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Não sou afeito a palanques meramente críticos. Prefiro identificar problemas e sugerir novos processos, fotografar novos cenários e ajudar na construção de um novo pensamento. Por isso estou aqui, como louco, no meio da praça, falando aos quatro ventos.
O Flamengo de hoje é um clube em busca de sua identidade, isso me parece claro. Portanto, é época boa de grande ebulição. Quem é atento às biografias de instituições e pessoas, não pode deixar de notar que nenhuma mudança é tranquila. Limar a velha camada de vícios encruada é grande dor. Pessoas e organizações – possuem essências inerentes e a coragem de se mudar conscientemente deve ser um norte percorrido com fé inabalável.
- É apenas futebol, cara. Que viagem é essa? – Um cara branco, de terno, com trejeitos típicos de um funcionário medianamente bem-sucedido me interpela. Escutava meu discurso em voz alta com olhar curioso e riso de canto. Uma dúzia de pessoas me rodeava. Eu mantive o olhar altivo e com voz densa e sonoramente grave retomei.
O Flamengo, senhores, não é apenas futebol. Ele é uma realidade sociológica, parte inconfundível da personalidade brasileira. O Flamengo inventou a torcida. O Flamengo inventou a paixão futebolística nesse país. Ele retirou as amarras aristocráticas do esporte bretão, quando seus ancestrais jogadores, personificaram uma gentileza que, somente meio século depois, Sérgio Buarque de Holanda descreveria como uma das características do Homem Cordial Brasileiro.
- Esse cara é maluco! – De forma discreta, porém audível, com um gesto ascendente com o braço esquerdo cortando o ar e a palma da mão em facão, o homem medianamente bem-sucedido se virou e foi embora. Olhei para os lados. A platéia formara uma meia-lua, como uma barreira mal enfileirada para a cobrança de um tiro indireto dentro da área. Minha voz dessa vez soou mais aguda, como o petardo de um exímio cobrador de bola parada.
O Flamengo de hoje não sabe bem o que quer. Ele quer ser bom ou mal? Não é uma questão fácil de resolver. Thoreau disse que é preferível cultivar o respeito do bem que o respeito pela lei. O que é ser bom ou mal no futebol? Pergunto aos amigos que aqui estão, apenas de passagem, sob o sol de linda manhã carioca em seu Largo mais popular. Vocês andam reconhecendo o Flamengo?
Achei um cara vestido com uma fantasiosa camisa pirata, Adriano nas costas, holandesa da Batavo no peito e um punhado de detalhes que a coloriam humoristicamente. Perguntei-lhe o que representava o Flamengo em sua vida. Coerentemente disse que o Flamengo é carnaval.
José Lins do Rego, do alto de um degrau de arquibancada, feito de púlpito, sentenciou: "Há no Flamengo esta predestinação para ser, em certos momentos, uma válvula de escape às nossas tristezas. Quando nos apertam as dificuldades, lá vem o Flamengo e agita nas massas sofridas um pedaço de ânimo que tem a força de um remédio heróico. Ele não nos enche a barriga, mas nos inunda a alma de um vigor de prodígio".
Quando eu disse esse versículo de Zelins, um jovem, moleque de uns 18 anos com cara de funqueiro e favelado gritou Mengo alto. “É essa porra merrmo. Flamengo é só alegria” e saiu saindo com a pressa. Nesse momento mais de 50 pessoas me rodeavam. Era como se eu fosse a marca inicial no centro do gramado.
Enchi meus pulmões.
Ouçam vocês e levem este teor adiante. O Flamengo precisa ser um novo Flamengo? Precisa se reinventar? Não. O Flamengo é perfeito em essência e forma. Ele apenas está adormecido.
Clube-cidadão, Clube-responsável, Clube-superavitário, Clube-politicamente-correto. Isso tudo virou bobagem verborrágica um segundo depois que o Conselho Deliberativo aprovou a Lei de Responsabilidade Financeira. Acabou esse papo de usar este posicionamento gerencial para acobertar falhas na comunicação do Clube com seu torcedor. Nós todos, nacionalistas rubro-negros já sabemos que o clube mudou. Agora as contas são pagas, o orçamento é respeitado, o clube fatura bem. É isso. Já sabemos. Isso sempre foi obrigação, parece que nunca foi muito bem colocado em prática no passado e agora é. Ponto final. Já deu. Obrigado por isso, mas já acabou. Vamos partir para outras problemáticas?
A bandeira deve ser o seu torcedor. Vocês não querem o Flamengo cada vez mais junto de vocês? O que é preciso fazer para que todos se sintam parte do clube? Eu tenho muitas ideias e com certeza todos têm as suas. Sou da teoria de que quanto mais pitoresco, inacreditavelmente original e risível é algo, maiores são as chances de dar certo.
Fala-se muito em marketing. É marketing pra lá, ação de marketing pra cá, ativação acolá...
Está na hora de ser diferente, Flamengo. Está na hora de estabelecer uma conversa com seu torcedor. Como fazer? Oras... Eu posso dar dezenas de ideias aqui, como disse; cada um tem as suas. Porém, quero pensar na motivação dessas ideias: está errado pensar em primeiro lugar na grana. O último desejo deve ser lucrar.
