Quem nunca durante um jogo de repente teve um certo pensamento,
num momento qualquer, após um gol, durante um escanteio
que a gente meio que sai fora do espaço-tempo, vê o Flamengo no campo
vê a torcida gigante, a gente fica num transe de nem lembrar o ano
a gente parece que se conecta a todo o mundo rubro-negro
inclusive com os torcedores já distantes?
*
como se de repente todo jogo fosse um único e decisivo jogo
como se não fizesse diferença, se é Leônidas, se é Obina, se é Cirino
se é no Maracanã, se é no Japão,
se é inverno, dia, chuva, noite, verão, tanto faz
tudo é uma mesma partida
se é 1953, se é 2015, se é 2467
*
tem hora que flamenguista transcende
experimenta uma anulação completa de sua individualidade,
transmuta-se para os ramos de uma enorme árvore,
vira simbiose, vira a célula de gigante
sente que faz parte de uma rede
uma conexão que faz de todo torcedor um organismo só
esse tipo de déjà vu muito louco,
essa sensação de passeio cósmico
isso tudo é apenas um dos efeitos
o Flamengo amplifica nossos cérebros
ressonância límbica
telepatia
visões de momentos não vividos
volta ao passado
miragens
são os efeitos colaterais,
são os baratos bons da viagem.
*
chega a transcender bem mais,
superando o trauma da morte
novos milhões de flamenguistas se sucedendo,
todos sentindo da mesma pulsação,
seguiremos vivos neste universo
nesse coração Flamengo
que pulsa feito um quasar
Quem nunca durante alguma atividade não foi tomado por um transe?
Uma coisa de repentinamente ouvir uma comemoração de um gol,
som do além dos confins do cérebro,
ou uma visão, um gol do Dida, coisa de antes do seu nascimento,
uma imagem tão real e colorida,
em mais uma atividade que não é sonho,
não é milagre, nem ilusão.
São os neurônios rubro-negros que agitam a casa.
É a mente de todo flamenguista, amplamente superior, em novo estágio evolutivo.
Orra, é Mengo!
Paulista de Osasco, nascido em 1974, casado. Formado em Letras na USP, dramaturgo, profissional da área multimídia e servidor público federal. Rubro-negro desde 1980.