Aproveitando essa reta final de temporada onde mais uma vez o campeonato está praticamente decidido antes de seu final nessa aberração de pontos corridos onde o que dá emoção é a zona de rebaixamento, vou analisar o futebol do Flamengo nesta gestão que se encerra dia 07/12.
Quando o presidente e seus vice-presidentes assumiram o Flamengo em 2013 encontraram o clube com uma dívida monstruosa, vários problemas administrativos e um time com treinador e jogadores com seus vencimentos ou parte deles em atraso. A opção inicial foi a de negociar/dispensar os jogadores mais caros e trabalhar com orçamento zero, ou seja, não seria possível investir na aquisição de direitos econômicos de jogadores.
A estrutura de comando também seria diferenciada, implementariam um conselho gestor que incluiria o presidente, alguns vice-presidentes e o diretor de futebol. A função do conselho gestor seria a de estabelecer o orçamento disponível para o futebol, as metas para a temporada, escolha de treinadores e diretores de futebol, bem como decidir sobre contratações de grande impacto financeiro seja na aquisição dos direitos ou pelo elevado salário. O vice-presidente de futebol acompanharia o departamento e daria suporte ao diretor de futebol, que seria o responsável por tocar o “dia-a-dia” da pasta.
Paulo Pelaipe, que começou como um dirigente amador e depois passou a trabalhar como profissional em outros clubes, sem nenhum grande trabalho até então, foi escolhido para ser o diretor de futebol. Seu perfil era disciplinador, havia a fama de ser até truculento e uma suspeita nunca provada de favorecimentos a alguns empresários.
Dorival Jr. era até então o treinador do Flamengo, vinha de boa recuperação do time em 2012, mas estava para ser demitido por seu contrato prever um aumento substancial. Uma negociação foi iniciada, Dorival aceitou uma redução, mas não um valor suficiente para que a diretoria aceitasse permanecer com ele e o demitiu.
A partir daí começou a ciranda de treinadores que perdurou durante os três anos com trocas a cada três meses, a exceção do último treinador do ano, que sempre era mantido e caía logo após o Carioca. Uma “estranha” coincidência, cujo motivo pode ser compreendido ao perceber o planejamento (ou a falta deste) para o futebol do clube.
Treinadores
- 2013
- Dorival Júnior (07/2012 – 16/03)
- Jorginho (17/03 – 06/06)
- Mano Menezes (13/06 – 19/09)
- Jayme ( 20/09 – 2014)
- 2014
- Jayme (09/2013 – 12/05)
- Ney Franco (13/05 – 23/07)
- Luxemburgo (23/07 – 2015)
- 2015
- Luxemburgo (07/2014 – 25/05)
- Cristóvão Borges (27/05 – 20/08)
- Oswaldo de Oliveira (20/08 – até agora)
A tabela abaixo mostra o plantel do Flamengo em cada um dos 3 anos e, ao final, há o “Ativo Intangível” (valor divulgado nos balanços do clube) como uma referência do valor do elenco. Em vermelho os jogadores adquiridos naquela temporada.
2013 | 2014 | 2015 |
Adryan | Alecsandro | Alan Patrick |
Amaral | Amaral | Alecsandro |
André Santos | Anderson Pico | Almir |
Bruninho | André Santos | Anderson Pico |
Carlos Eduardo | Arthur | Arthur Maia |
Chicão | Bruninho | Ayrton |
Cléber Santana | César | Bressan |
Diego Silva | Carlos Eduardo | César |
Digão | Chicão | César Martins |
Elias | Daniel | Daniel |
Felipe | Digão | Ederson |
Fernandinho | Eduardo da Silva | Eduardo da Silva |
Gabriel | Elano | Emerson |
Hernane | Elton | Éverton |
João Paulo | Éverton | Frauches |
Léo Moura | Feijão | Gabriel |
Luiz Antônio | Felipe | Héctor Canteros |
Marcelo Moreno | Fernando | Jajá |
Marcos González | Fernandinho | Jonas |
Nixon | Frickson Erazo | Jorge |
Paulinho | Gabriel | Kayke |
Paulo Victor | Héctor Canteros | Léo Moura |
Rafinha | Hernane | Luiz Antônio |
Ramon | Igor Sartori | Lucas Mugni |
Renato Abreu | João Paulo | Marcelo |
Renato Santos | Léo | Marcelo Cirino |
Rodolfo | Léo Moura | Mário Araújo |
Samir | Luiz Antônio | Matheus Sávio |
Val | Lucas Mugni | Nixon |
Victor Cáceres | Marcelo | Pablo Armero |
Wallace | Mário Araújo | Paolo Guerrero |
Marcos González | Pará | |
Mattheus | Paulinho | |
Muralha | Paulo Victor | |
Negueba | Samir | |
Nixon | Victor Cáceres | |
Paulinho | Wallace | |
Paulo Victor | ||
Recife | ||
Samir | ||
Victor Cáceres | ||
Wallace | ||
Welinton | ||
R$ 32.450.266 | R$ 37.574.735 | R$ 50.239.000 |
Como sabíamos desde as eleições de 2012, a prioridade dessa gestão seria a de reequilibrar as contas do clube, recuperar sua imagem e então preparar o caminho para anos vitoriosos. Desde o início da gestão os torcedores foram avisados de que 2013 seria muito difícil, sem capacidade de investimento, o que obrigaria o clube a procurar os famosos “refugos” e buscar jogadores em times pequenos por empréstimo com opção de compra, já 2014 prometia ter um pouco de folga para investimentos pontuais, enquanto 2015 prometia dinheiro para investir, principalmente com a adesão a LRFE, mais conhecida como ProFut.
