Me nego a chamar o outrora “Clássico dos Milhões” em “Clássico dos Milhares”. Decidi que, a partir de agora, Flamengo e Vasco possa ser o confronto que represente os milagres capazes de eliminar tudo de ruim que contamina o futebol carioca e, quiçá, o futebol brasileiro.
A bem da verdade, boa parte do que tem ocorrido de ruim com o futebol tem origem exógena. Ou seja, não é algo que começa no futebol, mas que tem na sua velha política dos dirigentes esportivos o ambiente ideal para se propagar.
Vejo muitos elogiarem a nova diretoria do Flamengo por suas atitudes (corretas) que objetivam sanear o Clube. O bom resultado no âmbito financeiro mais cedo ou mais tarde se materializará dentro de campo. Os títulos são apenas questão de tempo. Ou seriam. Afinal o Flamengo disputa campeonatos em que a total ausência de estrutura do futebol carioca o obriga a ser um nômade pelos estádios Brasil afora.
Embora sejamos ferrenhos críticos, o Flamengo nos surpreendeu na temporada de 2016. É verdade que não teve grandes resultados, e foi eliminado precocemente em algumas competições, mas na prática, a terceira colocação no Campeonato Brasileiro superou as expectativas diante de mais um início de competição com a equipe não formada em tempo hábil.
Confesso que demorei em aceitar a construção de um estádio próprio. O problema definitivamente não está no Flamengo. A política destruiu o Maracanã. E destruiu várias vezes. E para cada destruição era inventada uma reforma que custava um dinheiro absurdo. A última acabou com o estádio em que Flamengo e Vasco chegaram a colocar mais de 100 mil pessoas em mais de 20 jogos, só em campeonatos cariocas (exceto em 1983):
Flamengo 3 a 1 Vasco, 174.770, 04/04/1976;
Flamengo 0 a 0 Vasco, 165.358, 22/12/1974;
Flamengo 2 a 1 Vasco, 161.989, 06/12/1981;
Flamengo 0 a 0 Vasco, 160.342, 19/08/1973;
Flamengo 2 a 1 Vasco, 155.098, 01/05/1968;
Flamengo 0 a 0 Vasco, 152.059, 28/09/1977;
Flamengo 0 a 3 Vasco, 134.787, 24/04/1977;
Flamengo 1 a 1 Vasco, 133.444, 13/06/1976;
Flamengo 1 a 1 Vasco, 131.256, 08/06/1969;
Flamengo 1 a 1 Vasco, 130.901, 17/01/1959;
Flamengo 0 a 1 Vasco, 125.988, 07/08/1975;
Flamengo 1 a 1 Vasco, 123.063, 07/10/1956;
Flamengo 2 a 1 Vasco, 122.596, 15/04/1979;
Flamengo 0 a 0 Vasco, 122.481, 19/09/1982;
Flamengo 1 a 1 Vasco, 121.353, 08/05/1983, Campeonato Brasileiro;
Flamengo 0 a 2 Vasco, 121.093, 20/04/1986;
Flamengo 4 a 1 Vasco, 121.007, 10/01/1954;
Flamengo 0 a 0 Vasco, 120.655, 17/09/1978;
Flamengo 1 a 0 Vasco, 120.433, 03/12/1978;
Flamengo 3 a 2 Vasco, 115.943,28/10/1979.
Fonte: Wikipédia
A violência no futebol do Rio de Janeiro começa quando ir a uma partida se torna um desafio. Sempre gostei do Maracanã. É um estádio com excelente localização, e que o acesso pode ser feito por metrô, ônibus, carro, trem e, para que mora nas cercanias, uma excelente opção de lazer.
Mas justamente este estádio, templo sagrado dos grandes confrontos do Brasil, nos traz uma enorme angústia por não ser utilizado. De um lado, um Governo do Estado que está totalmente paralisado diante das demandas sociais e econômicas, de outro um setor privado capitaneado por uma empreiteira que assumiu grandes obras no País, mas que agora agoniza em delações premiadas sigilosas de seus diretores. Ou seja, o Maracanã pode, no máximo, ser uma tábua de salvação para esses atores.
O Maracanã se tornou tão inviável, a ponto do Flamengo preferir jogar fora do Rio de Janeiro, o que para 2017 não será uma opção no Campeonato Brasileiro, com a esdrúxula proibição das vendas de mandos de campo para fora dos estados de origem dos jogos dos times da casa.
