Foi mais um ano de grandes expectativas e decepções nas mesmas medida e quantidade. 2018 vai se aproximando do seu fim e só o que temos para comemorar é justamente o fato de ele estar acabando.
Tem algumas coisas desse período do ano que eu detesto. Dentre elas destaco o especial do Roberto Carlos, panetone, amigo oculto e as insuportáveis retrospectivas. Por isso mesmo é que vou poupar vocês de um balanço do ano para o Flamengo. Vocês sabem muito bem como foi. Duvido que precisem de um balanço ou qualquer outra coisa do tipo que os faça lembrar mais ainda do quão decepcionante ele se revelou.
Sem retrospectivas, talvez o melhor seja fazer umas projeções para 2019, certo? Não. Também não vou fazê-los perder tempo com achismos, os quais sequer serão lembrados daqui a uma semana. No máximo irei expor alguns desejos, que provavelmente são os mesmos que vocês têm. Para início de conversa, desejo que o Flamengo em 2019 seja o Flamengo que poderia ter sido em 2018. E para isso acontecer é preciso haver uma mudança séria na forma como se gerencia pessoas dentro do clube. E com isso chegamos ao único assunto ainda pendente neste ano: a eleição no próximo sábado.
Devo confessar que não tenho uma opinião formada sobre qual candidato/chapa é melhor. Não vivo o dia a dia do Flamengo, embora quisesse muito. Não conheço nenhum dos envolvidos na corrida presidencial mais de perto. Tudo o que sei deles e dos demais integrantes das chapas é o que vejo nas matérias dos jornais e nas publicações feitas por colegas aqui mesmo do MRN e de outros sites. Numa análise bem genérica, o que vejo é um clube que chegou a um patamar em termos estruturais, financeiros e administrativos do qual não pode mais recuar. O eleito no próximo pleito, seja lá quem for, terá no mínimo que manter o que a gestão atual conseguiu realizar. As mudanças que de fato têm que ocorrer são aquelas que irão contribuir para que os títulos finalmente venham. O escolhido não terá direito a contar com a paciência que o Bandeira pediu logo assim que assumiu, por exemplo. Esse benefício está descartado. O próximo presidente está desde já obrigado a entregar títulos.
Uma questão comum aos dois principais candidatos e que tem tudo a ver com isso de que estamos falando aqui é essa em torno do nome do futuro técnico. Com a recusa do Renato, Abel parece ter voltado a ser o favorito de ambos. Eu não o acho grande coisa. Mas reconheço que se trata de um treinador muito habilidoso para criar um bom ambiente no vestiário e fazer jogadores medianos ou desacreditados renderem mais do que o normal apenas por conseguir mexer com seu lado emocional. E aí somos forçados a encarar mais uma realidade do nosso futebol, o qual ainda é refém dessa figura do “papaizão”, do técnico paternalista em vez de estrategista, do cara que promove nada de novo ou mesmo de atraente na forma de um time jogar, mas que ainda assim consegue uma ou outra coisa relevante por ser querido pelos jogadores, por falar a língua deles, como se diz por aí. É só mais um dos muitos aspectos que impedem que o nosso futebol saia de vez do século XX, mas que, internamente, ainda trazem alguns resultados.
Pessoalmente, adoraria que o Flamengo não mais tivesse que recorrer a esse tipo de treinador. Queria muito ver meu time ser comandado por alguém com capacidade, competência e talento para fazê-lo jogar futebol de maneira competitiva, dinâmica e ao mesmo tempo agradável de se assistir. Porém tem tanta coisa que precisa acontecer para que algo assim seja viável, e boa parte delas sequer depende da gente, como a construção de um calendário decente, ter à disposição jogadores com a chamada inteligência do jogo, algo cada dia mais raro por aqui, que fica mesmo muito difícil não recorrer a velhos nomes e fórmulas visando única e exclusivamente ao resultado. É uma realidade que se impõe num futebol que em geral cobra um preço muito alto daqueles que tentam fugir dela. E isso é algo que os próximos dirigentes deverão ter em mente na hora de se decidirem por Abel, Dorival ou qualquer outro.
Fabiano Torres, o Tatu, é nascido e criado em Paracambi, onde deu os primeiros passos rumo ao rubronegrismo que o acompanha desde então. É professor de idiomas há mais de 25 anos e já esteve à frente de vários projetos de futebol na Internet, TV e rádio, como a série de documentários Energia das Torcidas, de 2010, o Canal dos Fominhas e o programa Torcedor Esporte Clube, na Rádio UOL. Também escreve no blog Happy Hour da Depressão.
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