No debate, Bandeira de Mello "promete" 2016 com jeitão de 2015
O debate na ESPN foi decepcionante sob diversos pontos, eu acreditava que daria bastante material para várias discussões e, no fim, pouco se pôde tirar de proveitoso de qualquer candidato. Ainda assim, uma coisa me chamou a atenção:
Eduardo Bandeira de Mello, nosso presidente, se esquivou ao máximo de falar de futebol. Foi o único que não fez qualquer pergunta sobre futebol e ainda evitou o quanto pôde entrar no assunto em perguntas que davam margem a isso. Oras, como pode o presidente do Flamengo fugir do assunto futebol? E, pior, entrar em contradição quando a pergunta não permitia fuga?
Abaixo as respostas dadas por Eduardo Bandeira de Mello sobre futebol:
“Mas nós erramos também e temos que ter humildade pra reconhecer os erros e a obrigação de corrigi-los. E esses erros podem ser facilmente corrigidos a partir do momento que a situação financeira do clube, hoje, nos dá condição pra isso... Mas gostaria de dizer que o futebol do Flamengo vai sofrer transformações por conta desse alívio financeiro que nós vamos ter por causa do Profut...”
Que erros são esses? Por que não enumerá-los? E mais, como pode dizer que todos os erros são fruto da falta de dinheiro quando, para começar, temos uma das maiores folhas salariais do Campeonato Brasileiro? O Profut vai aliviar o clube em cerca de 1 milhão por mês, dinheiro que dizem a chapa azul irá para o término do CT. Como então será o Profut que irá provocar essa revolução toda?
“Hoje o futebol do Flamengo tem comando, hoje é administrado por um Vice-presidente respeitado, uma pessoa por quem eu tenho o maior carinho, e que se comprometeu comigo a ficar até o final do ano na vice-presidência de futebol, porque hoje ele está acumulando com a vice-presidência de Remo. A partir do momento que o Flávio Godinho, que é a pessoa que eu convidei para assumir a vice-presidência de futebol, puder se desvencilhar de alguns compromissos, ele vai assumir a vice-presidência de futebol, o que eu imagino seja rápido e o Gerson poderá voltar a se dedicar exclusivamente ao Remo.”
Primeiramente, o compromisso do Biscotto é até o fim do ano, mas não há garantias de quando o Godinho terá tempo pro futebol. Assim, quem será o tapa buraco em 2016?
“O Gerson Biscotto quando esteve no Flamengo em 2005 numa situação muito mais difícil que a que encontramos agora ele trouxe Renato Abreu, ele trouxe Léo Moura...”
Renato Abreu e Léo Moura são referências boas? Um foi demitido por criar problemas internamente, nunca se firmou em clube nenhum comprovando a mediocridade de seu futebol; já o outro sugou o sangue do Flamengo enquanto pôde e, quando não renovariam seu contrato, apesar das homenagens feitas pelo clube e o presidente, saiu atirando, hoje ironiza o Flamengo nas redes sociais e ainda gravou um vídeo de apoio ao Cacau Cotta na eleição.
“Eu realmente acho que essa coisa de turnover de treinadores é um problema do futebol brasileiro, é um problema recorrente e que nós precisamos mudar. E acho que o Corinthians está aí dando exemplo e mostrando que quando você troca menos de treinadores, principalmente com a qualidade do treinador que eles têm, as coisas acontecem melhor. Pra mim o treinador não precisa ser um treinador de grife, não precisa ser um salvador da pátria. Acho que o treinador do Flamengo, um treinador de um clube que pretende ser vencedor, tem que ser um treinador antenado com o que existe de mais moderno em termos de excelência em performance, de inteligência de mercado, que ele saiba comandar o grupo com energia, mas que saiba dar treinamentos de acordo com o que existe de mais moderno no futebol hoje. E ninguém está falando que vai substituir o Oswaldo de Oliveira, porque eu penso que o Oswaldo de Oliveira tem esses predicados. Mas o que nós vemos hoje é que aquele treinador salvador da pátria, o treinador que impõe suas vontades, diz que futebol é assim mesmo e tem que fazer o que eu mando, fazer o que eu preconizo senão as coisas não vão acontecer, acabou. Agora, concordo inteiramente com você, que essa troca desenfreada de treinadores é uma coisa absolutamente nociva, não se dá tempo para os treinadores fazerem o seu trabalho e muitas vezes eles sofrem uma pressão, um massacre que acaba contaminando o próprio grupo. Eu acho sim que quando o treinador perde o comando do grupo ele precisa ser substituído, não que ele seja deficiente, não que ele seja ruim, mas porque ele não vai conseguir transmitir aquilo que ele está passando.”
