Nada mais do que sua obrigação, Flamengo – Nº 04

06/06/2017, 09:25
cultura rubro-negra

Não estou aqui pra falar o que está certo e sim o que está errado. Esta coluna não comemora vitórias, apenas títulos. A visão será sempre crítica. Alguns, empolgados pela vitória efêmera, vão me acusar de pessimista e corneta. Não importa. Apenas títulos importam. O resto é fracasso.

Diogo Almeida

Flamengo 0 x 0 Botafogo- 4ª Rodada do Brasileiro-2017

A parte sobre o jogo será breve. Depois abro espaço para o Rodrigo da Cunha, que me mandou um texto sobre coaching e o trabalho desenvolvido pelo Fernando Gonçalves, coach rubro-negro que atua no Ninho do Urubu. Rodrigo da Cunha é da área e critica o trabalho desenvolvido na Comissão Técnica do Flamengo.

Aproveito para convidá-los para uma entrevista que fiz, ainda pelos idos de 2015, com Marcos Baridó, coach especialista em esporte, respeitado professor da UFRJ, onde coordenou o centro de pesquisa da faculdade neste campo: https://mundorubronegro.com/flamengo/audio-entrevista-com-marcus-barido-coaching-esportivo-como-ferramenta-de-performance

Um Flamengo menos pior do que o Botafogo

Sim, talvez essa tenha sido a conclusão mais óbvia da partida. O Flamengo de Zé Ricardo começou o jogo com três volantes, enquanto o Botafogo de Jair Ventura conseguiu a proeza de comparecer com quatro especialistas na marcação formando seu meio de campo.

As duas formações não foram presentes para o pequeno (como sempre) público de Volta Redonda, claro. Medo de perder é um mal que assola quase cem por cento dos clássicos neste futebol brasileiro de exportação, desde há muito. Futebol-arte mesmo só com a entrada de Vinícius Júnior e Diego, no segundo tempo, mas nada que conseguisse tirar o zero do placar.

Os destaques negativos foram Réver, Márcio Araújo e William Arão. O primeiro precisa, ainda, percorrer grande distância em direção à ruindade para que possamos homenageá-lo neste coluna, mas que ontem assustou perdendo umas bolas ali na intermediária defensiva, com certeza assustou.

Márcio Araújo foi o mais do mesmo, e que bom que não foi menos do mesmo. Antes do jogo eu li um tuíte muito perspicaz, uma pena que não guardei para anexá-lo aqui… Dizia assim: “ Espero que Zé Ricardo não esteja escalando Cuéllar para ser apenas a ‘rodinha’ de Márcio Araújo”. Pois é, seria mais fácil apenas tirar o 8 do time. De fato, parece que Zé Ricardo não consegue simplesmente barrar por barrar Márcio Araújo, então a entrada de Cuéllar é uma espécie de gambiarra tática.

Pensando bem, Cuéllar também é a gambiarra para não barrar Arão, o pior em campo. No clássico, posicionado na direita como ponta, liberado por Cuéllar. Zé Ricardo novamente cria uma engenhoca tática com o intuito de não magoar ou não causar impacto, atitude contraproducente, anunciando que um jogador-símbolo desse Flamengo vai bancar. Há um padrão que pode ser percebido nessa dificuldade de ZR mandar sentar. É mais coisa de técnico inexperiente, menos de técnico ruim. Uma contusão quase sempre é o fator modificador do time. Ele insiste, insiste demais… e só muda quando alguém se machuca e surge um álibi. É uma impressão. Posso estar errado, não pesquisei. O fato é que Arão, assim como Márcio Araújo, não merece hoje a titularidade.

Psicologicamente falando

Após o jogo contra o San Lorenzo afirmei que alguém precisava ser demitido. Pedir a demissão de alguém é algo muito forte. Não é bonito e não pode ser dito apenas por se dizer.

Criticar é preciso. Achincalhar é desprezível, e com raiva acontece de entrarmos nessa espiral, uns mais, outros menos, uns dissipam rapidamente, outros ficam bem amargurados mesmo. E ainda temos os psicopatas, que trabalham em prol de destruir a carreira de quem ele escolheu como o inimigo de sua felicidade.

