O Flamengo não sentiu falta dos afastados

03/11/2015, 14:10

O Flamengo chegou a um nível de atuação tão medíocre que, pelo 2° fim de semana consecutivo, optei por ver a Fórmula 1 ao vivo e o jogo do Flamengo pelo VT. Mesmo sabendo do resultado e vendo as críticas dos amigos, ainda assim fui ver o jogo para analisar como o time ficou após a suspensão.

Antes, porém, vale ressalvar que não só fui a favor da suspensão como acho que já deveria ter ocorrido antes pelo notório comportamento dos jogadores, que vem afetando o desempenho deles em campo. Essa postura da imprensa 7 x 1 é ridícula, tiveram quase um dia inteiro para opinar sobre o fato e esperaram a decisão do Flamengo para fazê-lo e ainda batendo forte no clube com o frágil argumento de que o jogador na folga pode fazer o que quiser.

Foto da festa que culminou na suspensão

Jogador de futebol é atleta, seu rendimento depende de estar 100% fisicamente e, sabe-se que festas que duram um dia ou mais, cheia de mulheres e bebidas que consomem até caírem de bêbados prejudicam imensamente o desempenho físico de qualquer atleta. Não descansam como devem, ficam mais propensos a lesões e ainda não suportam jogar com intensidade como se espera.

Oras, como podemos dizer que aquele grupo se comporta desse jeito por uma foto? Basta olhar o arquivo de matérias sobre o Flamengo que veremos os jogadores do grupinho não treinando por se sentirem mal (até dor no glúteo apareceu como desculpa), se lesionando frequentemente na temporada e demorando a voltar de lesão, fora jogadores passando mal durante os jogos, pedindo pra sair antes do fim do jogo.

Exemplo: Paulinho, de todas as vezes que começou como titular neste 2° turno, só ficou em campo o jogo todo contra o Atlético-MG.

Portanto, a postura do clube passa longe de ser moralista, a vida desregrada incompatível com a profissão de atleta está obviamente prejudicando os jogadores envolvidos. Todos estão jogando muito abaixo do que poderiam, Marcelo Cirino inclusive está afastado por lesão e, após passar por cirurgia, ao invés de estar se dedicando a se recuperar para voltar o quanto antes estava na esbórnia! Quer maior descompromisso para um atleta que este?

Terminada a argumentação prévia, vamos a análise de Grêmio x Flamengo, jogo que todos já consideravam de extrema dificuldade pelo momento dos times e pelo histórico horrível para o rubro-negro de confrontos na casa gremista. Mas é claro que a imprensa 7 x 1 estaria a postos para criticar profundamente o clube por afastar titulares em um momento onde o Flamengo ainda tinha “chances” de brigar pelo G4.

Oswaldo teve muito pouco tempo para treinar a nova formação com 4 desfalques, mas tinha opções disponíveis para mexer no time e torná-lo até mais consistente. Isso passava inclusive por opções de troca de esquema tático, podendo usar o 4-4-2 com Guerrero e Kayke juntos. Mas partindo do ponto que Oswaldo prefere morrer abraçado ao esquema a trocá-lo e ter chances de algo maior, vamos as opções de troca:

Éverton: Gabriel e Matheus Sávio. Ainda haverá Sheik após a suspensão.

Paulinho: Luiz Antônio, Matheus Sávio, Gabriel, Baggio, Kayke.

Alan Patrick: Luiz Antônio, Jajá, Matheus Sávio

Pará: Luiz Antônio e Ayrton

É importante destacar que Éverton, Alan Patrick e Paulinho são a linha de 3 do 4-2-3-1 de Oswaldo, portanto um setor inteiro foi trocado no meio da semana que ainda tinha a viagem para Porto Alegre. Era óbvio que os jogadores que entrassem teriam o problema da falta de ritmo e entrosamento que os faria oscilar durante o jogo e errar algumas jogadas com os jogadores do time titular.

A escolha dos substitutos foi óbvia nas entradas de Gabriel e Ayrton, porém eu não teria colocado Jajá no meio e Luiz Antônio na ponta, preferiria ter começado com Luiz Antônio no meio e Kayke na ponta para ter um ataque mais forte e maior presença na área, além de poder trocar pro 4-4-2 se necessário sem fazer substituições.