É nítido que o Flamengo saiu na frente dos seus rivais do Rio de Janeiro ao conceder estrutura ao estádio na Ilha do Governador, mas fica a questão: onde jogar os clássicos com apelo de maior público? A solução de torcida única é a ideal? O Maracanã voltará a ser o palco dos grandes jogos?
1º. Brasil 1-2 Uruguai – Copa do Mundo Data: 16/07/1950 Estádio: Maracanã Público: 199.854 pessoas no total
2º. Brasil 4-1 Paraguai – Eliminatórias
Data: 21/03/1954 Estádio: Maracanã Público: 195.513
3º. Fluminense 0-0 Flamengo – Campeonato Carioca
Data: 15/12/1963 Estádio: Maracanã Público: 194.603
4º. Brasil 1-0 Paraguai – Eliminatórias
Data: 31/08/1969 Estádio: Maracanã Público: 183.341
5º. Flamengo 3-1 Vasco – Taça Guanabara
Data: 04/04/1976 Estádio: Maracanã Público: 174.770
6º. Flamengo 2-3 Fluminense – Campeonato Carioca*
Data: 15/06/1969 Estádio: Maracanã Público: 171.599
7º. Botafogo 0-0 Portuguesa-RJ – Campeonato Carioca
Data: 15/06/1969 Estádio: Maracanã Público: 171.599
8º. Flamengo 0-0 Vasco – Campeonato Carioca
Data: 22/12/1974 Estádio: Maracanã Público: 165.358
9º. Brasil 6-0 Colômbia – Eliminatórias
Data: 09/03/1977 Estádio: Maracanã Público: 162.764
10º. Flamengo 2-1 Vasco – Campeonato Carioca
Data: 06/12/1981 Estádio: Maracanã Público: 161.989
*Rodada dupla
Fonte: The Rec.Sport.Soccer Statistics Foundation (RSSSF)
O grande paradoxo é que temos um Flamengo que anda na contramão de tudo que representa o atual futebol do Rio de Janeiro. Jogar um Flamengo X Vasco em Volta Redonda para menos de sete mil pessoas só não foi uma vergonha maior por que vencemos a partida. Uma renda menor que 310 mil reais não paga elencos como o atual rubro-negro.
Também não podemos hostilizar o belo Estádio da Cidadania, e ficar tentando justificar que a população de Volta Redonda não gosta de futebol. Aquele município tem seus próprios problemas. Volta Redonda já foi palco de grandes manifestações operárias, com perdas de vidas, e não podemos culpá-la também pela morte do futebol no Rio de janeiro. Afinal, a prefeitura de lá nos salvou de ter um jogo de semifinal da Taça Guanabara fora do estado, ou de nem ser realizado.
Ir ao estádio é uma das maiores experiências que tive ao longo de minha vida. Dos grandes públicos no Maracanã estive em vários, incluindo o Flamengo 2x1 vasco de 6 de dezembro de 1981. Mas atualmente me sinto desestimulado a ir a jogos de futebol. A violência injustificável, aliada a péssima mobilidade das grandes cidades me motivam a ver o meu Flamengo como a grande maioria o vê, pela TV. Ir aos estádios sempre foi um privilégio, mas nos dias de hoje é uma aventura, para poucos, e sem garantias.
A violência não tem cor. Eu não consigo entender por qual motivo alguém sente algum prazer em agredir o torcedor de outro time. Pior, facções de uma mesma torcida se digladiam. Pior ainda, os brigões não são sequer punidos. Via de regra são reincidentes, quando não recebem verba dos dirigentes dos próprios clubes.
Ficamos felizes ao ver famílias nos estádios. Talvez esse seja um dos caminhos, a criação do “SÓCIO TORCEDOR FAMILIAR”. E para os jogos diurnos sem torcida, eu sugiro que os estádios sejam ocupados por alunos de escolas das regiões próximas nas respectivas cidades.
Ocorre que, de nada nos adiantará ter um Clube com a gestão moderna, com as finanças saneadas e montarmos um elenco competitivo, se a estrutura do futebol no Rio de Janeiro ficar relegada ao que se tem de mais arcaico em termos de dirigentes esportivos, governantes oportunistas e empresários mafiosos.
Cordiais Saudações Rubro-Negras!
Ricardo Martins é corretor de seguros, carioca radicado em Belo Horizonte. Blogueiro de longa data, comanda no MRN o blog Mulambeiros - Mulambos Mineiros. Siga-o no Twitter: @Rick_Martins_BH
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Administrador de Empresas, Flamenguista puro sangue, Consultor de Benefícios especializado em Previdência Privada e apaixonado pela vida!