No futebol, e como co-responsável por um site (humilde mas talvez até relevante), com redes sociais movimentadas, tento não ultrapassar a linha tênue entre a paixão e insanidade. Não é fácil, seria melhor com um nick e a verdadeira identidade preservada.

Eu sei que o Flamengo é nosso tão certo quanto sei que o Flamengo não é meu. Mas vamos lá, não tenho sangue de barata.

No meu perfil do Twitter (@DidaZico) expliquei que dentro de um ambiente corporativo, após alguns anos de preparo e planejamento, se algo dá errado, uma cabeça precisa ser cortada. Pelo menos uma, para mostrar a todos que houve fracasso. Que o fracasso não é uma opção naquela empresa.

No Flamengo isso não aconteceu após o mais duro golpe. O treinador não foi demitido. O diretor-executivo não foi demitido. Entendo perfeitamente. Há alguns postos tão estratégicos na hierarquia que demitir é aprofundar o buraco. Ruim com ele, pior sem ele. Deve ser o caso de Zé Ricardo e Rodrigo Caetano.

Entretanto, algum processo em curso precisa ser escolhido para ruptura.

Vendo como o Flamengo precisa de mais espírito, alma e atitude em campo nestes últimos anos, entendo que o profissional umbilicalmente ligado ao desenvolvimento anímico deva ser responsabilizado e escolhido para pegar seu chapéu e sair bem de mansinho.

Então chegamos ao coaching Fernando Gonçalves.

Pesquisando algo sobre sua carreira, não encontrei nada demais que o torne imprescindível no Flamengo.

Confiar na imprensa esportiva é arriscado, porém salta aos olhos uma reportagem que diz que Fernando Gonçalves só está no Flamengo por causa da sua relação de amizade com o CEO Fred Luz.

O leitor Rodrigo da Cunha estuda e trabalha com coaching. Ele nos enviou um texto muito interessante a respeito do assunto, sem deixar de tocar na ferida — o trabalho desenvolvido no Flamengo — de maneira bem objetiva.

Também aproveito para te convidar a comentar sobre os problemas apresentados no Flamengo x Botafogo, aqui mesmo neste post, ali embaixo, no campo dos comentários. Os melhores comentários serão publicados na próxima coluna. Carlos Rabelo da Cunha é o nosso leitor da semana, seu comentário segue após o texto do coach Rodrigo da Cunha. Té mais, amigos! Obrigado por sua leitura.


Por total falta de conhecimento da mídia esportiva, formadora de opinião e de alguns “profissionais” do futebol, o trabalho do psicólogo esportivo sempre foi visto como o de um palestrante motivacional. Não chamaria isso nem de miopia. Mas sim de cegueira.

Por conta disso, quantas vezes não ouvimos e lemos “o cara joga no Flamengo, ganha uma fortuna, vai jogar uma final com o Maracanã cheio e ainda precisa de motivação?!?”.

Na copa do mundo de 2014, ficou evidente a falta de preparo emocional de nossos atletas da Seleção Brasileira. Ali, nossos jogadores estavam mais focados em não serem um novo Barbosa do que serem campeões mundiais.

É comum pegarmos jornalistas e profissionais do futebol dizendo que o trabalho do psicólogo na seleção brasileira não seria útil porque so se teria contato com os atletas no período de convocação. Muitos psicólogos dão apoio a seus pacientes via Telefone e vídeo conferência. Fecha Parenteses.

Se a imprensa não sabe como atua um psicólogo esportivo, quem dirá saber o que faz um Coach, que é uma atividade muito recente no Brasil. Se eles que opinam não se informam, então o torcedor fica a mercê de informações imprecisas.

O Coach é o profissional que conduz um processo de Coaching com seu cliente, denominado de coachee.

O foco do projeto está no alcance de metas. Quem devem ser específicas, mensuráveis, realistas, atingíveis e tem que ter um prazo.

O Coach usa técnicas de diversas áreas do conhecimento, entre elas da PNL (programação neuro-linguística), para mudar o estado mental dos atletas.

Com isso o atleta passa a ter recursos internos para aumentar sua confiança, ficar focado etc.