Flamengo assim começou com Paulo Victor- Ayrton, César Martins, Wallace, Jorge – Canteros, Márcio Araújo – Luiz Antônio, Jajá, Gabriel – Guerrero

Como podem ver havia um desequilíbrio fácil de notar pela escalação. No lado esquerdo teríamos jogadores mais agudos e ofensivos com pouca solidez defensiva, Wallace torto tem problemas para cobrir na esquerda, Jajá não é um volante marcador e Gabriel não tem boas habilidades de marcação. Já o lado direito estava mais sólido com Luiz Antônio podendo cobrir as subidas de Ayrton, mas para funcionar todos precisam recompor rápido e, obviamente, faltava treino para trabalhar esse movimento.

Jorge se desdobrava pra atacar e defender. (Fonte: Fox Sport)

O primeiro tempo foi equilibrado com o Flamengo ligeiramente melhor. A entrada de Jajá melhorou a troca de passes no meio e fez Canteros subir de produção, mas apesar do trabalho mais qualificado com a bola na transição da defesa para o ataque, ainda havia muitos problemas no último passe, o Flamengo pouco criou em termos de jogadas claras de gol e Guerrero teve poucas chances, deixando mais difícil seu trabalho.

Na marcação Ayrton deixava muito buraco como de costume, mas o setor esquerdo era ainda o mais explorado e, talvez por isso, o jogo foi para o intervalo com o placar inalterado. Por mais que houvesse falhas de cobertura, Jorge ainda conseguia segurar as pontas por ali e dar tempo pro Wallace se posicionar, além de contarem com Márcio Araújo ainda dando piques. Jajá, que não tem grande habilidade na marcação, se esforçava e por vezes chegava muito duro e de modo precipitado.

Minha sugestão na hora do jogo, a partir dos comentários que vi, era a de trocar Ayrton – em dia ruim – por Matheus Sávio e recuar Luiz Antônio para jogar como lateral, já que ele é o mais equilibrado entre habilidades ofensivas e defensivas (inclusive, por mim, seria o titular absoluto da posição). Talvez até poderia ser interessante inverter Gabriel e Sávio de lado de modo a explorar o entrosamento dele com Jorge e Jajá.

Oswaldo obviamente não teve a leitura adequada do jogo e não mexeu, enquanto do outro lado Roger, conhecendo seu time muito bem, substituiu Pedro Rocha por Everton. O Grêmio voltou diferente, mais ofensivo, conseguindo mais volume de jogo e, o Flamengo, ainda “dormindo” como de costume após voltar do intervalo.

O gol aos 7 minutos de jogo foi justamente em cima das falhas do setor direito, pouco exploradas pelo Grêmio no 1° tempo. Vejam no replay como Luan entra pelo buraco deixado por Ayrton e César Martins, Wallace tem que correr para cobrir a direita e também erra ao não dar combate enquanto o resto da defesa deixava Everton entrar pelo meio da área, livre para escorar pro gol.

E, como acontece em todos os jogos em que o Flamengo sai atrás no placar, o time se abateu, alguns jogadores começaram a se precipitar tentando resolver enquanto outros se arrastavam prevendo a derrota iminente. Aqui abrirei um parêntese para criticar a recente declaração do Fred Luz sobre o departamento de psicologia do Flamengo:

É chamar o torcedor de otário elogiar o trabalho do departamento de psicologia e seus efeitos positivos sobre o time de futebol!

Obviamente eu não esperava que um funcionário do clube criticasse abertamente o departamento, mas isso não significa que deva elogiar. Pelo contrário, deveria dizer que vai trabalhar para tornar obrigatório que os jogadores façam acompanhamento com os psicólogos e trabalhos específicos de grupo. Para quem não sabe, o departamento não tem acesso direto aos jogadores, eles podem escolher procurar ou não os psicólogos… não dá nem para comentar isso de tão amador que é, principalmente frente ao que vemos nos jogos.