- Ô maluco, se liga aê pô. O Flamengo não é caridade não. – escuto o sotaque de playboy. Quem passa pelo Largo da Carioca continua parando para me escutar. O meu monólogo por uns minutos vira debate. As pessoas estão conversando sobre o Flamengo. Ele é mais importante que tudo agora. Que o ponto biométrico do trabalho a acusar o atraso, o pão na chapa quentinho da padaria, o afastamento de Cunha em Brasília, o capítulo da novela da Globo, a morte no seriado da NetFlix, o lançamento do filme da Marvel no cinema, o beijo de despedida na namorada.
Não adianta estabelecer paralelos com outras realidades. O torcedor do Flamengo, sua ampla maioria, é um cara que corre atrás de muita coisa. Ele é um empregado e não o empregador. Ele está cansado de ajudar o clube há mais de 30 anos. Ele é um cara que vê o Flamengo como time de futebol e com certeza se orgulha do clube ter basquete e outros esportes para torcer tipo um bônus.
Quando disse isso, uma pausa se estabeleceu. Eu estava chegando ao fim da minha exposição de ideias. Resolvi fazer algumas perguntas ingenuamente simples dirigidas aos nossos mandatários.
Os dirigentes do Flamengo esqueceram que precisam amar sua torcida?
Os dirigentes do Flamengo enxergam torcedores ou clientes?
Quando os dirigentes do Flamengo farão algo pela torcida que não seja apenas uma troca comercial?
- Meu camarada, sua lógica é que o clube gaste grana promovendo uma aproximação com a torcida. Entendi. Porém não tem cabimento. Por exemplo, como abrir o Maracanã de graça? – disse um estudante com cara de presidente de grêmio.
Sim. Não tem como abrir o Maracanã para jogos gratuitos. Não estou falando de se gastar dinheiro ou gastar muito dinheiro. Falo de se relacionar com a torcida retirando-se da obviedade comercial. E usar a criatividade para colocar isso em prática. O povo flamengo é explorado desde que acorda até o final do dia. Como disse Zelins, o Flamengo é a válvula desse povo. Estamos perdendo nossa paixão porque o Flamengo não consegue raciocinar fora da caixa monetária. Pelo amor de São Zico, compatriotas flamengos, não estou falando de sistema político ou financeiro. É comunicação. E se comunicar é de graça. Sobretudo para o Flamengo, que tem todas as portas abertas do mundo.
O que vimos esta semana é um presidente perdido. Que não fala nada. Que não está preparado para ser o estadista de nossa Nação. Prometeu mundos e fundos tão simples de serem realizados, mas que por omissão, na pior hipótese, ou respeito burocrático/organizacional, na melhor das hipóteses, não são registrados em seu governo.
O presidente do Flamengo, antes um homem moderado pelo respeito ao bem, sentou ao lado de Marco Polo Del Nero, jantou com Dunga, serviu sobremesa para Gilmar Rinaldi e por fim, brindou com Walter Feldman.
Falta a Bandeira de Mello vergonha na cara, um pouco de favela, um pouco de brasilidade flamenga. Ele está totalmente por fora da índole rubro-negra. Seu segundo mandato é péssimo? Claro que não, são apenas cinco meses. Os cinco meses de Bandeira são exequíveis e vergonhosos pois sim. Ele e seu Conselho Diretor não ganharam nada em nada. Zero menos zero é zero na matemática de 2016. Em tudo que se intrometeu este ano o Flamengo perdeu. É um dos maiores desastres em termos de início de mandato que já acompanhei. Apoiadores como eu estão envergonhados. Quem é covarde está sumido. Ninguém quer ficar ao lado do executivo rubro-negro neste momento, pois ele é uma vergonha de cabo a rabo. E agora de rabo preso com a CBF também. Qual o próximo passo, Presida? Apertar a mão de Rubens Lopes? Abraço caloroso em Eurico Miranda?
- Acho que você não tem visto o belo trabalho nas finanças, amigo – novamente o Playboy.
Tenho visto. E já disse. Isso é passado. Já foi institucionalizado. Quero agora que o Flamengo vire Flamengo.
Vou falar pra vocês agora um desabafo.
Quantos milhares de flamengos estão aí querendo apenas uma piscadela do Clube para persegui-lo até o inferno?! Pisque pra gente Flamengo, reata o namoro, fale o que a gente quer ouvir, faça o que a gente quer fazer, seja forte, honroso, polido, raçudo, divertido, criativo, romântico, carnavalesco. E não confunda isso com oportunismo. Isso é ser boa-gente. Oportunismo é dizer que o time não é melhor porque eu não sou sócio-torcedor.
Seja corneta de si, auto-avalie seu dia quando colocar a consciência no travesseiro, como cada um de nós faz. Não acredite que esteja fazendo a coisa certa o tempo todo, como um rei mimado. Venha brincar com a gente na rua, deixe de ser um almofadinha ridículo e volte ser nosso amigão de zoeira de sempre.
Eu não estou te reconhecendo. Não reconheço seu time de futebol. Meu instinto também briga com a razão ao acreditar empiricamente na teoria da transferência de personalidade: nossos jogadores modulam os chefes.
Esgotado.
Queimado pelo sol que já arde na minha pele. Eu agacho, um pouco tonto pelo esforço de barítono. Apenas queria ser ouvido. Abaixo o rosto resoluto, resignado e sem maiores desígnios sobre o Fla, essa minha maior paixão.
Nesse momento uma menininha se desgarra de sua mãe, corre para me abraçar e diz: “Tio, como eu faço para te ajudar?”
Ajudar em quê amorzinho? - pergunto.
A fazer o Flamengo feliz!
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