Essa resposta à pergunta do Mauro César sobre a troca de treinadores e o perfil ideal foi a mais incoerente com aquilo que vemos no Flamengo. O presidente diz que concorda que trocas são nocivas, que treinadores precisam de tempo para trabalhar e trazem resultados quando têm qualidade, porém o que mais o Flamengo fez nesse triênio foi trocar treinadores com intervalos regulares.
Claro que todos os que foram demitidos mereceram, pois nenhum deveria sequer ter vindo. Basta ver a descrição do treinador ideal para constatar facilmente que nenhum se encaixava no que foi descrito, inclusive Oswaldo de Oliveira, que foi defendido pelo presidente e garantido pro ano que vem.
Oswaldo é antenado com o que é mais moderno em excelência de performance e dá treinos baseado em técnicas modernas? Comanda o grupo com energia? O que nós mais vemos é Oswaldo quieto a beira do campo, apático, nos treinos costuma dar bastante folga pros titulares, não corrige os erros que o time repete todos os jogos. Fora que está longe de usar táticas modernas, basta ver que saiu do Palmeiras e veio pro Flamengo mantendo o mesmo esquema, mesmos vícios, cisma com jogadores sem nenhuma condição e nem me refiro só ao Almir.
“Eu acho que temos que ter humildade pra reconhecer os nossos erros... nós deixamos a desejar no futebol. E nesse caso temos que assumir isso juntos, todos os que passaram pelo Flamengo nesses 3 anos. Fizemos o que estava ao nosso alcance, é claro que todo mundo aqui é especialista em finanças, todo mundo é especialista em administração, mas no futebol estamos devendo e com a recuperação financeira que nós obtivemos, nós temos amplas condições de saldar essa nossa dívida. E essa dívida vai ser saldada através da qualificação do elenco e quando a gente fala de qualificação do elenco, eu não to falando simplesmente em trazer jogadores melhores tecnicamente, nós temos que trazer jogadores com perfil de liderança que hoje estão faltando no Flamengo, jogadores que podem vestir o manto sagrado com consciência daquilo que estão vestindo, com consciência daquilo que a torcida espera deles, e esse movimento está em curso. Agora não é só qualificar o elenco, essa qualificação do elenco já está sendo negociada, nós já estamos trabalhando nisso, agora nós precisamos trabalhar na área científica também, nós durante muito tempo lidamos com o futebol de maneira empírica, no “vamo lá moçada”, tentativa e erro, e nós temos que trabalhar com excelência em performance. E nós temos vários times no campeonato brasileiro que no papel são piores que o do Flamengo, que estão com o desempenho muito melhor que o do Flamengo. Por que isso? Por que certamente eles têm um investimento melhor em estrutura, em preparação física, e que nós não temos.”
Que erros? Novamente fala que errou e não cita onde. Depois sabiamente diz que são especialistas em finanças, administração, mas estão devendo em futebol. Talvez seja por não serem especialistas o motivo pelo qual ainda não descobriram onde estão os erros.
Tudo bem pôr a culpa na falta de dinheiro no primeiro ano, podemos até engolir a desculpa pra 2014, mas em 2015 o orçamento era bem maior, o departamento de inteligência tão celebrado estava em funcionamento após a implantação em 2013. Esse perfil de jogador citado pelo presidente poderia ter sido falado por qualquer um que estivesse num bar vendo o jogo, não há novidade alguma, é um diagnóstico muito básico.
A verdade é que não precisa de um caminhão de dinheiro pra contratar jogadores com perfil de liderança e que saibam o que significa ser Flamengo. Tão pouco é aceitável como desculpa a falta de dinheiro para contratações mal feitas, pois o Flamengo tem um centro de inteligência e sequer precisava dos mais modernos softwares para saber de scouts básicos que teriam evitado a contratação da maioria dos jogadores que estão ou estiveram no Flamengo nesses anos sem merecer.
