MRN explica: por que oferta do Mubadala é mau negócio pro Flamengo
O Flamengo vem fazendo concessões para garantir a manutenção da Libra, uma tentativa de formação de Liga no futebol brasileiro. Entretanto, nos últimos dias, com a saída de Cruzeiro, Vasco e Botafogo, o novo grupo deu mais um passo para não se tornar uma verdadeira liga e sim apenas um bloco para venda de direitos comerciais.
Apesar disso, o fundo árabe Mubadala manteve a proposta bilionária para comprar os direitos sobre 12,5% das receitas comerciais do Campeonato Brasileiro pelos próximos 50 anos. O fundo colocou apenas uma exigência para fechar o negócio: que o Flamengo e os três grandes paulistas assinem.
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O MRN lista os motivos de por que o negócio nesse formato não seria interessante para o Flamengo:
1. A organização do Campeonato Brasileiro continuaria na mão da CBF
O principal motivo para a formação da Libra era a criação de uma verdadeira Liga no futebol brasileiro que passasse a organizar o Campeonato Brasileiro, como acontece na maioria dos países. A debandada de clubes e a falta de acordo com a concorrente Forte na prática impede a criação desta Liga. Desta forma, a organização do Brasileiro seguiria na mão da CBF.
Com a questão financeira resolvida com o acordo com o Mubadala, os clubes perderiam a motivação para continuar negociando a formação de uma verdadeira Liga. A Libra nada mais seria que uma versão moderna do Clube dos 13, que chegou a organizar um Campeonato Brasileiro, em 1987, mas depois acabou se tornando apenas um grupo que negociava contratos de TV até acabar em 2011.
2. O Flamengo tem outros meios de receber esse dinheiro; os rivais não
A proposta do Mubadala prevê que o Flamengo receberia a maior quantia do investimento do Mubadala: cerca de R$ 158 milhões à vista. O valor do dinheiro no futebol, porém, não é absoluto; a injeção maciça de dinheiro em clubes que hoje não tem outra maneira de se capitalizar inflacionaria o mercado e diminuiria o valor do montante recebido pelo Flamengo.
Supondo que o Flamengo de fato precisasse com urgência de R$ 158 milhões – por exemplo, para comprar reforços na janela que abre no próximo mês – o clube, ao contrário da maioria de rivais, tem capacidade de obter empréstimos bancários em condições favoráveis. No início deste ano, o clube zerou sua dívida bancária. A solidez financeira permitiria conseguir empréstimos em boas condições, sem abrir mão de direitos futuros.
3. Flamengo abre mão de receitas futuras em troca de muito pouco
Embora R$ 158 milhões à vista pareçam muito dinheiro, a longo ou mesmo médio prazo o Flamengo perderia muito dinheiro com o acerto. Isso porque um estudo da própria Libra projeta o potencial para que o Flamengo tenha receitas anuais de R$ 400 milhões com o Campeonato Brasileiro.
Desta forma, 12,5% desta receita representariam R$ 50 milhões por ano. Ou seja, o Flamengo arrecadaria por conta própria em menos de 4 anos os R$ 158 milhões oferecidos pelo Mubadala. Isso significa que o fundo árabe passaria mais de 45 anos recebendo lucros em cima de um oitavo das receitas do Flamengo em troca de um pequeno adiantamento.
4. Clube cria precedente para reduzir vantagem financeira sobre rivais
O Flamengo aceitou reduzir a diferença da quantia que recebe para aquela que os adversários receberão em relação aos atuais contratos de TV. Embora questionável, a estratégia até fazia algum sentido se a contrapartida fosse a criação de uma Liga que permitisse o aumento do bolo para todos.
Entretanto, um simples bloco comercial que mantenha o Campeonato Brasileiro na mão da CBF não justifica que o Flamengo estabeleça o precendente de reduzir voluntariamente suas receitas apenas para garantir o aporte do fundo. Até porque o Mubadala já deixou claro que só está interessado no Flamengo e no trio paulista e está pagando ao resto para garantir essas adesões. Neste cenário, seria melhor o Flamengo fechar um acordo direto com o fundo – ou as TVs.
5. Flamengo perde ativo para negociar possível SAF
Embora garanta não ter planos imediatos para virar SAF, é fato que o Flamengo está se movimentando neste sentido. É provável que em algum momento dos próximos anos o clube decida criar uma SAF, mesmo que mantendo a maior parte do controle sobre o futebol.
Neste cenário, o comprometimento de um oitavo das maiores receitas do clube, que são os direitos comerciais do Campeonato Brasileiro, por cinco décadas, certamente diminuiria o valor que o Flamengo conseguiria obter na negociação com um investidor em uma possível SAF.