Não só a Estácio de Sá: Relembre desfiles que homenagearam o Flamengo

08/11/2020, 13:08
flamengo, zico

Flamengo teve seu centenário celebrado em 1995 pela Estácio de Sá, mas diversos outros desfiles nas cores rubro-negras deram o tom na Sapucaí

Blog Ninho do Urubu | Bruno Guedes – Twitter: @eubrguedes

A Estácio de Sá divulgou no dia 19 de outubro que vai reeditar o enredo de 1995, em homenagem ao centenário do Flamengo, para o próximo carnaval. Entretanto, a vermelho e branco não foi a única escola que celebrou o Rubro-Negro na Marquês de Sapucaí. Com a temática futebolística sempre em alta no Carnaval Carioca, diversas foram as vezes em que o clube da Gávea deu o tom.

Já abrindo as comemorações pelos 125 anos do Flamengo, o Mundo Rubro Negro preparou uma lista de desfiles que tiveram o vermelho e preto em suas alas e também aproveitaram o Mais Querido como tema ou parte dele no seu Carnaval.

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“O Mundo É Uma Bola” – Beija-Flor 1986

“O meu Rio de Janeiro
O ano inteiro é samba e Maracanã”

(Betinho e Jorge Canuto)

Um dos desfiles mais marcantes da História, o lendário carnavalesco Joãozinho 30 levou para o Sambódromo o enredo que homenageava o esporte mais popular do mundo. Justamente num ano de Copa do Mundo, a escola da Baixada Fluminense apostava na temática para conquistar seu sexto título.

Debaixo de um temporal, a apresentação da azul e branca se tornou histórica. Os desfilantes rubro-negros, com água literalmente nas canelas, tinham um setor inteiro dedicado ao Baile do Vermelho e Preto. Até os anos 90, o evento oficial do Flamengo, realizado no Scala, era uma das datas carnavalescas mais concorridas do Brasil!

No trecho que falava sobre o Maracanã e a paixão carioca pelo esporte, uma ala e um carro alegórico totalmente nas cores do Mais Querido davam o tom. Um enorme urubu, símbolo do Mengão, lembrava a origem do mascote no estádio. Os demais clubes também receberam menções.

A Beija-Flor terminou com o vice-campeonato, mas o desfile se tornou o mais bem sucedido, até hoje, com temática futebolística.

“Aquarilha do Brasil” – União da Ilha 1988

A gaitinha tocando… é gol
A galera vibrando… Mengo!

(Robertinho Devagar e Marcio André)

Escola mais querida por todas as torcidas, a União da Ilha decidiu levar para a Avenida, em 1988, Ary Barroso. O famoso narrador, que fazia questão de falar que torcia para o Flamengo, teve sua vida narrada pelo carnavalesco Max Lopes através da sua paixão pelo clube. O samba, um dos mais famosos da História do Carnaval, citava diretamente o Rubro-Negro.

“Aquarilha do Brasil” é um trocadilho com a música “Aquarela do Brasil”, composta por Barroso e uma espécie de hino informal do país, com a palavra “Ilha”.

À época tetracampeão brasileiro, a equipe teve diversos de seus jogadores na Sapucaí. Renato Gaúcho, um dos principais craques do time que venceu a Copa União no ano anterior, foi quem mais se divertiu. Uma famosa foto ao lado da modelo Enoli Lara ganhou as páginas de todas as revistas e jornais. Enoli, no ano seguinte, seria a primeira foliã a desfilar completamente nua no Sambódromo e um dos motivos para a proibição da chamada “genitália desnuda”.

A Ilha, muito aclamada no dia, terminou em sexto lugar. E o samba ganhou as arquibancadas antes e durante, sendo um dos hinos mais famosos do Maracanã até meados dos anos 90. Além de usar o apelido popular, os versos lembravam a gaita usada por Ary a cada gol do Flamengo, que durante décadas foi marca do rádio e transmissões do jornalista.

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“O Rio de Janeiro Continua Sendo…” – Salgueiro 2008

“Maravilhosa cidade
O suburbano improvisando muito bem
Vai batucando na lotada ou no trem”

(Dudu Botelho, Marcelo Motta, Josemar Manfredini, João Conga e Luiz Pião)

É impossível falar do Rio de Janeiro sem falar do Flamengo. E os carnavalescos Renato Lage e Márcia Lávia não deixaram de lembrar do Rubro-Negro no enredo que exaltava os encantos da Cidade Maravilhosa. Usando os versos de “Aquele Abraço”, do baiano Gilberto Gil, o desfile teve como narrativa os cartões postais e o orgulho carioca.