Não foi surpresa ver Guerrero perder a cabeça e, apenas 7 minutos após o gol, fazer uma falta dura e, ao invés de aceitar quieto o amarelo, reclamar do juiz explicitamente. O vermelho foi bem dado, pode-se criticar a determinação da CBF sobre amarelar quem reclama da arbitragem independente da forma, mas a regra é clara e vigente desde o início do ano.

Oswaldo, vendo o time cair de produção drasticamente e todo desorganizado com um a menos, deixar buracos na defesa que permitiam ao Grêmio chegar com perigo, o que inclusive obrigou Paulo Victor a fazer algumas grandes defesas, não conseguiu orientar os jogadores e só foi mexer aos 20 do 2° tempo. Mas pior do que a demora em agir foi a solução encontrada.

Precisando ficar com a bola e atacar com velocidade, mas precisão. Oswaldo colocou em campo um jogador que tem velocidade, dribla bem, mas tem péssima visão de jogo, erra muitos passes e finaliza muito mal. Não, obviamente não foi Paulinho, mas sim seu “substituto” vindo da base: Thiago Santos.

Matheus Sávio tinha jogado super bem no meio da semana, criado chances de gol, chutado de longe com muito perigo, além de ter atuações muito positivas no profissional e Oswaldo ao invés de chamá-lo coloca Thiago Santos!? Pior, ao invés de tirar Ayrton tirou Luiz Antônio, resolvendo deixar o criador de avenidas na lateral, que estava sendo dominada por Luan.

O Flamengo, perdido em campo, tinha Thiago Santos errando passes no ataque e cedendo contra-ataques perigosos, os meias mal tinham pernas, principalmente com Canteros tendo que aparecer como centroavante. Aí Oswaldo, “brilhante” novamente, ao invés de tirar o exausto e, no momento, nulo Jajá, tirou Canteros para a entrada de Kayke, o que abriu um pouco mais o meio de campo, que perdeu intensidade na marcação e passou a ser ainda mais dominado pelo Grêmio.

Comemoração após o 1° gol. (Fonte Grêmio)

Após uma pressão forte do time da casa, César Martins conseguiu recuperar a bola e foi puxar contra-ataque, o zagueiro direito foi para a ponta esquerda atacar (!??), obviamente perdeu a bola e, ao invés de correr pra recompor, colocou a mão no joelho, exausto. A jogada transcorrendo e ele se arrastando pro meio do campo, no lado esquerdo… preciso dizer o que houve?

Bobô disparou pelo meio, recebeu o lançamento de Marcelo Oliveira, César Martins vinha correndo da linha de meio campo pela esquerda, Wallace havia ido pra direita cobrir a aventura do camisa 3, os dois correram tentando chegar em Bobô sem conseguir chegar sequer perto, antes do atacante parar e tocar por cobertura na saída de Paulo Victor para marcar o 2° gol.

Apesar do placar ter ficado em 2 x 0 pro time da casa, poderia ter sido uma goleada feia já que teve bola na trave, jogador perdendo gol e Paulo Victor fazendo milagre. Se o 1° tempo o Flamengo dominou sem conseguir concretizar nada, no 2° o Grêmio deu um banho seja fora de campo com alterações precisas do treinador, seja dentro de campo com posse qualificada da bola, mais garra e um preparo físico muito superior.

O que levou o Flamengo a perder está muito além de 4 quatro jogadores que já não vinham rendendo em campo, então não, o “Bonde da Stella” não fez falta. O que anda fazendo falta ao Flamengo é comando para fazer os jogadores quererem correr e dar 110% em campo, cobrar postura fora do horário de trabalho, responsabilidade, desempenho e trabalho duro do treinador; também falta estrutura para deixar os jogadores em forma, trabalhar o psicológico do time, fazê-los trabalhar em 2 períodos e não só pela manhã ou só pela tarde.

E, para o próximo jogo, espero que Oswaldo treine melhor a equipe, mostre que aprendeu com os erros e pare de fazer lambança nas substituições, que dê o mínimo de condições para o Flamengo vencer o Goiás, que vinha de péssima sequência até virar sobre o Internacional na última rodada.

Saudações Rubro-Negras


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