O Flamengo não foi bem, mas pelo menos foi melhor do que os caras
Se você tem acompanhado o noticiário rubro-negro nos últimos dias você sabe que uma das mais tradicionais e confiáveis instituições brasileiras está de volta. Sim, ela. A “crise na Gávea”. Seja pelo fracasso na final do Carioca, seja pelo baixo nível do futebol apresentado, seja pelos bizarros relatos de um Flamengo estilo “Gangues de Nova Iorque” em que facções do elenco brigam pelo poder enquanto Bruno Henrique discute com Paulo Sousa por conta de relógios atrasados no CT, a sensação é de que a equipe rubro-negra está rapidamente chegando num nível de caos e hostilidade tal que em breve Will Smith e Chris Rock estarão no Ninho do Urubu realizando um seminário sobre comunicação não-violenta.
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Somando a isso todo o confuso processo pré-jogo, em que a partida foi cancelada por um toque de recolher apenas para que o toque de recolher fosse recolhido e ela pudesse ser realizada — ainda que com portões fechados para proteger a sofrida população peruana da experiência de testemunhar Gustavo Henrique e Andreas Pereira titulares — e você tem um daqueles cenários em que, novamente, não existiam grandes motivos para animação, otimismo, alegria ou qualquer um dos outros divertidamente que ficam naquele lado do cérebro com cores mais clarinhas.
E como de onde menos se espera é que não vem nada mesmo, o time rubro-negro que nas últimas partidas havia mostrado irregularidade técnica, confusão tática e uma sensação geral de que o grupo se encontrava brigado com a comissão técnica, a diretoria e a bola, teve mais uma atuação cheia de irregularidade técnica, confusão tática e uma sensação geral de que o grupo se encontrava brigado com a comissão técnica, a diretoria e a bola.
Arão mais uma vez errava passes tão simples que o erro parecia exigir mais esforço que o acerto; Gabigol mais uma vez parecia ter sido substituído pelo próprio sósia; a defesa mais uma vez penava para conter os avanços de um time tecnicamente mais fraco; a armação mais uma vez demonstrava níveis de ineficiência que fariam o Detran-RJ parecer a NASA; a compactação e a cobertura mais uma vez eram miseravelmente falhas, deixando entre os setores rubro-negros espaços do campo tão vastos e improdutivos que poderiam tranquilamente ser desapropriados para realização da reforma agrária.
Mas como dizia aquela famosa piada sobre dois homens fugindo de um urso, em que um amigo pergunta para o outro qual o sentido de correr se nenhum deles vai ser mais rápido que o animal e ouve como resposta “mas eu não preciso ser mais rápido que o urso, só preciso ser mais rápido que você”, o Flamengo não precisava jogar bem, apenas jogar melhor do que o Sporting Cristal. E dado o nível técnico não tão elevado da equipe peruana, isso acabou acontecendo, com um gol de Bruno Henrique e outro de Matheuzinho, possivelmente o melhor atleta rubro-negro na noite de hoje — não que a competição tenha sido tão acirrada.
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Com isso o Flamengo, ainda que em crise, ainda com os mesmos problemas, ainda que tão longe de apresentar um bom futebol que o ônibus pro bairro da organização tática não passa nem perto do Ninho do Urubu, conseguiu estrear com pé direito na Libertadores da América. Ainda há muito para resolver, ainda há muito para melhorar, o romântico Paulo Sousa segue preso em relações tóxicas com diversos jogadores, mas o resultado positivo ao menos permite um fôlego, um respiro, alguns dias de paz no processo de reconstrução da equipe que o treinador parece querer comandar. E como ficou mais uma vez claro na partida de hoje, o português irá precisar de cada minuto de paz e cada voto de confiança da torcida, porque, pelo amor de deus, este homem tem muito trabalho pela frente.