O lado B dos anos 80

16/09/2017, 13:56
fla pra valer

Com esta coluna, começo a finalizar minha viagem pelas memórias reavivadas pelo Philco Transglobe que me olha da estante. Trago pequenas recordações da década de 1980, já depois dos anos de ouro rubro-negros. São gols de jogos quase nunca lembrados, mas que foram marcantes para mim, porque trouxeram cura ou alívio em momentos de alma pesada pelos desencantos da vida.

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O rádio esportivo mudou bastante no final de 1988. Luiz Penido, então o “Juventude Globo”, pedia passagem, mas José Carlos Araújo ainda reinava absoluto nos 1220. Penido foi ser o Garotão da Galera na Tupi, levando consigo Eraldo Leite, que vinha de criar o Panorama Esportivo na última hora do dia, campeoníssimo de audiência. A Globo traria da Tupi uma trinca consagrada: Doalcei Camargo, Edson Mauro e Sérgio Noronha. A briga no Ipobe seria ponto a ponto.

Não deixe de ler:<)em> Quando os domingos se dividiram

 
Mas tergiverso. Só o que pretendo nesta coluna é compartilhar algumas narrações que gravei em K7, após os jogos. Pequenos retratos sonoros de um triângulo amoroso: o Flamengo, o rádio e eu.

O primeiro gol é uma cabeçada de almanaque de Bebeto contra o Grêmio, em 1986, empatando um jogo que perdíamos em gol de Lima. José Carlos Araújo no auge, com direito ao auxílio luxuoso de Mário Vianna, e Gilson Ricardo atrás da meta.
 

 
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A segunda gravação é já em 1988, um dos últimos jogos do Flamengo narrado por Luiz Penido na Globo antes de sair para a Tupi. Flamengo campeão do Torneio Colombino na Espanha, vencendo o Real Zaragoza de virada e o Recreativo Huelva na prorrogação. Luvanor foi o grande jogador daquela conquista, e Francisco Horta, que comentou os jogos, afirmava que ele nos daria muitas alegrias. Ele não nos deu, mas tínhamos esperança, vejam vocês.

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De 1989, escolhi três gols. Um do Maestro Junior contra o Guarani, e o segundo dos dois gols históricos de Bujica contra o Vasco, de pé em pé. Estes são com José Carlos Araújo, mas o terceiro gol daquele ano é para matar a saudade de um narrador que raramente fazia os jogos principais. Dário de Paula, voz poderosa e límpida, conta o gol de Nando, centroavante vindo do Bangu, marcado em Buenos Aires contra o Argentino Juniors, pela Supercopa Libertadores.

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Cinco destes seis jogos guardam algo em comum entre si. Deles, apenas o jogo do Bujica foi transmitido pela televisão. É impensável, nos dias atuais, que jogos contra Guarani e Grêmio pelo campeonato brasileiro, um torneio na Europa e um jogo de competição sul-americana não tenham transmissão, seja na televisão aberta ou fechada. Porém, na longínqua década de 1980, era comum. O que nos unia era o rádio e a imaginação.
 

 
Ouvir o jogo era um ritual que só acabava quando conseguia gravar os gols. Ouvi-los agora, depois de tanto tempo, faz pairar no ar um Flamengo que não existe mais e que dói de tanta saudade. Mas ainda que o Flamengo não seja o mesmo, e que não chegue mais até mim com o chiado do rádio, ser Flamengo talvez seja das poucas coisas que não me desconecte da pessoa que já fui, dos sonhos que já tive e das dores que já curei. Afinal, como diz Djavan, ainda bem que sou Flamengo... Mesmo quando ele não vai bem, algo me diz em rubro-negro que o sofrimento leva além.

Semana que vem eu retorno, com o ponto final desta viagem.

 
Mauricio Neves é autor do livro "1981- O primeiro ano do resto de nossas vidas" e escreve no MRN todas as sextas-feiras. Siga-o no Twitter: @flapravaler
 


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