O Fla contra o Ceará em Fortaleza: invencibilidade, fratura e expulsão
O Memória Rubro-Negra relembra tabu positivo do Fla contra o Ceará na história dos Brasileiros e o maior de todos os duelos entre as equipes
O Flamengo tem uma escrita a seu favor a ser mantida na partida deste domingo contra o Ceará no Castelão, pela terceira rodada do Campeonato Brasileiro. Considerando a disputa do torneio nacional a partir de 1971, o Rubro-Negro enfrentou o Vozão em Fortaleza seis vezes e nunca perdeu: foram três vitórias e três empates. Há ainda uma partida pela Taça Brasil, torneio que passou a ser equiparado ao Brasileirão pela CBF, e que registrou o confronto mais marcante entre as duas equipes na capital cearense.
O jogo pela Taça Brasil de 1964 foi a partida mais turbulenta e repleta de incidentes entre os dois times em Fortaleza. Em sua única participação no torneio, para o qual se classificou ao ter se sagrado o campeão carioca de 1963, o Fla entrou direto nas semifinais e teve como primeiro adversário justamente o Ceará, mandante do jogo de ida no estádio Presidente Vargas. E o lance mais lembrado da partida aconteceu no fim do primeiro tempo, que terminou em empate sem gols.
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Num ataque cearense, o meia rubro-negro Nelsinho foi tentar rebater uma bola e levou uma solada do atacante Gildo, do Ceará. Ficou deitado no gramado por mais de um minuto, já que o árbitro não parou a partida. Quando recebeu atendimento, percebeu-se a suspeita de fratura da tíbia e do perônio direitos, depois confirmada na radiografia. Como se não bastasse, após o jogo, a ambulância que o levava do hotel em que o Fla estava hospedado até o aeroporto foi atingida na traseira por um táxi, o que agravou a lesão. O meia só voltaria a campo quase dez meses depois, numa excursão rubro-negra à Espanha.
Com Evaristo entrando no lugar de Nelsinho, o Fla chegou a marcar com Aírton no começo da etapa final, mas o árbitro anulou equivocadamente, marcando um impedimento inexistente. Pouco depois, o lateral-direito Murilo cabeceou um cruzamento de Amauri e enfim, abriu o placar para os rubro-negros (embora dessa vez os cearenses tenham ficado na bronca pedindo impedimento). De qualquer forma, mais tarde o Flamengo ampliaria com Amauri chutando forte uma sobra de jogada de Evaristo na área.
Nos acréscimos do segundo tempo, o árbitro viu um toque de mão de Murilo dentro da área rubro-negra e apitou pênalti para o Ceará. O goleiro Marcial defendeu a primeira cobrança, mas o juiz mandou voltar alegando invasão. No segundo chute, o lateral William converteu e descontou para 2 a 1. Apesar das trapalhadas do árbitro e da truculência do adversário, o Fla conseguiu escapar ileso e com a vitória. Mas Nelsinho ainda passaria por outro incidente.
Já pelo Brasileirão a partir de 1971, os confrontos começaram logo na primeira edição do torneio. Naquele ano, o Flamengo derrotou o Ceará por 1 a 0 em partida também realizada no PV, num jogo tecnicamente fraco, salvo apenas pela grande exibição do zagueiro paraguaio Reyes, que não satisfeito em bloquear todas as investidas do time da casa, ainda foi à frente para criar a jogada do gol rubro-negro, marcado pelo ponta Arílson, aos 41 minutos da etapa final.
No ano seguinte, o Flamengo voltou a Fortaleza e agora sim presenteou os torcedores locais com uma ótima atuação, liderada por um Paulo César Caju em tarde de gala. Depois de Doval ter tido um gol mal anulado logo aos três minutos, o ponta-esquerda abriu o placar cobrando pênalti e ampliou aproveitando um rebote do goleiro. Na etapa final, depois de trocar passes, Zanata fez o terceiro aos 12 minutos. Só mesmo na última volta do ponteiro é que o Ceará descontou, com gol de Élcio.
O Flamengo retornou ao Presidente Vargas mais uma vez em 1973, mas desta vez teve de se contentar com um empate em 1 a 1: Zico abriu o placar após tabelar com Doval no primeiro tempo, mas o time recuou demais na etapa final e deixou a vitória escapar ao sofrer um gol de Vitor, numa falha de defesa. Aquele seria o último confronto entre as duas equipes em 12 anos: o jogo seguinte aconteceria no Castelão, em 1985, pela abertura da segunda fase do Brasileirão, mas com o mesmo resultado do anterior.
Os donos da casa saíram na frente com gol do centroavante Anselmo (o mesmo campeão da Libertadores e mundial com o Fla em 1981), que encobriu Fillol. No segundo tempo, porém, Andrade cabeceou um cruzamento de Adílio da esquerda e empatou. No fim, o goleiro argentino rubro-negro se redimiu com excelentes defesas para garantir o resultado. Mas o jogo mereceu destaque menor nos jornais. É que no dia seguinte, 5 de julho de 1985, o Flamengo encaminhava o acerto para trazer Zico de volta à Gávea, depois de dois anos atuando no futebol italiano.
Os dois últimos confrontos vieram já no Brasileirão por pontos corridos: em 2010, o Fla empatou em 2 a 2 depois de sair duas vezes na frente no marcador. O zagueiro Wellinton fez o primeiro e o Ceará empatou com Magno Alves. O filho da terra Ronaldo Angelim deixou o Flamengo de novo em vantagem, mas outra vez Magno Alves igualou o placar. Já no ano seguinte, o Fla enfim venceu no Castelão por 1 a 0, gol de cabeça de Deivid. O Fla ainda teve Ronaldinho Gaúcho expulso, juntamente com Heleno, do Ceará.
Imagem destacada no post e redes sociais: Reprodução
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Emmanuel do Valle é jornalista e pesquisador sobre a história do futebol brasileiro e mundial, e entende que a do Flamengo é grandiosa demais para ficar esquecida na estante. Dono do blog Flamengo Alternativo, também colabora com o site Trivela, além de escrever toda sexta no Mundo Rubro Negro.
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