A tabela acima mostra que o elenco mudou bastante, apesar do número de contratações ser quase o mesmo todos os anos. Já os valores envolvidos cresceram um pouco de 2013 para 2014 e deram um salto em 2015. Também é relevante ter em mente que os plantéis de 2013 e 2014 foram montados por Pelaipe, Ximenses teve pouca participação em 2014 e Rodrigo Caetano montou o elenco de 2015.
Observação: O vice-presidente auxilia no planejamento, mas quem contrata e busca nomes no mercado é o diretor de futebol. Ao conselho gestor cabe apenas decidir sobre contratações de grande impacto.
Time do 1° semestre de 2013
Felipe – Léo Moura, Renato Santos, González, Ramon – Gabriel, Amaral, Elias, Renato Abreu – Rafinha e Hernane. Treinador: Jorginho.
Time do 2° semestre de 2013
Felipe – Léo Moura, Wallace, Samir, André Santos (João Paulo) – Luiz Antônio, Elias, Amaral, Paulinho – Carlos Eduardo – Hernane. Treinador: Jayme.
Time do 1° semestre de 2014
Felipe – Léo Moura, Chicão (Samir), Wallace, André Santos (João Paulo) – Luiz Antônio, Márcio Araújo, Amaral - Paulinho, Hernane, Éverton. Treinador: Jayme.
Time do 2° semestre de 2014
Paulo Victor – Léo Moura, Wallace, Samir, João Paulo (Anderson Pico) – Márcio Araújo, Cáceres, Canteros, Éverton – Gabriel, Eduardo. Treinador: Luxemburgo.
Time do 1° semestre de 2015
Paulo Victor – Pará, Bressan, Wallace, Anderson Pico – Márcio Araújo, Jonas, Canteros – Marcelo Cirino, Alecsandro, Éverton. Treinador: Luxemburgo.
Time do 2° semestre de 2015
Paulo Victor – Pará, César Martins, Wallace, Jorge – Jonas (Canteros), Márcio Araújo – Paulinho (Cirino), Alan Patrick, Emerson (Éverton) – Guerrero. Treinador: Oswaldo de Oliveira
Se compararmos posição por posição podemos ver que “no papel” melhoramos em quase todas as posições, salvo algumas exceções de flagrante perda técnica como na troca de Elias por Márcio Araújo. Porém, o que vemos em campo não condiz com a melhora na qualidade do plantel e muito menos com o aumento significativo de investimento no triênio.
No primeiro gráfico chama a atenção o fato do time ter sempre brigado embaixo para no fim conseguir uma posição intermediária, a exceção foi justamente no ano de 2015 quando o time chegou a fazer uma graça em cima e ameaçou a brigar pela vaga na Libertadores.
Entretanto a leitura não pode ser tão simples, por isso ao ver o segundo gráfico percebemos que o aproveitamento do time continua semelhante aos dois últimos anos, está até pior que o de 2014, com o agravante de ter sido eliminado em uma fase precoce da Copa do Brasil, enquanto em 2014 chegou a semifinal e em 2013 se sagrou campeão.
A pergunta que fica é: Como um time quase 20 milhões mais caro que o de 2013 tem um aproveitamento apenas 1,5% melhor no Campeonato Brasileiro e sem estar dividindo atenções com a Copa do Brasil?
O retrospecto indica que não adianta injetar mais dinheiro no futebol pura e simplesmente, não basta ter capacidade de investimento se não se sabe onde investir. E o “onde investir” só será descoberto se primeiramente houver capacidade de identificar os problemas, algo que até agora não demonstram saber já que estão errando no principal ponto: Planejamento.
Qualquer diretoria que pense em disputar títulos precisa ter em mente o estilo de jogo que o time deve ter na temporada seguinte, identificar no plantel quais jogadores tecnicamente ou disciplinarmente não se encaixam nessa proposta, mapear no mercado os jogadores que se encaixam nessa proposta e depois filtrar de acordo com o orçamento disponível e, principalmente, precisam ter um bom treinador que se encaixe nessa proposta de jogo.
Para começar a diretoria hoje conversa com treinadores que possuem perfis diferentes, estilos de jogo e trabalho distintos, o que tem sido prática comum nesses 3 anos. Como agravante, o diretor de futebol tem conduzido o planejamento do time de forma equivocada ao estar –segundo declarações do próprio – negociando a renovação com determinados jogadores, os quais têm demonstrado não ter qualidade técnica ou disciplina extracampo para permanecer no Flamengo. Por fim, vimos em 2015 uma novela tão complexa quanto a de 2014 envolvendo um grande jogador com direitos econômicos muito altos pertencentes a um clube que não queria vender o jogador sem ter um grande retorno financeiro, nenhum dos casos tendo plano B ou C e comprometendo todo o 1° semestre, mas nada indica que a diretoria tenha aprendido com os erros.
Saudações Rubro-Negras