O Flamengo de Oswaldo - Análise tática e estatística

15/09/2015, 12:15

Náyra M. Vieira | Twitter @NayraMV

Oswaldo passando instruções em treino. | Foto Gilvan de Souza/Flamengo

Desde que Oswaldo de Oliveira assumiu o comando do Flamengo, a torcida rubro-negra não sabe o que é derrota, ao contrário do que acontecia com seu antecessor, porém muitos se perguntam o que mudou, já que os jogadores são os mesmos.

Ao contrário do que muitos pensam, treinador não é um mero motivador que distribui coletes, não existe no futebol profissional do século XXI essa de não atrapalhar e deixar que os caras resolvam em campo, ainda mais no Brasil, onde os jogadores pouco consomem ou estudam futebol.

O mais óbvio para todos que veem os jogos é que ao invés de um bando, temos no campo um time onde os jogadores conhecem suas funções e sabem exatamente quais espaços devem ocupar, foi dito para eles por onde correr, assim há um menor desgaste físico e maior produtividade.

Quer ver um bom termômetro disso? Pensem nos jogos pré-Oswaldo e no quanto cada um de vocês reclamou ou viu alguém reclamar do Canteros, que no ano anterior foi inegavelmente um dos responsáveis pela recuperação do time quando chegou no meio do ano. Ninguém em sã consciência pode dizer que ele não tenha um bom futebol ou não seja ótimo jogador, porém era fato que não rendia nem 50% do que poderia ou já havia rendido em 2014.

A queda de rendimento de Canteros está intimamente ligada a bagunça tática, pois se os jogadores não sabem que espaço ocupar, como se deslocar, fica difícil para executar a saída de bola, principalmente se insistem em posicioná-lo como um 10. Com Oswaldo organizando o time, Canteros consegue executar saídas mais limpas, fazer triangulações com Pará e Sheik ou quem cair pela direita, inclusive tendo feito imensa falta no jogo em que cumpriu suspensão.

O desenho tático também mudou, antes Cristóvão usava o 4-3-3 com um meio engessado e muito distante do ataque, já Oswaldo implantou o 4-1-4-1 que no ataque vira um 4-2-3-1, a exceção do último jogo onde o time atuou mais no 4-3-3 pelos desfalques. Com o meio mais e melhor povoado, sendo um dos volantes bem fixo a frente da zaga e outros dois que se alternam entre avançar e ficar a depender do lado pelo qual se ataca, podendo aparecer de trás para finalizar, ganhamos não só mais qualidade na transição da bola, como mais presença na área, sem deixar a linha de zaga desprotegida.

Abaixo alguns números comparando o desempenho do Flamengo no 1° turno, apenas os 6 primeiros jogos do 1° turno e os 6 jogos do 2° turno. Depois a mesma referência do 1° turno de Corinthians e Atlético-MG, que continuam sendo os melhores times da competição.

 

Atacando

1° Turno 6 do 1° Turno 2° Turno
Média de chutes a gol por jogo 13,32 13,333 13,5
Percentual de acertos no gol 32,41% 27,5% 41,98%
Conversão em gols 25,61% 31,82% 41,18%

 

Defendendo

1° Turno 6 do 1° Turno 2° Turno
Média de chutes a gol por jogo 10,37 11,666 10,833
Percentual de acertos no gol 31,44% 31,43% 24,62%
Conversão em gols 45,9% 45,45% 18,75%

 

Atacando

Flamengo Corinthians Atlético-MG
Média de chutes a gol por jogo 13,32 11,95 14,79
Percentual de acertos no gol 32,41% 37,44% 36,65%
Conversão em gols 25,61% 31,76% 32,04%

 

Defendendo

Defendendo
Média de chutes a gol por jogo 10,37 12,53 10,74
Percentual de acertos no gol 31,44% 34,45% 35,78%
Conversão em gols 45,9% 17,07% 24,66%

 

Primeiramente, observemos a defesa e o número assustador de conversões, ou seja, número de finalizações na direção do gol que viraram gol. Assustadoramente mais de 45% de todas as finalizações certas viravam gol do adversário, enquanto no Corinthians o percentual era de ridículos 17, 07% e do Atlético-MG 24,66%, até o Vasco – pior time da série A – tinha um percentual menor: 38,75%. Os precipitados dirão que a culpa é do goleiro, porém o mesmo goleiro agora sofre gol em apenas 18,75% dos chutes que vão na direção do gol, será que Paulo Victor melhorou tanto ou será que a resposta está no espaço que a defesa dá para o adversário finalizar?

Vejam que não tem muita diferença na quantidade de chutes que os times dão na direção do gol adversário, a média de finalizações certas que um time sofre é de 33,18% dos chutes dados pelos adversários, nada muito diferente entre Corinthians e Flamengo, a diferença é que enquanto a defesa do líder da competição oferece pouco espaço, dificulta para o adversário chutar, a do Flamengo dava todo espaço, muitas vezes Paulo Victor ou César ficavam cara-a-cara com o atacante e não tinha muito o que fazer. Agora pensem em quantas vezes isso aconteceu nos últimos 6 jogos ou quantas defesas difíceis Paulo Victor fez e verão que ter uma zaga protegida com um volante fixo a frente faz toda a diferença.

Alan Patrick e Kayke são símbolos da arrancada. | Foto Gilvan de Souza/Flamengo

No ataque a mudança não foi tão brusca, mas inegavelmente relevante. O Flamengo consegue trabalhar mais a bola e assim fazer jogadas mais mortais, também coloca mais jogadores dentro da área, dando mais opções para quem arma, fora as chegadas de trás do Alan Patrick e às vezes de Canteros e Luiz Antônio. A prova disto é que a troca de passes média do Flamengo no último terço do campo, zona de ataque, durante o campeonato (incluindo os 6 jogos do returno) é de 28%, porém se contabilizarmos apenas os 6 últimos jogos temos 32,45%. Se você trabalha mais a bola e cria melhores chances, os mesmos atacantes que antes transformavam 25,61% das finalizações certas em gol, agora o fazem em 41,18% das vezes, explicando os placares elásticos a favor.

Todos esses números mostram que enquanto no primeiro turno, com Cristóvão, o Flamengo tinha números compatíveis com o Vasco, agora os números do Flamengo são compatíveis com os de Corinthians, muito melhores que os do Atlético-MG, e explicam o porquê de o Flamengo estar sim disputando o título. Com uma organização tática eficiente, a motivação certa e com a conquista da confiança do grupo, hoje o Flamengo independe de jogador, os desfalques não afetam o rendimento e isso é exatamente o que torna o Corinthians diferente de todos os outros times da competição, se não houver tempo de reverter a vantagem, coloquemos na conta de quem acha que treinador é figurante e deve ser mantido independente de resultados.

Saudações Rubro-Negras

 


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