O basquete é cruel. Para quem não acompanha muito, às vezes pode ser difícil entender algumas derrotas e algumas atuações. Para quem acompanha de perto, o jogo pode até ser previsível. Seja na NBA ou qualquer competição, dependendo do ritmo, você pode cravar o final – e errar, claro. Afinal, é um esporte. Mas tem uma coisa que o basquete não permite: erro. Isso custa vitórias.
O erro no basquete gera desconfiança, descontrole emocional, desequilíbrio e mais erros. Quando a bola de um jogador não cai, não adianta insistir. A história do esporte mostra que raramente o jogador, por melhor que seja, vá conseguir virar o cenário. A cabeça dele está apressada com os segundos correndo contra seu jogo e a mira já descalibrou faz tempo. Um outro jogador em seu lugar pode melhorar a situação, mas entrará em quadra tendo que fazer o que o titular não fez e, também, jogando contra um adversário e contra o tempo.
Diz-se também que no basquete o favorito sempre leva numa série de playoffs. Pode perder eventualmente um ou dois jogos, mas acaba levando no final. É comum demais e mostra previsibilidade do jogo. Porém, quando se tem um equilíbrio como em Flamengo e Franca, essa lógica não existe muito. O que explica então a virada paulista contra o time cheio de estrelas do Flamengo na série final do NBB?
Campanhas muito parecidas na primeira fase. Uma vitória para cada lado em casa. Na tabela, Franca teve uma vitória a mais e terminou na liderança. Apenas um triunfo de diferença, contra um saldo de pontos muito maior do Flamengo. Nos destaques individuais, o Flamengo tem o maior candidato a MVP da temporada, o argentino Franco Balbi. O Franca tem mais jogadores entre as melhores estatísticas da competição. Na distribuição de pontos, os dois times possuem quatro camisas que se destacam mais, enquanto os reservas mal chegam à marca de 10 pontos. Onde, então?
No erro.
O Flamengo teve um terceiro jogo muito abaixo do que é capaz. Muito. Simplesmente não dá para um time que quer ser campeão fazer somente 10 pontos em um quarto. Doze, em outro. Não importa o fator quadra, torcida (até parece que Flamengo sofre com torcida) ou a aplicação do Franca. O Flamengo tem cinco títulos do NBB contra zero do rival. Mas isso não entra em quadra. No basquete, o que entra é a precisão do jogador.
O Flamengo teve um terceiro jogo muito abaixo do que é capaz. Muito. Simplesmente não dá para um time que quer ser campeão fazer somente 10 pontos em um quarto.
Acompanhando os playoffs da NBA, vimos que o Portland quase superou o Golden StateWarrios em duas partidas. A diferença final de pontos ficou em três no jogo dois e em dois na prorrogação do jogo quatro. O diferencial, além dos craques do time azul e amarelo, se deu nos erros cruciais do time do Oregon. Por mais que Lillard, McCollum e Leonard tivessem feito 84 pontos, na hora final, no último lance do último quarto, Lillard errou o arremesso que levou a partida para a prorrogação. No tempo extra, o mesmo Lillard errou o lance crucial que deu a vitória aos Warriors.
O erro, a precisão. Lillard é um craque da NBA, mas seus erros adiantaram suas férias. O Flamengo tem Anderson Varejão, que ainda não foi o que dele se espera no time. O Flamengo tem Marquinhos, o MVP da última temporada. O Flamengo tem o interminável Olivinha, o possível MVP Balbi. Os valiosos Deryk, Jhonatan e Nesbitt. O Flamengo tem camisa e vai jogar em casa.
O que o Flamengo não tem é erro para queimar. São dois jogos onde o time não pode permitir que o Franca tome a frente, lidere o placar e goste da partida. O esporte não permite outro quarto com 10 pontos. Não para quem busca o sexto título nacional.
O que o Flamengo não tem é erro para queimar. São dois jogos onde o time não pode permitir que o Franca tome a frente, lidere o placar e goste da partida.
A vantagem é do Franca, que na pior das hipóteses decidirá em casa. Se perder, jogará diante de sua torcida. Mesmo nessas condições, quem tem mais a perder é o Flamengo. O Rubro-Negro investiu mais, tem mais tradição, busca voltar ao topo depois de duas temporadas. O Flamengo precisa empatar para depois virar. Jogo a jogo. Só não pode errar. O basquete não permite.