Se o trabalho foi empírico a opção foi de quem comanda o clube, se foi na tentativa e erro idem e, pior, a declaração de que mais dinheiro resolve só indica que continuarão na tentativa e erro, só que com cacife mais alto, poderão ter uma amostragem maior.
“Não é que não houve intervenção (após a sequência de derrotas), o que aconteceu é que o Flamengo perdeu essas partidas depois de ter ganho 6 partidas seguidas, o que está acontecendo com o Flamengo é um processo de instabilidade, que nós temos que identificar as causas, estamos trabalhando nelas, pra que a gente possa superar esse tipo de coisa. O elenco do Flamengo não é um elenco ruim no papel, acho que todo mundo concorda com isso e, se fosse, não teria ganho 6 partidas seguidas, jogos inclusive considerados difíceis, e depois perdemos jogos considerados mais fáceis, isso caracteriza uma instabilidade, que pode ser corrigida se a gente trabalhar o foco do problema, se a gente tiver um investimento pesado em excelência em performance, se a gente tivesse um investimento em infraestrutura, que já está previsto, nosso centro de treinamento vai ficar pronto ano que vem, já temos recursos pra isso graças ao Profut, graças aos títulos proprietários que nós vendemos agora... a partir dessa recuperação financeira poderemos investir em tudo isso, inclusive na qualificação do elenco.”
Como 7 derrotas em 8 jogos pode ser um sinal de instabilidade? Pelo contrário, mostra uma enorme regularidade do elenco. Dizer que ganharam jogos difíceis e perderam fáceis é jogar pra galera, o fato é que o Flamengo se deu bem contra quem estava de férias no meio da tabela e tomou pau de quem briga em cima e de quem briga em baixo, porque nesses jogos o adversário tinha gana, queria vencer, algo que o time do Flamengo não parece ter necessidade de fazer.
Mas o ápice foi a declaração de que eles AINDA estão procurando as causas das derrotas consecutivas. Como um departamento de futebol comandado por pessoas que se orgulham de suas habilidades em gestão podem simplesmente não saber como um time perde em uma sequência tão grande que levou mais de um mês?
O presidente finaliza falando que tudo vai melhorar com o término do CT. Mas aí eu pergunto, quem garante? Hoje há um departamento de inteligência que ninguém usa, um departamento de psicologia que não trabalha com os jogadores do profissional e toda uma estrutura de comando tão perdida que ainda não sabe o porquê de o time ter mergulhado ladeira abaixo quando tinha a vaga da Libertadores na mão.
“Essas pessoas que estão aí vão continuar comandando o futebol nos próximos 3 anos porque a chapa azul vai ganhar e vai ser exatamente essa equipe e, quando eu falo essa equipe é a equipe ampla, que vai comandar o Flamengo. E vai comandar da mesma maneira que está sendo comandado hoje. Quando a gente lida com os jogadores a gente lida com firmeza, lida com autoridade, mas não humilha ninguém, não submete ninguém à execração pública.”
Opa! Como assim não humilham ou submetem ninguém à execração pública? E aquele circo armado pelo Fred Luz, que convocou a imprensa às pressas (30 minutos antes da coletiva) para ler um bilhete do Rodrigo Caetano, não liberou perguntas e, nos poucos segundos de fala, só fez expor os jogadores?
A punição obviamente foi justa, mas tardia. Não era a primeira vez que esses jogadores eram vistos em festinhas e aventuras noturnas, os mesmos que nos jogos erravam muito mais que o normal, se arrastavam em campo e pediam pra sair por não aguentar os 90 minutos, fora as lesões seguidas com longo tempo de recuperação. Jogadores que inclusive pedem para não treinar com desculpas esfarrapadas como dor no glúteo e nunca saem do time.
E, na única vez que o futebol agiu com firmeza e autoridade, voltou atrás com o rabinho entre as pernas por ameaça de empresário. Inclusive, não proibindo Oswaldo de escalar o bonde reintegrado.
E, a ameaça mais grave do debate, vem na confirmação de que o mesmo grupo de pessoas que comandou o futebol nesse ano, será o responsável pelo futebol no próximo triênio caso a chapa azul vença.
Saudações Rubro-Negras