Nem Libertadores nem Brasileiro: a prioridade parece ser “perder”
O papo de “priorizar torneios” já começou esquisito quando falaram em priorizar Campeonato Carioca em detrimento da Libertadores, no que seria a versão futebol de “perdão, não posso ir hoje nesta festa vip onde sortearão carros 0km porque preciso estar descansado pra apanhar amanhã numa briga que será realizada dentro de um ônibus sem ar-condicionado”. Mas ganhamos o estadual, demos aquela comemoradinha, e pensamos que tinha sido um lance esquisito de momento.
Aí veio a ousada decisão de, mais uma vez, não priorizar a Libertadores, poupando jogadores num duelo direto pela liderança do grupo, para que eles pudessem estar descansados na decisiva quarta rodada do Brasileirão, um torneio de tiro curto, que vai apenas até dezembro, tendo apenas mais 34 jogos pela frente.
➕ JOÃO LUIS JR: Se o plano era se foder, o planejamento deu certo
Uma decisão polêmica, claro, mas que seria absolutamente tolerada se o Flamengo tivesse, por exemplo, tido uma grande atuação, feito um excelente jogo, garantido uma importante vitória, demonstrando que sim, valeu a pena poupar, fez sentido estar sem esses jogadores pela Libertadores porque eles entraram na ponta dos cascos no Campeonato Brasileiro.
Mas como qualquer um que assistiu a derrota por 2×0 no clássico deste domingo diante do Botafogo bem sabe, não foi isso que aconteceu. Sob o sol do domingo carioca, tivemos um time rubro-negro em baixa rotação, que criou muito pouco, praticamente não ameaçou a meta adversária e teve sua preguiça punida com dois gols de um Botafogo que nem precisou se esforçar tanto assim.
E qual vai ser a desculpa dessa vez? Com o time titular poupado para essa partida, o culpado vai ser o calor? É a temperatura que impede o Flamengo de criar jogadas, são os raios UV que nos obrigam a viver de chuveirinho na área, é o buraco na camada de ozônio que prejudica a cognição de Luiz Araújo? Terá o Flamengo se acostumado tanto com a altitude de La Paz que agora ficou confuso no nível do mar, se preparado tanto para o campo sintético do Palmeiras que estranhou a grama orgânica?
Porque temos explicações e justificativas mas, já faz alguns jogos, não temos tido futebol. Partidas simples se tornam complicadas, vantagens numéricas se transformam em desvantagem no campo, o planejamento vem cada vez mais se mostrando um plano infalível do Cebolinha (não o Éverton, o que apanha da Mônica mesmo). E no lugar de vitórias o que temos são entrevistas onde o técnico Tite usa sua tática de falar até todo mundo ficar com sono, já que é impossível reclamar do técnico enquanto você está dormindo.
Então talvez seja hora do Flamengo se “poupar” um pouco menos, deixar o planejamento de lado e focar num projeto de curto prazo chamado “ganhar partidas”. Não tem o mesmo glamour, não rende a mesma coisa nas entrevistas, mas se a gente não começar logo a jogar um futebol capaz de gerar resultados, não vai adiantar nada ter os jogadores em excelentes condições físicas pra que, após perdemos todos os torneios do ano, eles possam brilhar no jogo das estrelas do Zico ou na pelada dos amigos do Eri Johnson contra os afilhados do MC Livinho. Não adianta nada se preparar pra um depois que nunca vai chegar se não fizermos nossa parte agora.