Na noite da desconfiança, Flamengo bate o Talleres e ganha alguns dias de paz
As arquibancadas do Maracanã mandaram seu recado, tanto no silêncio dos que não foram, quanto no barulho dos que foram. Depois de tantos tropeços em Supercopas, Fla x Flus, quase sempre com atuações confusas, os pouco mais de 40 mil presentes no estádio com capacidade para quase 70 mil foram o primeiro recado de que o Flamengo não tem 100% da confiança da Nação.
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Dos presentes, a desconfiança veio à tona na vaia ao nome de Paulo Sousa antes do início e no famoso “queremos raça” momentos antes do pontapé inicial. Por tudo isso, vencer era obrigatório. Vencer jogando bem era desejável. Vencer goleando e sem tomar gol era o sonho.
Pode-se dizer que o Flamengo cumpriu a obrigação, saciou o desejo em alguns momentos, mas não fez a torcida sonhar. O 3 x 1 sobre o Talleres, pela segunda rodada do Grupo H da Copa Libertadores da América, nesta terça-feira (12), no Maracanã, foi bem vindo, mas protocolar. Com o resultado, o Rubro-Negro se isolou na liderança, com 6 pontos em dois jogos.
Primeiro tempo de mobilidade e o inescapável susto no fim
Com o recado dado, os jogadores foram à luta. Paulo Sousa estreou Santos por mais segurança no gol. Na zaga, Matheusinho, Arão, David Luiz e Filipe Luis. No meio, João Gomes e Thiago Maia mordiam sem parar. Na frente, nostalgia com o quarteto de tantas alegrias. Everton Ribeiro na direita, Arrasca mais à esquerda, Gabigol e Bruno Henrique. Todos rodando intensamente e deixando os zagueiros do Talleres tontos.
Foi assim que saiu o primeiro gol. Arrascaeta tabelou com Gabigol, rompeu a área e foi derrubado. Pênalti. Gabigol, como quase sempre, bateu com perfeição e colocou o Flamengo na frente. Foi assim também que saiu o segundo gol. David Luiz esticou a bola para Arrascaeta, que tocou na frente para Bruno Henrique, que correu, correu, correu e tocou no meio. Everton Ribeiro veio no embaloe bateu no canto. Tudo lindo, com aquele odor de 2019. Festa na favela.
Mas ai, a realidade de 2022 bateu à porta. Uma das marcas registradas do time atual do Flamengo é a defesa espaçada, lenta e insegura. Na única chegada do Talleres ao ataque, os defeitos apresentados nos gols sofridos nos últimos jogos reapareceram um a um. Adversário recebendo livre no meio, sem um volante por perto. Bola lançada à frente, no um contra um entre atacante e zagueiro do Flamengo, dessa vez Arão. Toque para trás e o adversário completamente livre dentro da área para finalizar. João Gomes, Thiago Maia, Filipe Luis, David Luiz, Arão e Rodinei, todos com culpa no cartório. Os reforços precisam entrar em campo com urgência. Fomos para o intervalo com um 2 x 1 incômodo.
Segundo tempo de mais controle, mas muita afobação
A etapa final iniciou como uma encruzilhada de filme de samurai. O Flamengo poderia escolher o caminho tranquilo ou o caminho do caos e do sofrimento. Para a saúde cardiovascular dos torcedores, o time escolheu o caminho da tranquilidade. Logo aos 13 minutos, Bruno Henrique encontrou o onipresente Everton Ribeiro infiltrando pela esquerda e rolou para o camisa 7 fazer o terceiro gol.
A partir dai, o Talleres começou a achar que a viagem ao Rio já tinha valido a pena. Os torcedores foram à praia. Cantaram, beberam, fizeram a festa. Não seria uma derrota de 3 x 1 que ia estragar o passeio. O plano passou a ser evitar a goleada humilhante. Com isso, o jogo se acalmou. O Flamengo diminuiu o ritmo e começou a trocar peças. Mesmo assim, Paulo Sousa ainda conseguiu dar uma irritada na torcida. Ainda no primeiro tempo, colocou o inexplicável Rodinei no lugar do contundido Matheusinho. Depois do terceiro gol, entraram Andreas Pereira no lugar de Thiago Maia e o inescapável Leo Pereira no lugar de Filipe Luis. Um vento frio percorreu o Maracanã. Haveria tempo para o desastre? Não houve.
Para terminar, entraram Pedro no lugar do Gabigol e Marinho no lugar do Bruno Henrique. O Queixada é aquele cara que todo mundo conhece na pelada. Bom de bola, mas só quer fazer golaço. Então, perde um caminhão de chances. E sobre o Marinho, o que dizer? Ex-estrela do Santos, no Flamengo o atacante canhoto é um peixe fora d’água (com perdão do trocadilho). Longe da área e precisando correr atrás de lateral adversário, Marinho sofre a olhos vistos. Não deu um chute a gol.
Há caminhos, mas há perigos também
Paulo Sousa ganhou alguns dias de paz. Vencer sempre é bom e acalma. A movimentação dos quatro homens da frente é um alento de que há caminhos para o Flamengo de 2022 ser um time competitivo. Poucas equipes tem quatro caras com faro de gol como Arrascaeta, Everton, Gabigol e BH. Por outro lado, do meio para trás, ainda há muito a ser feito. Há espaços, há lentidão e há desacerto no posicionamento. Os ajustes serão feitos com o trem rubro-negro em movimento. Resta à Nação torcer que o comboio não descarrilhe.