Netflix expõe drama de ex-segurança do Ninho demitido pelo Flamengo

14/03/2024, 16:13
Ex-segurança Benedito Ferreira sofre com trauma do Ninho e tem laudo psiquiátrico dizendo que não pode trabalhar, revela Netflix; Flamengo contesta

O documentário sobre a tragédia do Ninho lançado nesta quinta-feira (14) pela Netflix expõe o drama de Benedito Ferreira, ex-segurança do Flamengo. Ele sofre até hoje com o trauma do incêndio no centro de treinamento, no qual salvou dois meninos das chamas, mas não pôde impedir a morte de outros dez.

Ferreira foi demitido pelo Flamengo em 2022. No documentário, ele narra como foi sua dispensa pelo clube.

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“Eu fiquei afastado por um período, eu passei por uma psicóloga, depois por uma psiquiatra onde a psiquiatra disse que eu deveria ficar afastado. Quando eu retornei disseram que era para eu ficar lá no subsolo. Um dia me chamaram, um funcionário do Departamento de Pessoal me deu um papel e disseram: ‘Seus serviços não são mais necessários ao Clube de Regatas do Flamengo'”, afirmou.

Ferreira busca na Justiça trabalhista indenização do Flamengo. Em dezembro passado, um laudo psiquiátrico atestou que o ex-segurança não tem condições mentais de trabalhar. O Flamengo contesta a validade do documento.

“Às vezes vem aquelas lembranças, aí eu começo a ficar triste, começa a me dar uma sensação ruim, não quero ver ninguém, não quero falar com ninguém, não quero ir na rua. Quero ficar deitado, no quarto, por várias vezes pedi a minha esposa para fechar a porta”, conta Ferreira no documentário da Netflix.

Ferreira conta no documentário como salvou menino com 35% do corpo queimado

O documentário reconstitui o incêndio. O ex-segurança relembra o momento no qual salvou dois garotos das chamas:

“Tinha uma fumaça, aí começou a ficar mais intenso, o fogo começou de um lado, o vento da forma que ele batia na parede, não tinha como saber se tinha mais alguém. Aí veio um menino e falou assim: ‘tio, quem tá lá atrás ninguém conseguiu sair’. A chama batia na parede, eu consegui passar, mas já estava bem intenso. Mas deu para ver a fisionomia de um, aí ele bateu no vidro. Eu tirei a paleta e puxei ele. Aí apareceu o que estava mais queimado, aí juntos conseguimos puxar. Quase que não conseguimos tirar ele.”

Essa segunda vítima salva por Ferreira foi Jonatha Ventura, que teve 35% do corpo queimado. Ele não conseguiu seguir a carreira de jogador de futebol, mas atualmente trabalha como scout do Flamengo.

Nem Jhonata, nem nenhum menino que continue no Flamengo falou no documentário da Netflix sobre o Ninho, que ouviu parentes de vítimas e outros sobreviventes da tragédia. Ferreira relata como foi descobrir que dez meninos não haviam sobrevivido ao incêndio:

“Até então a gente não sabia a proporção do que tinha acontecido. Começamos a ter a proporção quando começou a contar. Veio a lista, tá faltando esse, esse, esse…”, relata, se emocionando.

O ex-segurança pede na Justiça 2,5 milhões em indenização por danos morais do Flamengo. Além da demissão sem justa causa, ele alega que, sob efeito de medicamentos psiquiátricos, foi convencido a assinar um documento recebendo uma alegação de R$ 20 mil e abrindo mão de processar o clube no futuro quatro meses após o incêndio.


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