Pensei muito em escrever esse texto, pois me interessa muito mais falar, refletir e problematizar sobre a agenda do Flamengo. Mas como de certa forma temos ligação com a Odisseia pitoresca da Supercopa, escolhi o atrevimento. E de antemão, vos falo: o tumulto causado pelo clube que está do lado de lá, é puro e simples sinônimo de desrespeito.
A partir de uma narrativa auto bajuladora e repetitiva para propalar seus títulos de 2021 (merecidos, mas relembro o destaque discreto a parte VARiante), como uma tacanha tentativa de sabotagem indireta de um regulamento anterior, acordado e que nada tem a ver com teorias estapafúrdias sobre o Flamengo, que só servem para alimentar parte incauta da torcida que se deita em berço esplêndido de um afã desde a década de 80 (bora passar a régua sobre isso de uma vez?), o Clube Atlético Mineiro pisa, esnoba, caçoa e desrespeita torcedores, as instituições do futebol, mídia esportiva (ainda que estas mereçam ser criticadas e atualizadas com urgência, mas não por pedância) e o futebol como todo.
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É desrespeito com a torcida, inclusive com a sua, pois ao se comportar como o dono da bola que não joga nada e se zanga no primeiro drible tomado, indo embora com a bola debaixo do braço, deixa as torcidas a mercê do acaso e sorte de conseguirem se organizar para prestigiarem a partida. Sem falar na expectativa de quem mora na cidade sede, podendo acompanhar uma partida tão importante.
O fato de eles serem atuais campeões brasileiros e da Copa do Brasil não adiciona quesito algum ou não há nada previsto nos regulamentos de quem organiza as competições nacionais, apontando para delírios sintomáticos de quem não tem costume com títulos. Atestam até para o fato do Flamengo ter começado a pré-temporada antes e aí eu pergunto: o que diabos isso tem a ver para compor nota oficial para a CBF?
Desrespeitam também a mídia e instituições do futebol – apesar de podermos problematizar diversas questões nesta dimensão – ao ser um verdadeiro estouro de narrativas apoiado em achismos, em cultura de perseguição e provas caducas sobre uma assombrosa e terrível história da década de glórias “roubada” pelo “vil”, “torpe”, “amaldiçoado” – risível – Flamengo. E esse círculo de ódio descabido e alucinado é tão real, que se tenta institucionalizar os erros, quando de notas e mais notas da carochinha são acompanhados de vídeos que explicam a trama dos golpes contra o Atlético (vídeo promovido e produzido por eles mesmos).
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Onde estão as provas? Onde estão os fatos? São partes concatenadas de uma ardil e pavorosa transferência de responsabilidade por insucessos futebolísticos a terceiros. Terceiros esses que estavam com a melhor e mais vitoriosa geração até então.
O Clube Atlético Mineiro não prioriza o futebol, não prioriza o respeito a todos os elementos que constituem o futebol. Talvez seja mesmo a ‘parábola’ do dono da bola (e agora é dono mesmo), quem sabe. Mas do ponto de vista material, isso degrada, afunda e distancia as pessoas daquilo que deveria ser o futebol: que mesmo num confronto de adversários históricos, quase que inimigos, só se consegue realizar uma partida, com a festa da torcida, com uma sede reconhecida com antecedência e com todo espetáculo que as equipes possam propiciar.