso é um dos maiores ícones do Rádio. E, para azar da arcoirisada, um flamenguista homérico, daqueles que leva à loucura quem comete o erro de entrar em um debate futebolístico com ele. Era chato, ao ponto do Vasco da Gama proibir sua presença em São Januário.

Em 1933, o mineiro que chegou ao Rio para cursar Direito, não tinha se tornardo advogado respeitado e sim um artista aclamado. Seu samba-exaltação Aquarela do Brasil tornara-se um segundo hino para todo brasileiro e outras canções suas eram cantadas por artistas como Carmem Miranda e Francisco Alves. Neste ano, no auge do sucesso, o feérico Ary Barroso resolveu entrar para o Rádio. Na Rádio Phillips e logo a seguir na Rádio Tupi, comandou programas de calouros, revelando cantores e cantoras que marcaram o cenário da música brasileira, como Elza Soares, Dolores Duran e Eliseth Cardoso.

Em 1935 começou a narrar jogos. Sua paixão pelo Flamengo era tão indomável que comumente abandora a cabine para comemorar gols e vitórias com os jogadores rubro-negros. Reza a lenda que essa atitude irrefreável de Ary inspirou a criação de uma nova modalidade de repórter. Quem hoje imaginaria que o chamado "repórter de campo" só existe por causa do Flamengo? Isto porque quando Ary ia comemorar no campo levava consigo o microfone aproveitando para colher depoimentos dos jogadores. Oras, todas as rádios começaram a contratar reportéres para a beira do gramado. E até hoje é assim.

Em 1946, Ary Barroso aventurou-se pela política. Com sua popularidade facilmente foi eleito. E junto com Mário Filho -- o "criador de multidões" --, lutou contra Lacerda para que o Rio ganhasse um estádio para mais de 150 mil torcedores e que fosse construído no terreno do antigo Derby Club. Lacerda queria que o futebol ficasse distante da cidade, e preconizava um terreno na Restinga de Jacarepágua.

Para convencer a bancada política, propensa a fechar com os planos de Lacerda, mais uma vez o gênio criativo do compositor de Boneca de Piche, No Tabuleiro da Baiana e Na Baixa do Sapateiro subiu ao palco.

Segundo a jornalista Regina Rocha, em seu ótimo artigo Ary Barroso, o vereador do Maracanã: " Ary fez uso de pesquisas para conseguir convencer a opinião pública sobre o melhor local para a construção do Maracanã. Encomendou uma pesquisa para que a população escolhesse entre o terreno do Derby Club e uma restinga de Jacarepaguá. 'O Instituto foi a campo durante uma rodada em que quase todos os clubes atuavam: Botafogo x Olaria, Flamengo x São Cristóvão, América x Madureira, Bangu x Fluminense e Vasco x Bonsucesso. Pudemos contemplar as diversas torcidas', comentava-se na pesquisa.

No placar geral, 56,8% dos entrevistados escolheram o Derby Club e 9,7%, Jacarepaguá; 6,9% sugeriram outras regiões como Centro, Gávea, Quinta da Boavista e Cascadura. A pesquisa indicava ainda que 79,2% achavam necessária a construção de um estádio para a cidade e 53,6% se dispunham a arcar com algum ônus tributário para que a prefeitura bancasse a obra. Os índices de aprovação, obviamente, garantiram o apoio da bancada majoritária à vontade de Ary Barroso.

Ou seja, o Maracanã só existe pela capacidade de convencimento de Ary Barroso. Se não fosse a ideia magistral de fazer a pesquisa nas ruas, provavelmente perderia apoio para a construção do "estádio do município" como ele e Mário Filho sonhavam, em um ponto de maior confluência entre a Zona Sul, o Centro e a Zona Norte. Dessa forma podendo ter sua capacidade instaurada para grandes públicos. Nascia assim o maior estádio do mundo.

Ninguém melhor do que o saudoso Ary Barroso, de sambas, de histórias folclóricas, de lutas políticas, da gaita que soava feliz quando o gol era do Flamengo e triste quando o gol era contra o Flamengo... Para lembrarmos do quanto o Rádio Esportivo foi leve, politicamente incorreto, apaixonante. Há quem diga que o rádio hoje está decadente. Quem sabe o problema não seja a concorrência desleal com o vídeo e sim a falta de homens com o espírito de Ary Barroso.

 

Opa, já ia esquecendo! Sabe o que o Grande Ary fez quando os lusitanos mau-humorados o proibiram de trabalhar em São Januário? 

 

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Diogo Almeida é editor-chefe do Mundo Rubro Negro. Escreve na Equipe MRN Informação e no blog Cultura Rubro Negra. E no seu Twitter gosta de falar sobre música, literatura e, claro, esporte. Junto de muita gente talentosa, idealiza a evolução constante do MRN; no intuito de fazer o melhor site de conteúdo do nosso Flamengão.


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