Tenho em mim todas as dúvidas do mundo, mas uma certeza absoluta: a Copa Sul-Americana deveria ser a nossa prioridade. Já pensava isso mesmo antes de mais uma semana previsivelmente catastrófica que soterrou qualquer esperança maluca de sobrevida no Campeonato Brasileiro que o fato de sermos torcedores, e com isso acreditarmos em arrancadas épicas até quando nosso time sofre para bater o lanterna com um jogador a menos, poderia nos dar.
Sim, pessoal, (infelizmente) estou afirmando com todas as letras: a real é que o Brasileirão desse ano para nós se resume a garantir lugar no G6 e, se muito, tentar recuperar uma vaga no G4, algo que com a bola que estamos jogando hoje já estaria de bom tamanho.
Mas 2017 não acabou. Nossa Síndrome de Estocolmo com o Flamengo nos mantém com uma esperança ignóbil e incontrolável de ganhar os torneios em que ainda estamos de fato vivos. No caso, as Copas do Brasil e Sul-Americana.
Claro que está mais “fácil” ganhar a Copa do Brasil. Já estamos na semi-final e vamos encarar o Botafogo, e, em se tratando de encarar o Botafogo, é natural que tenhamos uma irresistível certeza que passaremos para a final. Que provavelmente será contra o Grêmio já que o Cruzeiro, adversário deles, é treinado pelo Mano Menezes e, bom, o Mano Menezes tem mais é que… Perdão, me descontrolei.
Mesmo assim, insisto, nossa prioridade e foco absolutos deveriam ser a Sul-Americana, onde na próxima quarta-feira nos classificaremos para as oitavas despachando, se não quebrarmos o recorde mundial de vacilagem, o tão simpático quanto nanico Palestino, nessa doce oportunidade que a vida está nos dando de consertar a cagada colossal que fizemos no ano passado numa trágica noite em Cariacica.
O motivo da minha predileção por essa competição, a “Série B” das copas continentais, é muito simples. Entra ano e sai ano e nós temos nos mantido obcecados com a Libertadores, onde invariavelmente passamos vergonha. Admitir isso é duro, dói, mas é a mais pura verdade e um primeiro passo para mudar. Nossa última campanha decente por lá foi, vejamos… Humm… Não lembro.
O Flamengo tem por obrigação e DNA ser protagonista. Carioca e brasileiro. Continental e mundial. Intergaláctico. Somos mais de 30 milhões de torcedores. Isso é mais que dois terços da população da Espanha, então, porra, Barcelona e Real Madrid que nos respeitem.
O fundamental processo de recuperação estrutural que o clube vem passando nos últimos anos tem que ter isso como Norte e, assim sendo, a Sul-Americana nos serve brilhantemente como estágio para voltarmos a encarar compromissos internacionais decisivos com responsabilidade e competência que não demonstramos nas últimas vezes que tivemos oportunidade.
Precisamos encarar a Sul-Americana não como um campeonato de consolo que entrou no nosso calendário depois de mais uma decepção na Libertadores desse ano, mas como uma chance de avisar para a América do Sul: nos respeitem, estamos voltando.
Não faz sentido chegar na Libertadores 2018 — se tudo der certo e o Zé Ricardo Crew não nos fizer enfartar — sem a confiança que vai ser diferente. Que vamos conseguir brigar para ganhar de verdade.
Acreditem em mim: vencer a Sul-Americana é fundamental para enterrarmos esse Complexo de Guanabaristas que insiste em tentar se apossar de nós.
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O problema de querer vencer copas, e isso serve tanto para a do Brasil quanto para a Sul-Americana, é que time que vence copa é time que se supera. Que tem brio, sangue nos olhos e coração na ponta da chuteira, algo que deveria ser natural para qualquer equipe vestindo o manto sagrado, mas… Zé Ricardo vem se revelando um tremendo especialista em acabar com o pouco dessas características que ainda sobrou no nosso elenco.
Resta rezar para que a Magia Flamenga, aquela que transforma sapos em príncipes, garotos em guerreiros, beija-flores em urubus, faça nosso esquadrão despertar do coma.
Será imenso o desafio.
Ainda mais sem o Maracanã como catalizador para assombrar os outros, afinal não somos um time que tem torcida, mas uma torcida que tem um time.
O Flamengo precisa voltar a ser Flamengo. Apesar do Zé Ricardo no comando.
Pedro Henrique Neschling nasceu no Rio de Janeiro, em 1982, já com uma camisa do Flamengo pendurada na porta do quarto na maternidade. Desde que estreou profissionalmente em 2001, alterna-se com sucesso nas funções de ator, diretor, roteirista e dramaturgo em peças, filmes, novelas e seriados. É autor do romance “Gigantes” (Editora Paralela/Companhia das Letras - 2015).
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Pedro Henrique Neschling nasceu no Rio de Janeiro, em 1982, já com uma camisa do Flamengo pendurada na porta do quarto na maternidade. Desde que estreou profissionalmente em 2001, alterna-se com sucesso nas funções de ator, diretor, roteirista e dramat...