Uma das técnicas mais poderosas da PNL é a de visualização. No livro o Herói Revelado, há relatos de mecânicos da Honda dizendo que Senna ficava dentro do carro, imaginando sua volta mais rápida, fazendo os movimentos como se estivesse pilotando e mentalizando o tempo. Diversas vezes ele cravou o tempo mentalizado nos boxes. Inclusive os décimos de segundo!!

Michael Phelps relata que faz visualização desde os 13 anos de idade. Em seu livro diz que numa final olímpica todos os atletas estão bem física é tecnicamente e que vencerá o que estiver melhor mentalmente.

Recentemente, o trabalho do Coaching Esportivo (aliás o termo Coaching surgiu no esporte, os primeiros Coaches eram esportivos, no Brasil somente nos últimos anos alguns Coaches de fato resolveram trabalhar no esporte) ganhou notoriedade por conta da medalha de ouro da Rafaela Silva nas olimpíadas de 2016. A própria deu méritos ao trabalho de sua Coach Nell Salgado.

E aí chegamos enfim ao Flamengo!

Fernando Gonçalves, ex executivo da Traffic, se tornou Coach do Flamengo, sem que a imprensa (que se pergunta de onde vem o dinheiro do Flamengo, porque Cuéllar não joga etc) não saiba responder uma pergunta simples: o que ele fez para ser Coach do maior time do Brasil?

Fez um formação de Coaching? Legal, eu tenho duas. Não quer dizer muito.

Qual case de sucesso ele Tem para estar ali? Como uma administração profissional contrata um profissional para trabalhar emoções, estado mental do time principal sem um único case de sucesso?!

Algumas coisas são evidentes:

1- O Flamengo disputou a primeira fase da Libertadores como quem joga um campeonato de pontos corridos. Foi bem na maioria dos jogos, regularidade alta. Dos brasileiros foi o que ficou menos tempo atrás no placar. Mas foi L único eliminado (a Chapecoense só foi eliminada por problemas extra campo).
2- Olhem a forma como Fla jogou as finais do estadual e comparem com atuação diante do San Lorenzo. A diferença é gritante.
3- O time entrou em campo com medo de perder e não com vontade de ganhar. Usam essa frase quando o treinador arma o time na retranca. Mas o uso correto dela não está no esquema do treinador mas nas emoções dos atletas, e as emoções influenciam diretamente no comportamento,
4- O perfil comportamental dos atletas é sereno. Uma boa equipe, que funciona, precisa de atletas com diferentes perfis. Ai está o erro ao não contratar o Felipe Mello, que fatalmente tem perfil energético. Acharam que o perfil dele seria ruim para o elenco, mas era o oposto: falta um energético no Fla. Atenção: perfil energético não tem nada a ver com ser desagregador.
5- O perfil comportamental do grupo não condiz com o DNA do rubro negro. Preferimos Nélio a Mancuello, por exemplo. Nós somos vibrante e nosso time é sereno, nossos atletas são serenos.


Eu aposto no Flamengo campeão Brasileiro, pela regularidade, mas terá problemas em jogos decisivos contra concorrentes diretos caso as coisas não mudem.

Rodrigo da Cunha


O comentário do leitor (post anterior: Atlético-PR 1 x 1 Flamengo)
Carlos Rabelo da Cunha

O que mais incomoda atualmente é a passividade desse time. Eles disfarçam com o mesmo discursinho ensaiado após os jogos mas a verdadeira impressão que fica é que esses “jogadores”não estão nem aí pra perderem pontos ou partidas de modo bisonho após falhas ridículas. Ou seja, não sabem o que significa vestir o MANTO RUBRO NEGRO!


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Você é mais um torcedor atormentado? Claro que sempre alguns outros pontos ficarão de fora do post. E é aí que eu conto com você também. O que você mais te incomodou no jogo entre Flamengo e Atlético-PR, mesmo com os três pontos na conta? Escreva no campo de comentários abaixo. Vou escolher a melhor resenha, que será publicada no próximo post!

SRN

Imagem destacada nas redes sociais: Gilvan de Souza/Flamengo

 
Diogo Almeida é um boleiro que aprendeu a falar difícil. Escreve no Cultura RN quando consegue colocar as ideias no lugar. Siga-o no Twitter: @DidaZico.
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