No setor que falava do futebol e tinha como destaque o Maracanã, diversos componentes salgueirenses vestiam as cores rubro-negras e carregavam bandeiras do Mengão. No topo da alegoria que trazia o Maior do Mundo, destaques com a camisa do Flamengo e outros simulando a torcida faziam parte da composição.

O Salgueiro foi vice-campeão.

“Eu Vou de Mocidade com Samba e Rock in Rio – Por um Mundo Melhor” – Mocidade Independente de Padre Miguel 2013

“A vida é um show, maraca é vibração
É o samba – rock meu irmão”

(Jefinho Rodrigues, Jorginho Medeiros, Marquinho Indio, Domingos PS, Moleque Silveira e Gustavo Henrique)

Aí você se pergunta: ué, mas como um enredo sobre o Rock in Rio teria o Flamengo? A resposta é: de novo o Maracanã. A segunda edição do festival, em 1991, aconteceu no estádio. Um dos destaques à época foi o coro que as torcidas, durante a espera pelas apresentações, faziam em referência aos times.

Lembrando-se desse fato e em alusão ao futebol, o carnavalesco Alexandre Louzada criou a ala “Urubu Metaleiro” homenageando o Rubro-Negro. Segundo pessoas da escola, foi uma das primeiras a terem as fantasias esgotadas no pré-carnaval. Apesar do desfile não ter sido um dos melhores, o Mais Querido esteve presente e levantou as arquibancadas na passagem pela Sapucaí.

A Mocidade Independente de Padre Miguel foi a 13ª colocada.

“Arthur X – O reino do Galinho de Ouro na corte da Imperatriz” – Imperatriz Leopoldinense 2014

“Fardado nas cores da nação,
Armado de raça e paixão,
Nos pés, o poder!
Vencer, vencer, vencer!”

(Elymar Santos, Guga, Tião Pinheiro, Gil Branco e Me Leva)

Certamente este é o enredo que cita o Flamengo mais famoso depois da Estácio de Sá de 1995. Com uma homenagem ao Zico, o carnavalesco Cahê Rodrigues, de quebra, também levou o Rubro-Negro e seus ídolos para a Sapucaí. E o fio condutor foi muito bem idealizado, ao comparar o Rei Arthur da Idade Média com o Arthur Antunes Coimbra e sua “nação”. É até hoje considerado uma das melhores apresentações que usaram o futebol como tema.

A grande curiosidade do desfile é que ele aconteceu exatamente no dia do aniversário do Zico, 3 de março. O que foi lembrado nos versos do bom samba-enredo, que dizia: “Hoje, mais do que nunca é o seu dia / Vamos brindar com alegria”. A obra, aliás, ficou muito popular por usar um dos cânticos que embalaram a torcida do Flamengo no título da Copa do Brasil em 2013, o famoso “Da-lhe, Da-lhe, Da-lhe Ô / Mengão do meu coração”.

Diversos trechos faziam referências ao Rubro-Negro, o que imediatamente fez com que o público que assistia se comunicasse com a Rainha de Ramos. Passagens como o refrão do meio, “Com seus cavaleiros, Arthur se tornava / O “Rei do Templo Sagrado”!”, ganharam a voz dos espectadores.

O carro “Tesouros do Rei” levou os troféus conquistados por Zico com o Flamengo e lembrava até mesmo o Mundial de 1981. Já no “Templo sagrado”, o Maracanã e os 333 gols do maior artilheiro do estádio eram os destaques. O ex-jogador, declaradamente torcedor da Beija-Flor, passou a fazer parte da Imperatriz nos anos seguintes. Uma gratidão com o perfil do maior ídolo da Nação.

Diversos craques do passado e do presente estiveram na Avenida. Zico, humilde como ele, se recusou a colocar a coroa de rei na cabeça. Mas estava pertinho da sua nação, aquela que o coroou durante duas décadas.

A Imperatriz foi a quinta colocada.


*Créditos da imagem destacada no post e nas redes sociais: Alexandre Durão / G1 e Reprodução TV Globo

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Bruno Guedes
Autor

Jornalista e Historiador, é apaixonado por futebol bem jogado. Já atuou na Rádio Roquette Pinto e como colunista no Goal.com. Siga no Twitter: @EuBrguedes