O Flamengo vem buscando, nos últimos anos, uma identidade, um jeito de jogar. Um modelo que faça o time parecer menos aleatório dentro de campo.
Está evoluindo. Ainda falta muito, mas hoje conhecemos claramente a maneira como o Flamengo joga.
É um time que gosta da bola. Dá preferência a jogadores técnicos, habilidosos e inteligentes. Até mesmo o volante mais recuado tem qualidades acima da média com a bola.
O meio-campo é o setor mais importante e o jogo inteiro se constrói a partir desse setor. A bola roda de pé em pé o tempo todo. A saída de trás é construída com a bola no chão. O Flamengo tenta manter a posse e evoluir aos poucos, de maneira controlada, dominando os adversários.
Sabemos que é impossível reduzir o futebol a números, mas eles podem ser úteis. Podemos analisar algumas estatísticas do Campeonato Brasileiro do ano passado, sempre comparando os quatro primeiros colocados, para encontrar padrões interessantes.
Ataque
Palmeiras 64 gols | 467 finalizações (5o) | 7,3 finalizações para um gol
Flamengo 59 gols | 501 finalizações (1o) | 8,5 finalizações para um gol
Internacional 51 gols | finalizações 419 (14o) | 8,2 finalizações para um gol
Grêmio 48 gols | 460 finalizações (6o) | 9,6 finalizações para um gol
Média de posse de bola
Palmeiras 51% (9o)
Flamengo 55% (2o)
Internacional 52% (7o)
Grêmio 56% (1o)
Passes
Palmeiras 13.983 (11o) | 89,4% de acerto (14o)
Flamengo 16.837 (5o) | 91,7% de acerto (3o)
Internacional 15.058 (8o) | 90,3% de acerto (9o)
Grêmio 18.815 (1o) | 92,1% de acerto (2o)
Lançamentos
Palmeiras 1.651 (1o) | 43,6% de acerto (3o)
Flamengo 1.143 (18o) | 41,7% de acerto (4o)
Internacional 1.389 (5o) | 38,8% de acerto (11o)
Grêmio 1.078 (20o) | 40,3% (7o)
O que se vê é um time que fica muito com a bola, troca muitos passes e tenta poucos lançamentos. Renê foi o jogador que mais tentou e o que mais acertou passes no campeonato. Atacando o tempo todo, a equipe finaliza muito.
É um modelo parecido com o do Grêmio e bem diferente de Palmeiras e Internacional. Mesmo fazendo poucos lançamentos, o Flamengo lança bem, assim como mantém um excelente aproveitamento nos passes.
Mas ainda temos problemas.
Os adversários encontraram um antídoto: recuam e se defendem no próprio campo, muito agrupados. O Flamengo avança de pé em pé, mas invariavelmente encontra um ferrolho construído à frente da área adversária.
É aí que começa o problema mais grave. O time tem enormes dificuldades de furar retrancas. As partidas no Maracanã contra o Corinthians pela Copa do Brasil e contra o Palmeiras pelo Campeonato Brasileiro são bons exemplos.
Vamos quebrar os números pelo local das finalizações.
Ataque – Dentro da área
Palmeiras 268 (1o) | 51 gols (1o) | 5,2 finalizações para um gol
Flamengo 267 (2o) | 51 gols (1o) | 5,2 finalizações para um gol
Internacional 251 (4o) | 49 gols (3o) | 5,1 finalizações para um gol
Grêmio 233 (8o) | 40 gols (8o) | 5,8 finalizações para um gol
Ataque – Fora da área
Palmeiras 199 (15o) | 13 gols (1o) | 15,3 finalizações para um gol
Flamengo 234 (5o) | 8 gols (3o) | 29,2 finalizações para um gol
Internacional 168 (20o) | 2 gols (19o) | 84 finalizações para um gol
Grêmio 227 (8o) | 8 gols (3o) | 28,3 finalizações para um gol
Quando entra na área, o Flamengo tem um ótimo aproveitamento, mas o time chuta demais de fora da área e não vai muito bem.
Paquetá foi o jogador que mais finalizou na competição, com 91 tentativas. Por incrível que pareça, 57% foram de dentro da área. Vitinho foi quem mais finalizou de longe no Flamengo. Foram 42 tentativas de fora da área, nada menos que 72,4% dos seus chutes – e apenas um gol assim, contra o Inter.
Há, ainda, outro número esclarecedor.
Cruzamentos
Palmeiras 806 (14o) | 23,7% de acerto (2o)
Flamengo 953 (3o) | 19,7% de acerto (18o)
Internacional 984 (2o) | 21,5% de acerto (7o)
Grêmio 761 (18o) | 22,6% de acerto (4o)
O Flamengo lança pouco e bem, mas cruza muito e mal.
Pode-se perceber, então, um padrão: o time troca passes até a entrada da área, o adversário recua e, diante de um paredão, o Flamengo precipita um chute de fora da área ou arrisca um cruzamento qualquer. É um time que constrói aos poucos, mas não tem paciência para desarmar o adversário na hora que mais importa.
E quanto o Flamengo arrisca?
Dribles
Palmeiras 267 (1o) | 67,0% de acerto (13o)
Flamengo 200 (9o) | 71,5% de acerto (11o)
Internacional 231 (5o) | 72,3% de acerto (10o)
Grêmio 232 (4o) | 66,8% de acerto (14o)
Impedimentos
Palmeiras 66 (4o)
Flamengo 42 (19o)
Inter 61 (7o)
Grêmio 55 (11o)
O número baixo de dribles e impedimentos mostram que, de fato, enfrentamos adversários mais recuados que o normal. Mas também mostram que o time arrisca pouco, joga de maneira muito segura. Domina, mas não agride.
Esse será o desafio de Abel para 2019. Arrascaeta e Gabigol são jogadores que podem ajudar muito justamente nesses pontos, mas o time precisa entender, de maneira coletiva, como abrir o cadeado do adversário.
Existem alternativas, mas este é um assunto para outro dia.
Escrevo as análises táticas do MRN porque futebol se estuda sim! De vez em quando peço licença para escrever sobre outros assuntos também.